segunda-feira, 2 de outubro de 2023


 

 

AREIAS SEM RIMA I -17 SET 23

(Agnes Moorhead, atriz do cinema mudo)

 

existe algum antídoto para o amor?

alguma bruxa talvez me respondesse

ou feiticeira me explic ar pudesse

como amornar um tão forte calor.

existe algum antídoto para o ardor?

que o coração aos poucos esvaziasse

e para outro favor se deslocasse,

sem se prender inteiramente em tal favor.

outro dia escutei, em minha surpresa

que amor representa apenas sofrimento,

todo o prazer reencarnado num lamento,

para nós só garantida uma certeza,

que todo o amor acaba por morrer,

de um modo ou outro a enfim se desfazer.

 

AREIAS SEM RIMA II

 

alle Menschen Brüder werden,

escreveu Schiller, o poeta alemão,

o ideal romântico no seu coração,

 poucos aqueles que enfim tal  ideal herdem,

surgem as guerras, em que tantos há que perdem,

somente alguns lucrando na ocasião,

cada soldado matando o seu irmão,

tais ideais de humanidade fácil lerdem...

pode existir o verdadeiro amor

que irmane inteiramente a humanidade,

sem que seja estraçalhado em ambição?

como é difícil engajar-se nesse ardor,

dando a qualquer que vejamos, em verdade,

alguns retalhos de nosso coração!

 

AREIAS SEM RIMA III

 

pobre Beethoven, como se desapontou

com seu modelo romântico, o corso Napoleão,

o assassino de milhões, mau capitão,

que a seus próprios seguidores não poupou;

qual verdadeiro general não se tornou,

venceu batalhas por sangue e por canhão,

mas seus soldados inteiro o coração

lhe entregaram, até que a morte os dispersou;

este ideal de liberdade, em romantismo,

nunca encontrou um real correspondente:

os homens lutam por entrega unicamente

a um herói qualquer em seu cinismo,

abrindo mão da inteira liberdade

só pelo ideal de massacrar a humanidade!

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