domingo, 9 de outubro de 2022


 

 

No Teorema da Astúcia 1 – 4 out 2022

(Sonia Mamede e Oscarito, que fazia dupla com Grande 

Otelo, em uma paródia do filme O Cangaceiro)

 

Ganimedes com Eros no Olimpo retoçava,

Talvez brincassem com jogo de botão...

Mas não sei se futebol conhecerão:

Nas Olimpíadas antigas não se achava...

O mais provável é que dados se jogava,

Feitos de ossos, pintados com carvão

Os pontinhos que a sorte mostrarão:

Sempre Eros contra Ganimedes trapaceava!

 

Foi quando as deusas decidiram entre si,

O comandante do Argos protegido,

Como ajudar do Tosão de Ouro na conquista,

Que algum apoio deverá achar ali:

Como objeto de amor sendo escolhido

Pela princesa, que à sua chegada não resista.

 

No Teorema da Astúcia 2

 

“Mas embora seja belo esse Jasão,

Não há certeza de que Medéia se apaixone”,

Dizia Athena, que ao artifício não condone.

“Mas eu sei como dominar-lhe o coração,”

Dizia Afrodite, “Basta que, nessa ocasião,

Meu filho Eros de seu amor se adone,

Com frecha certeira seu peito inteiro dome,

Que se apaixone pelo belo capitão!”

 

Afrodite foi ao filho então falar,

Que golpe certeiro em Medéia então lançasse,

Quando Jasão diante dela se mostrasse.

“Ora, Mamãe, estou brincando agora,

Prefiro seta que o amor dela desviasse

Para um lado inesperado nessa hora!”

 

No Teorema da Astúcia 3

 

“Mas eu posso te dar lindo presente,

Se consentires neste meu pedido.”

Foi um belo mimo assim oferecido:

Uma bola dourada, que um risco ardente

Deixava atrás de si e listras apresente

De um lápis-lazuli formoso concebido.

Quando criança, Zeus a tinha recebido

E com ela jogara assaz frequente...

 

Eros ficou oom tal bola encantado

E assim, quando Jasão se apresentou,

Mirou seu arco com o máximo cuidado,

Que no peito de Medéia penetrou,

Seu coração de imediato apaixonado:

Pelo bravo guerreiro depressa se encantou!

 

No Teorema da Astúcia 4

 

Contudo, Eros era muito caprichoso

E embora mirasse com toda a correção,

Não flechou de Jasão o coração,

Que não se apaixonou, por mais formoso

Que fosse o rosto da princesa em sua paixão,

Mas a utilizou para realizar a sua missão

E com a ajuda de Medéia, apoderou-se do Tosão,

Seu pai, o Rei Aétes, deixando assim furioso!

 

É bem verdade que já cumprira a condição,

Imposta por Aétes para sua obtenção:

Um campo arar, plantar e colher no mesmo dia!

Contudo as deusas ajudaram a Jasão,

E então Aétes, na mais clara aleivosia,

Se recusara a lhe entregar esse pendão!

 

No Teorema do Abandono 1 – 5 out 2022

 

Quando amor chega de forma inesperada

E nos invade qual fora um furacão,

Abre-se um furo no teu coração,

No qual nem sempre pode a seta ser achada;

Foi sempre Eros criança malcriada,

O seu poder desbaratando sem razão,

Que de fato mais amava a confusão

De uma paixão a provocar desencontrada.

 

Por causa disso, tanta gente se apaixona

Por alguém que seu amor não retribui,

Pois entrementes está apaixonado,

Por mais alguém que o coração tem dona

E assim amor em largo círculo dilui

O tal deusinho tão mal intenionado!

 

No Teorema do Abandono 2

 

Mais por acaso, num tiro descuidado,

Ele perfura então dois corações,

Que desenvolvem idênticas paixões,

Deixando Eros até desapontado!...

Mas com frequência, tal par enamorado

Tem compromissos em outras condições,

Por que nutriram mais fracas emoções,

Rompendo laços em instante inesperado!

 

Pois é então que Cupido mais se ri,

Errado o tiro, foi acertar enfim:

“Sempre farei alguém sofrer assim!”

E quanta morte por ciúme em vi,

Por tal acerto em tudo descuidado,

Maior o erro então sendo provocado!

 

No Teorema do Abandono 3

 

E assim Medéia foi Jasão abandonar,

Quando em ódio se converte o seu amor,

Embora mostrasse com o máximo vigor

Um grande auxílio ao infiel prestado!

Fora o casal para ser purificado

Pela morte, de um modo constritor

Do meio-irmão de Medéia, triste horror,

Para que Aétes na perseguição fosse atrasado!

 

E na Ilha de Éa, a feiticeira

Circe, que de Medéia era a irmã,

Advertiu-a do pobre amor do seu Jasão

E sua cautela mostrou-se verdadeira,

Que o capitão, em certa hora temporã,

Seguiu  em frente, sem ter dela compaixão!

 

No Teorema do Brilho 1 – 6 out 2022

 

Na praia áurea da eternidade

Cada grãozinho de areia tem seu brilho,

Mas são milagres na senda que então trilho,

Escolha alguma a ser possível na verdade,

Cada grãozinho nos inspira mais saudade,

Mas se enche a palma da mão de tanto atilho,

Não se separa um só de tal anilho,

Cada qual brilha com maior intensidade.

 

E separá-los, para se ter um brilho só

É uma tarefa da maior intensidade,

Que estão grudados na máxima mistura,

Quais estivessem amarrados em um nó,

A recusar-se, em teor de gravidade,

Entre teus dedos, sem demonstrar candura.

 

No Teorema do Brilho 2

 

E mesmo que não os queiras apanhar,

Sobem em ti, tal qual nuvem de poeira,

Alguma areia em tua boca bem certeira,

As tuas canelas inteiras a abraçar.

Se felicidade vais na vida assim buscar,

Então não desce à tal praia hospitaleira,

Que assim te chama à sedutora feira:

“Amor em grãos aqui podes encontrar!...”

 

Melhor alhures dirigir o teu sonhar,

Noutros lugares mais amor se encontrará,

Bem mais fácil que em tal canto de sereia;

Felicidade se achará noutro lugar,

Dentro da alma intensamente crescerá,

Como um fogo espontâneo que se ateia...

 

No Teorema do Brilho 3

 

Cada grãozinho de areia é qual estrela,

Mas não se prendem pela gravidade,

Será bem mais pela capilaridade,

Constelações de poeira em larga estela;

Mas o seu brilho é fraco como vela,

Só no conjunto dará luminosidade;

Eles te atraem com indiferença, sem maldade:

Se luz existe, como poderás contê-la?

 

Mas sempre além da praia existe o mar,

Entre as galáxias domina a escuridão

E nessa bruma, como podes enxergar?

São grãos de sal que ali vêm a rebrilhar,

Como lágrimas a permear teu coração,

Caso te atrevas a tal praia palmilhar!

 

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