NASREDDIN
E A NOIVA IX – 24 JUL 2022
(SIGOURNEY WEAVER)
Nasreddin
continuou com suas ovelhas,
cuidando
de suas feridas e de espinhos;
pastoreava
à noite para um redil com telhas,
meio
descrente de ter novos caminhos...
Se
aquele lobo se transformara em homem
e
já na linha do horizonte se afastara,
quem
sabe a mulher que o seu peito dominara
seria fruto de ilusões que seu amor consomem?
Contudo,
o cavaleiro era sincero
e
tão logo se aproximou de uma fazenda,
reconheceu-a
como seu destino vero,
mudou
de forma e penetrou na senda,
que
na verdade, tal lugar bem conhecia:
corria
o boato que a mulher mais bela
de
toda essa região era a mesma donzela
que
com Nasreddin conversava no outro dia!
E
assim foi avançando ousadamente
para
a fazenda do pai de Zalina,
que
se chama Zalinski, certamente,
de
quem ouvira muita história fina;
dizia
o pai que só daria em casamento
sua
bela filha a um homem inteligente,
que
o demonstrasse com razão potente,
conseguindo
enganá-lo em um momento!
Tal
fazendeiro era bastante orgulhoso
de
suas ideias e sua cultura, com razão;
já
muito jovem chegara esperançoso,
que
de sua filha lhe concedesse a mão,
mas
após travarem breve conversação,
Zalinski
com firmeza os despedia:
“Minha
filha facilmente o enganaria,
até
a mim vence com sua erudição!...”
“Se
não consegue enganar sequer a mim,
será
um fantoche nas mãos de minha Zalina,
que
em discussões sempre me ganha assim...
Não,
meu amigo, vá buscar outra menina!”
E
como tinha muitos empregados,
alguns
deles a servir de guarda-costas,
as
visitas não se sentiam predispostas
a
enfrentar tantos homens bem armados!
NASREDDIN
E A NOIVA X – 25 JUL 2022
Sempre
Zalina alegremente concordava:
“Eu
não quero saber desse enxerido!”
Se
três palavras com qualquer deles trocava,
que
não lhe servia era de imediato percebido.
Há
alguns dias alguma coisa diferente
se
passava com ela, mas nada revelava,
suas
visitas ao pastor não mencionava,
decidida
a não revê-lo novamente!
O
cavaleiro alegou que sua montada
perdera
no caminho ferradura
e
que por isso ele encetara a caminhada,
quebrada
a perna do animal por desventura...
Fora
forçado a terminar seu sofrimento,
mas
tinha outro de reserva lá na aldeia,
porém
da tarde já se passara meia,
para
essa noite vinha pedir-lhe alojamento.
Logo
Zalinski mandou uma ovelha carnear
e
um lauto jantar lhe ofereceu
e
quando estavam os dois a conversar,
o
cavaleiro naturalmente respondeu:
“Meu
nome é Vladek e sou dono de um castelo
nas
colinas da Sérvia, estou a passeio,
de
salteadores não tenho receio,
só
não afronto do Emir o seu desvelo...”
“Mas
lá na Sérvia somos independentes!”
“Infelizmente,
por aqui não é assim...”
Disse
Zalinski, resmungando entre dentes,
“Mas
as minhas terras não tirarão de mim!”
“Pois
lhe garanto a minha gratidão:
se
for preciso, mande-me um aviso,
que
o ajudarei em quanto for preciso,
mas
de um bom genro não teria precisão?”
“Senhor
Vladek, desculpe-me dizer:
minha
filha tem muitos pretendentes,
porém
nenhum ainda a pôde satisfazer,
nem
mesmo os mais nobres e valentes!”
Vladek
soltou então ruidosa gargalhada:
“O
senhor pensa que lhe vim pedir sua mão?
Não,
senhor Zalinski, mas faria indicação
de
uma pessoa que talvez seja indicada!”
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