A FADA DO RIO XXI
Foi devagar e olhou pela janela.
Lindas mulheres na sala festejavam:
alegremente jogavam e brincavam,
à exceção, tão só, de uma donzela,
que num canto se assentava, entristecida...
E pressentiu então, num arrepio,
que todas eram as rusalki desse rio,
que tinham vindo lhe roubar a vida!...
Mas uma delas em corvo transformou-se
e saiu a perseguir, bem velozmente,
as outras jovens, a brincar alegremente...
Levko recuou, temendo mais expor-se...
Só foi notado pela jovem mais tristonha,
que se ergueu furtivamente de onde estava,
abriu a porta e do rapaz se aproximava,
e ao contemplá-lo, ficou toda risonha...
Subitamente, Levko dela se lembrou.
"Era Rusalka! De que modo a esquecera?
Porém agora... a Ana se prendera!
O que farei?" A si mesmo
perguntou.
A jovem abraçou e quis beijá-la,
mas ela bem depressa se afastou:
"Não, meu querido, seu coração mudou;
minha irmã o ama e não irei magoá-la!..."
A FADA DO RIO XXII
"Eu quero apenas a sua felicidade
e não me venha mais falar de amor.
Isso eu lhe peço como um último favor.
Seu coração é bem volúvel, na verdade...
Esta é a última vez que me verá,
porém de longe, eu sempre vigiarei
e fique certo de que o castigarei,
se minha Ana alguma vez se magoará..."
"Só vim aqui para dar-lhe um pergaminho,
que de meu pai irá mudar o pensamento.
Ele então consentirá no casamento,
portanto, trate minha mana com carinho!"
Pôs uma carta lacrada na sua mão,
voltou até a sala e assobiou...
No mesmo instante, o festejar cessou
e se apagaram as luzes do salão!...
Então Levko sobre a praia despertou,
as ideias já fugindo de sua mente,
pois tudo fora um sonho, certamente...
Para o moinho então se encaminhou
e percebeu em sua mão o pergaminho!...
Estava a Vássia claramente endereçado...
Vazio o moinho e tudo organizado,
cada objeto guardado em seu cantinho...
A FADA DO RIO XXIII
No outro dia, levantou-se bem cedinho:
era domingo e não trabalharia...
A carta sobre a mesa o atraía
e foi depressa entregar o pergaminho.
Com má vontade, Vássia o recebeu,
abriu a carta e arregalou os olhos!...
Então alisou lentamente seus refolhos...
O que dizia Levko nunca conheceu...
Mas Vássia o encarou, bem diferente
e declarou no casamento consentir,
com uma condição. "Não vou permitir
que Ana more no moinho, novamente!...
Serás, portanto, o meu superintendente.
Ana de todos os meus bens é a herdeira:
quando chegar minha hora derradeira,
terás de tudo a posse permanente.
E foi assim. Levko e Ana se casaram
e um ao outro amaram ternamente,
com um carinho constante e permanente
e a Vássia com seis netos alegraram...
Porém Rusalka continuou em solidão,
penteando seus cabelos sobre um galho
forte e robusto de um velho carvalho,
sem esquecer quem lhe partira o coração...
EPÍLOGO
Mas certa feita, conta ainda esta canção,
cumprido o tempo de sua vida natural,
ergueu o olhar ao céu, numa estival
noite bem clara, já no meio do verão...
E viu descer longo raio de luar,
até formar-se diante dela uma donzela,
que lhe estendeu a mão: "Vem cá, minha bela!
Eu sou a Lua e vim hoje te buscar!...
Nenhum comentário:
Postar um comentário