quinta-feira, 20 de outubro de 2022


 

 

Nereczinka 11 – 19 fev 2022

 

Ora, o caldeirão possuía um encantamento

e quando Nereczinka, em seu fatal momento

enfiou as mãos na água quase em ebulição,

sentira subir-lhe pelos braços a magia,

que no instante como dor só percebia,

as maçãs a recobrar com devoção!

Logo depois, quando rápido corria

para o castelo e as maçãs trazia,

nem teve tempo de olhar a queimadura,

mas quando a pôde ver com mais vagar,

viu com surpresa que já estava a se curar

e ainda mantinha permanente a nova altura!

 

Então sentia-se ao fogo invulnerável,

puxou a espada com fúria incansável:

junto com ele crescera sua espadinha

e enfrentou a fera com coragem,

as suas chamas a soltar numa voragem:

só teve medo que se queimasse a princesinha!

Mas Nereczinka sabia bem lutar,

indo, uma a uma, dos pescoços decepar

as nove ferozes cabeças do dragão,

até que o fogo inteiro se extinguiu,

quando a última cabeça aos pés caiu,

mas nem pensou em si mesmo, na ocasião!

 

Só quis saber como estava a sua princesa

e com a magia, completa em sua estranheza,

viu que as correntes se haviam derretido,

mas que Duylina não sofrera o menor dano!

Os dois se uniram num abraço soberano,

tão aliviados do temor antes sofrido!

Nereczinha pediu um lenço à sua princesa

e de cada cabeça, com a maior presteza,

foi cortando as nove línguas asquerosas

e as guardando no lenço perfumado...

Logo a seguir, por achar-se tão cansado,

adormeceu entre quimeras deliciosas...

 

A princesa se dispôs dele a cuidar,

mas tendo fome, foi algumas frutas apanhar

e enquanto isso, apareceu outro rapaz,

membro da alta nobreza do lugar,

que o espetáculo só viera contemplar,

sem que lutar com o dragão fosse capaz!

Mas vendo o monstro já morto sobre o solo,

abriu um alforje que trazia a tiracolo

sobre a sela do cavalo que montava

 e uma a uma foi as cabeças apanhando,

dentro do alforje todas enfiando,

enquanto sua trapaça planejava!

 

Nereczinka 12 – 20 fev 20

 

Mas quando já a última cabeça recolhia,

viu Duylina, que para ali volvia

e os dois, com espanto, se encararam!

“Você está salva, princesa, matei o seu dragão!”

“De forma alguma, de meu herói foi essa ação!”

“Mas onde está ele?” Sem cuidado o procuraram.

“Princesa, venha montar no meu cavalo,

o seu “herói” já estar morto em algum valo!”

“Não, cavaleiro, ele só deve estar dormindo!...

“Mas onde está a sua montaria?

Decerto a pé é que ele a levaria,

mas é a cavalo que a irei conduzindo!...”

 

A princesa ainda estava atarantada

e se deixou ser na sela colocada...

O impostor prendeu o alforje na sela

e foi logo galopando bem depressa!...

“Vai dizer que eu a salvei, faça promessa!”

Uma adaga lhe encostou à garganta bela!...

“Se por acaso trair o meu segredo,

com o fio eu rasgarei seu rosto ledo

e nunca mais se animará a olhar ao espelho!

Vou afirmar que fui eu o matador,

que da cidade inteira fui eu o salvador!...”

Logo nas costas do cavalo tocou o relho!

 

A princesa, a temer por sua vaidade,

resolveu-se a calar até a cidade.

Quando estivesse segura com seu pai,

denunciaria de imediato ao impostor!

Mas até lá, movida de temor,

Nem um protesto de sua boca sai!...

Mas era esperto esse malvado cavaleiro

e assim asseverou-lhe, bem ligeiro:

“Eu já lhe disse que o seu herói morreu!

Em vasta bebedeira o encontrei:

 sem nem pensar, sua garganta degolei!...

E agora? De me trair se arrependeu?”

 

Era claro ser tudo uma mentira:

a Nereczinka o traidor nem sequer vira

e acreditou mesmo que morrera no combate,

mas Duylina ficou na maior desolação

e desistiu de qualquer acusação,

sem esperança, seu ânimo se abate!

Naturalmente, todos creram na mentira:

junto do lago a gente logo vira

que realmente o monstro havia morrido

e que lhe haviam decepado suas cabeças!

Então o rei assentiu, sem grandes pressas,

que a mão da filha daria ao tal bandido!

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