NASREDDIN
E A NOIVA I – 17 JUL 2022
(ISABELLE ADJANI, CINEMA FRANCÊS)
Depois
que Nasreddin trouxe o tesouro
foi
adquirida uma casa bem melhor
e
até sua mãe comprou jóias de ouro;
seu
pai não precisou mais ser lenhador,
mas
necessário foi um longo tratamento;
ficou
quase nada para o pobre Nasreddin,
só
meia dúzia de moedas recebeu no fim
e
então partiu, a esperar melhor momento.
Pois
foi morar na casinha abandonada,
que
fora por seus pais posta de lado,
a
antiga horta por ervas ruins tomada,
mas
seu dinheiro foi empregando com cuidado,
com
que comprou duas dúzias de ovelhinhas,
passando
os dias como o seu pastor,
sem
intenção de ser de novo um lenhador,
nem
as ovelhas querer deixar sozinhas!...
Já
dele os pais para nada precisavam,
contratado
haviam muitas empregadas,
sem
perceber que em algum dia terminavam
essas
moedas ao ogro retiradas;
mas
não era esse seu problema realmente:
foi
reformando a casa pequeninha,
desse
pequeno rebanho que ora tinha
a
lã esquilava, em paz inteiramente.
Sempre
ocupava a falda da montanha,
para
às ovelhas garantir pastagem;
o
povo ainda tinha em mente a sanha
daquele
ogro, por ali a evitar passagem;
e
assim se passaram alguns anos,
até
tornar-se plenamente adulto,
de
algum amor a nutrir desejo oculto,
que
com carinho atendesse a seus reclamos.
Certo
dia, um caniço transformou
em
uma flauta e começou a soprar;
as
suas ovelhas em nada perturbou,
porém
alguém acudiu ao seu tocar:
“Que
está tocando hoje, meu pastor?”
Nasreddin
se interrompeu no mesmo instante,
jamais
mulher mais bela vira adiante,
parou
o toque, meio tomado de estupor...
NASREDDIN
E A NOIVA II – 18 JUL 2022
Ficou
a jovem a se rir alegremente:
“Não
pare agora, quero escutar mais!”
Nasreddin
se levantou, ingenuamente,
tirou
o gorro que usava e que jamais
tirar
costumava, quase a flauta a derrubar:
“Minha
senhora,” – disse ele em confusão,
“Eu
só tocava a mais simples canção,
é
só improviso, tenho muito que treinar...”
“Pois
para mim pareceu muito bonito...”
depressa
Nazreddin se recobrou:
“Vendo
a senhora, fiquei até aflito,
não
percebi que estava a me escutar;
se
alguma coisa por aqui é bonita
é
a senhora, a mais linda mulher!
Nenhuma
outra parecida vi sequer!”
“Ora,
pastor, vê se deixa dessa fita!...”
“Sente
de novo e volte a improvisar!”
“Mas
a senhora está parada em pé,
de
jeito algum me poderei sentar...”
“Vamos
lá, ponha de lado o rapapé,
não
quero mesmo me sentar no chão,
vou
encher de rosetas o meu vestido!”
“Sente
em minha pedra, fico agradecido...”
“Não
sei porque me pede tanta rogação!”
“Não,
senhora, eu vou tocar para a senhora,
deixe
que eu mesmo me vá sentar no chão!”
“Parece
até que quer que eu vá embora!
Não
sou senhora, pare com tanta enrolação,
sou
donzela solteira e de muito respeito!...”
“Sim,
minha senhora, digo, senhorita,
vou
procurar tocar melodia bem bonita,
tal
e qual a senhorita tem direito!...”
Nasreddin
estendeu a mão para a ajudar,
porém
a jovem sua saia arregaçou,
em
movimento grácil, depois indo sentar:
“Não
sei por que você se atrapalhou!
Se
quer saber, eu me chamo Zalina
e
você, pastor, por acaso tem um nome?
Ou
aqui sozinho passa tanta fome,
que
com seu nome nem sequer atina?”
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