PARADIGMA DO SERRALHO I – 16 OUT
2022
(Jane Russell e Marilyn Monroe, em
"Os Homens Preferem as Louras")
Essas palavras que compõem o meu
harém
só se interessam por participar de
orgias,
se de uma só quiser provar as
vias,
das almofadas outras erguem-se
também.
Todas insistem em me abraçar,
porém
meu corpo é escasso para tais
valias,
elas me cobrem de beijos, qual
almotolias
a se esvaziar do azeite que
contêm.
Mas como este meu corpo é
limitado,
elas começam umas às outras
beijar,
não que pretendam assim me
desprezar,
porém se prendem umas às outras
num bailado
e enquanto algumas comigo amor
praticam,
mais numerosas são as que consigo
mesmas ficam...
PARADIGMA DO SERRALHO II
Há muito tempo no passado percebi
que meu contato com a etimologia
novas crias constante geraria,
de neologismos chamam quanto produzi.
No meu amor pelas palavras cri,
com meu apego quis dispor em esquadria
cada palavra abraçada nessa orgia;
muitas eu vejo ali que nunca li.
Porém não estou sozinho nesse abraço,
há palavra masculina e feminina,
muita palavra se tornou bissexual
e nesta orgia de haxixe e de opiáceo
palavra vejo anciã e outra menina,
algumas mesmo em condição fetal!
PARADIGMA DO SERRALHO III
Essas palavras que compõem o meu
harém,
comigo anseiam participar de
orgias,
não têm temor qualquer de
pandemias,
pois usam véus desde que ao mundo
vêm!
Mas chegam nuas, que nem roupas
têm,
palavras sempre expostas a
alergias,
palavras sofrem a dor das
fancarias,
olhos melífluos por igual as vêem!
Porém comigo encontram só carinho;
de fato as desposei, uma por uma,
lugar encontram sobre meu
travesseiro
e se acumulam da mente no cadinho,
ali se fundem, sem se perder
nenhuma,
meu bandolim a percutir inteiro!
PARADIGMA DO SERRALHO IV
Aqui menciono a sua sexualidade,
porém não poderei todas amar;
sentir-me até traído é de pensar,
mas as encaro com longanimidade.
Pois só despertam de seu sono de
inverdade
quando eu as chamo para o meu
cantar;
os meus eunucos as levam a banhar,
depois retornam a uma igual
soporidade...
Assim aprovo que se amem
plenamente
a cada vez em que me achar
presente,
para estalar meus dedos em poesia:
unem-se às outras num ardor
fremente,
mas só a mim se entregam
realmente,
versos formando quais eu jamais
faria!
PARADIGMA DA COMPETIÇÃO I – 17 OUT 2022
A amargura de um sonho que morreu
é totalmente vazia e sem sentido,
pois sendo um sonho, jamais terá sofrido
e não pode morrer, que não viveu!...
Mas cada sonho falecido foi só meu
e não se pode declarar ter perecido,
somente eu fui por sua morte percutido,
dentro das veias é que o sonho faleceu.
Nem sei mesmo se era um sonho, sequer foi enterrado,
na necrópole dos sonhos não se encontra sepultura,
bem ao invés se desmanchou em luz e pó...
De fato tantos que me morreram lado a lado,
feita em farrapos minha alma ainda perdura,
em vez de a ferro, alisada por enxó!...
PARADIGMA DA COMPETIÇÃO II
Cada sonho foi por minha vida
concebido
e consumiu-me uma parte de três
dias,
porém se um sonho como sonho
crias,
surge no espaço de um soluço
desvalido.
Cada sonho então se impõe por
atendido
e sendo tantos a requerer tuas
vias,
faz-se impossível atender suas
nostalgias
e de mistura muitos correm para o
olvido.
São massacrados pelas
circunstâncias
e concluídos no tribunal dos planos,
para o despejo das veias
condenados;
somente uns poucos a recorrer
instâncias,
como projetos das quimeras dos
humanos,
são pelos ventos das palavras
desmanchados.
PARADIGMA DA COMPETIÇÃO III
Mas algum sonho furtivamente
ingressa
no meu serralho de palavras
inocentes,
com elas copulam enquanto estão
dormentes,
num ansioso palpitar que nunca
cessa.
Se os capturo, guardo juntos numa
peça,
bem afastados das palavras
inconscientes,
até o momento em que os impulsos
renitentes
clamam por mim e não permitem que
os esqueça.
Contudo eu deixo em liberdade um
só por vez,
que desta vez as palavras
engravide,
nelas entrando inteiramente como um feto,
que igual soneto se irá gestar
talvez,
quiçá rascunho com que jamais eu
lide,
mas em promíscuo clamor por meu
afeto!
PARADIGMA DA ALEIVOSIA I – 18 OUT 2022 (*)
(*) Falsidade
Embora algures eu redija meu lamento,
bem lá no fundo sei não passa de mentira:
busco ocasiões na mente em que me fira,
as consequências calculo e tomo assento.
Não há de fato uma razão de desalento,
a falsa dor eu já queimei na imensa pira
das palavras mutiladas nesta gira,
que órgãos doaram para o meu tormento.
Palavras morrem dentro de mim, bem sei,
mas cada sonho se dissolve em turbilhão,
após trazer ao meu harém sua cocaína,
porque somente com palavras me droguei,
que meus sonhos excitaram sem razão
a encadeamentos na golilha de minha sina. (*)
(*) Colar de ferro em escravo ou prisioneiro.
PARADIGMA DA ALEIVOSIA II
Por cocaína refiro o meu lamento,
que no real nem tem razão de ser,
mas dos cochichos agrilhoados
quero ter
outras palavras para novo
encadeamento.
Mas não me posso arriscar um só
momento
que em sindicato elas possam se
manter
e seus direitos de palavras
requerer,
salário mínimo para cada
empreendimento.
Os meus eunucos eu emprego nesta
guarda,
que as palavras só possam se
beijar
quando ao serralho eu me fizer
presente,
então despindo cada termo de sua
farda,
para impedí-los de em segredo
murmurar,
salvo em metáforas que lhes
requeira urgente.
PARADIGMA DA ALEIVOSIA III
Não poderia alguma greve permitir
nesse meu belo harém de
concubinas;
ervas do sono acalmarão suas
sinas,
até o momento em que por métrica
insistir.
Sei que as palavras têm seu próprio
existir,
algumas guardam de significados
minas,
outras somente acepções mais
finas,
mas de nenhuma eu posso desistir.
E assim conservo de centenas
mancebia,
no meu orgulho, em perfusão de
egoísmo
e se lhes falta qualquer razão de
melodia,
então as estimulo com lamento,
que se misturem num paroxismo,
em tirania a pretender-se por
talento!
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