NASREDDIN
E A NOIVA III – 19 JUL 2022
“Meu
nome é Nasreddin, senhora,
senhorita,
quer dizer... Eu sou Zalina,
Senhor
Nasreddin, que tocava noutra hora,
em
seu namoro com as ovelhas cá de cima...”
A
essa altura, Nasreddin, meio vermelho,
acocorou-se,
atrapalhado, no capim,
mas
logo começou a tocar e assim
prendeu
Zalina a sua língua de relho!...
De
fato, sentiu-se até inspirado,
tocou
depressa uma linda melodia,
Zalina
muito atenta do seu lado:
“Nunca
ouvi essa canção. Você as cria?”
“Bem,
Dona Zalina, sua beleza é que criou,
eu
nunca a havia tocado anteriormente,
mas
não lhe posso dar qualquer presente,
salvo
este som que em meus lábios inspirou!”
Por
uma vez, Zalina não o contestou.
Seu
costume era a tudo retorquir,
seu
próprio pai ela sempre contrariou,
porém
agora, de fato, queria ouvir
e
assim Nasreddin seguiu tocando,
lembrou
algumas melodias do passado,
por
sua voz bela sendo acompanhado
e
sem sentir, o tempo foi passando...
“Agora
é tarde, tenho de ir embora...”
“Senhora
Zalina, vai voltar em outro dia?”
“Ah,
não sei, vou decidir na hora;
não
me acompanhe, conheço bem a via.”
E
Nasreddin ficou apenas contemplando,
enquanto
o vulto dela diminuía,
sem
tocar mais, que já a boca lhe doía:
Mas
o que está comigo se passando?
No
outro dia, Zalina não voltou,
Nasreddin
ficou bem desapontado,
em
seu bornal até a flauta guardou
e
foi reunir cabras e ovelhas com cuidado.
Tampouco
no outro dia ela chegou,
o
pastor nela não parava de pensar,
mas
nem sabia por onde a procurar
e
simplesmente de saudades suspirou!
NASREDDIN
E A NOIVA IV – 20 JUL 2022
No
quarto dia, quando já não esperava,
ela
chegou, inesperadamente;
algumas
cabras mesmo ela espantava,
mas
Nasreddin tocava apenas, tristemente.
Só
percebeu que ela havia retornado,
quando
os olhos tapou-lhe, de repente:
“Nasreddin,
ainda bem que eu sou gente!
Se
fosse ursa, já o teria devorado!...
Nasreddin
de um pulo então se ergueu,
mas
ela o desafiou brejeiramente:
“Que
bom que seu lugar já me cedeu!
Agora
toque, ou sua boca está dormente?”
Nasreddin
era bastante inteligente
e
uma resposta quase sempre tinha pronta,
mas
ao atrevimento de Zalina em tal afronta
foi
simplesmente obedecer passivamente.
Depois
de escutar algum tempo, ela falou:
“Pare
agora, Nasreddin, eu quero conversar.”
De
imediato, o rapaz com ela concordou
e
por sua vez pôs-se atento a escutar,
mas
ela lhe fazia perguntas sem parar,
queria
saber quem era o seu patrão...
“Zalina,
eu sou pastor por profissão,
mas
é só meu todo este gado do lugar.”
“E
você dorme com as ovelhas ao relento?”
“Claro
que não, de noite levo-as ao redil,
em
plena segurança ali lhes dou assento;
tenho
uma casinha pobre, um tanto vil,
mas
que eu mesmo reformei e nem o Emir
sabe
que apascento meu rebanho por aqui,
ninguém
mais por estas plagas percebi,
temem
um ogro do qual querem fugir!...”
“E
você desse tal ogro não tem medo?”
“Um
dia tive, mas depois disso o matei!
Só
não conte a ninguém, porque é segredo,
caso
descubram, pode vir gente da lei
para
cobrar impostos; ou chegar outro pastor,
com
a intenção de partilhar de minha pastagem!
Melhor
não saibam que eu tive essa coragem
de
enfrentar aquele monstro sem temor!”
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