quarta-feira, 23 de fevereiro de 2022


 

 

SORRISO ZODIACAL I – 22 FEV 22

(CELESTE HOLM, atriz da "Época de Ouro")

 

Em teu sorriso luz estelar se agita:

como as estrelas, sempre impermanente,

após a noite, a abóbada descendente

cai no horizonte, igual pano de chita.

 

O teu sorriso o sonho meu concita:

busco retê-lo contra o sol nascente,

mas de manhã já não parece estar presente,

perdeu fulgor essa alma que ele habita.

 

Igual que estrelas perante o Sol maldoso,

talvez do exílio da noite rancoroso,

o teu sorriso me trai certa amargura.

 

O meu próprio sorriso, tão pequeno,

em vão te induz a um despertar ameno,

por mais que tente te mesclar doçura.

 

SORRISO ZODIACAL II

 

Não que procure ver nada angelical

no teu sorriso quando a noite desce;

bem ao contrário, percebo que me aquece

e me conduz a um esplendor carnal.

 

O teu sorriso é bem mais que material:

não é a centelha dessa estrela que padece,

nessa distância que não cruza qualquer prece,

sorriso alheio, não mais que sideral.

 

Porém o teu sorriso é o meu fanal,

em torno dele me transformo em mariposa,

sem temor de que se torne o meu final.

 

Mas como os astros, tem o seu piscar,

um tanto amante, um outro tanto esposa,

na intermitência em que me vou enovelar.

 

SORRISO ZODIACAL III

 

Não esperes que compare o teu sorriso

com qualquer expressão mais corriqueira:

o que me chega à mente, desde a beira,

são as metáforas de meu próprio siso.

 

O teu sorriso tem algo agreste e liso,

dominação na sua expressão inteira,

condescendência, ao se arquear ligeira

a tua boca, com seu hálito de aviso.

 

Porque logo se apaga de manhã,

o teu sorriso igual que lua cheia,

cada três quartos do mês se faz ausente;

 

na lua nova o teu sorriso qual maçã,

só em contorno ao redor se delineia:

minha própria sombra se faz ali presente...

 

SORRISO ZODIACAL IV

 

Ai, teu sorriso!   Como o posso descrever?

Consigo apenas declarar que o amo,

nesses escassos momentos de recamo,

contra a saliva, meu rosto a se esbater.

 

Cada manhã, um sorriso a se perder,

a cada noite, já um novo te reclamo:

o sorriso de teu nome, quando o chamo,

que nele inteiro possa me esquecer...

 

O teu sorriso, saboroso e zodiacal,

que astrológico incita o meu presente,

mas sempre incerto no seu ascendente.

 

Mais do que horóscopo, eu o leio, triunfal,

pois teu sorriso nenhum mago o descreveu,

mas quando surge, é inteiramente meu!

 

GLÓRIA TERRENAL I – 23 FEV 22

 

“Os céus declaram a glória de Deus

e o firmamento anuncia a obra de Suas Mãos”,

disse o salmista há tantas gerações,

nos velhos tempos do reino dos Hebreus.

 

Talvez já nesse período os Saduceus,

que não acreditavam em ressurreições,

pensassem antes nas próprias intenções

e se esforçassem tão só por lucros seus.

 

Já os Fariseus, que nelas acreditavam,

só pela letra da Lei as procuravam,

sem qualquer crença na graça ou na bondade.

 

E desse modo, uns e outros mais buscavam

sua própria honra e sua trivialidade,

em desespero, mais que por vaidade.

 

GLÓRIA TERRENAL II

 

Em grande parte, a glória que buscavam

não era em absoluto a luz divina,

mas qualquer luz visível que os fascina,

que para eles só brilhar consideravam.

 

Os céus assim aos homens declaravam

cada tendência que sua própria vida inclina;

para os Judeus, qual pecado se destina,

sem sentir culpa, os demais povos os louvavam.

 

Eram outros tantos deuses que temiam

e aos quais ofereciam holocaustos,

de que os deuses, em poderosos haustos,

 

respiravam o “suave cheiro” e o apreciariam;

mesmo na Bíblia se repete esta expressão,

tal qual se Jeová apreciasse essa ilusão!

 

GLÓRIA TERRENAL III

 

Mas quando sacrifícios se enviavam,

era uma forma de aos deuses dominar:

os céus declaram o quanto podem desejar

e suas volúpias distantes se acalmavam.

 

Em seu primevo entender os enganavam

e assim os céus poderiam controlar.

(Mesmo Abraão julgou poder argumentar

com Jeová e os dois que O acompanhavam!)

 

Assim a glória terrena prosseguia,

ficando os deuses só a cochilar,

os seus pulmões satisfeitos da fumaça.

 

E a negociata diariamente se fazia,

a Terra dos homens a glória a declarar,

julgando assim se afastar toda a desgraça.

 

GLÓRIA TERRENAL IV

 

Foli desse modo que surgiu a astrologia:

os céus dos homens a declarar a glória,

o seu destino, suas tristezas ou vitória,

consoante a hora e a data em que nascia.

 

Cada figura do Zodíaco mostraria

o seu futuro já em registrada história,

nos decanatos dominada e merencória

e nem um deus transformá-la poderia!

 

O firmamento à sua obra o prenderia;

assim a glória humana manifesta!

(Sendo um Deus Único mais fácil dominar!)

 

Ainda mais que a Sua Lei já nos dizia,

enquanto à multidão que os céus empesta

era preciso diariamente propiciar!...

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