No
Teorema da Astúcia 1 – 4 out 2022
(Sonia Mamede e Oscarito, que fazia dupla com Grande
Otelo, em uma paródia do filme O Cangaceiro)
Ganimedes
com Eros no Olimpo retoçava,
Talvez
brincassem com jogo de botão...
Mas
não sei se futebol conhecerão:
Nas
Olimpíadas antigas não se achava...
O
mais provável é que dados se jogava,
Feitos
de ossos, pintados com carvão
Os
pontinhos que a sorte mostrarão:
Sempre
Eros contra Ganimedes trapaceava!
Foi
quando as deusas decidiram entre si,
O
comandante do Argos protegido,
Como
ajudar do Tosão de Ouro na conquista,
Que
algum apoio deverá achar ali:
Como
objeto de amor sendo escolhido
Pela
princesa, que à sua chegada não resista.
No Teorema da Astúcia 2
“Mas embora seja belo esse Jasão,
Não há certeza de que Medéia se apaixone”,
Dizia Athena, que ao artifício não condone.
“Mas eu sei como dominar-lhe o coração,”
Dizia Afrodite, “Basta que, nessa ocasião,
Meu filho Eros de seu amor se adone,
Com frecha certeira seu peito inteiro dome,
Que se apaixone pelo belo capitão!”
Afrodite foi ao filho então falar,
Que golpe certeiro em Medéia então lançasse,
Quando Jasão diante dela se mostrasse.
“Ora, Mamãe, estou brincando agora,
Prefiro seta que o amor dela desviasse
Para um lado inesperado nessa hora!”
No Teorema da Astúcia 3
“Mas eu posso te dar lindo presente,
Se consentires neste meu pedido.”
Foi um belo mimo assim oferecido:
Uma bola dourada, que um risco ardente
Deixava atrás de si e listras apresente
De um lápis-lazuli formoso concebido.
Quando criança, Zeus a tinha recebido
E com ela jogara assaz frequente...
Eros ficou oom tal bola encantado
E assim, quando Jasão se apresentou,
Mirou seu arco com o máximo cuidado,
Que no peito de Medéia penetrou,
Seu coração de imediato apaixonado:
Pelo bravo guerreiro depressa se encantou!
No Teorema da Astúcia 4
Contudo, Eros era muito caprichoso
E embora mirasse com toda a correção,
Não flechou de Jasão o coração,
Que não se apaixonou, por mais formoso
Que fosse o rosto da princesa em sua paixão,
Mas a utilizou para realizar a sua missão
E com a ajuda de Medéia, apoderou-se do Tosão,
Seu pai, o Rei Aétes, deixando assim furioso!
É bem verdade que já cumprira a condição,
Imposta por Aétes para sua obtenção:
Um campo arar, plantar e colher no mesmo dia!
Contudo as deusas ajudaram a Jasão,
E então Aétes, na mais clara aleivosia,
Se recusara a lhe entregar esse pendão!
No Teorema do Abandono 1 – 5 out 2022
Quando amor chega de forma inesperada
E nos invade qual fora um furacão,
Abre-se um furo no teu coração,
No qual nem sempre pode a seta ser achada;
Foi sempre Eros criança malcriada,
O seu poder desbaratando sem razão,
Que de fato mais amava a confusão
De uma paixão a provocar desencontrada.
Por causa disso, tanta gente se apaixona
Por alguém que seu amor não retribui,
Pois entrementes está apaixonado,
Por mais alguém que o coração tem dona
E assim amor em largo círculo dilui
O tal deusinho tão mal intenionado!
No
Teorema do Abandono 2
Mais
por acaso, num tiro descuidado,
Ele
perfura então dois corações,
Que
desenvolvem idênticas paixões,
Deixando
Eros até desapontado!...
Mas
com frequência, tal par enamorado
Tem
compromissos em outras condições,
Por
que nutriram mais fracas emoções,
Rompendo
laços em instante inesperado!
Pois
é então que Cupido mais se ri,
Errado
o tiro, foi acertar enfim:
“Sempre
farei alguém sofrer assim!”
E
quanta morte por ciúme em vi,
Por
tal acerto em tudo descuidado,
Maior
o erro então sendo provocado!
No Teorema do Abandono 3
E assim Medéia foi Jasão abandonar,
Quando em ódio se converte o seu amor,
Embora mostrasse com o máximo vigor
Um grande auxílio ao infiel prestado!
Fora o casal para ser purificado
Pela morte, de um modo constritor
Do meio-irmão de Medéia, triste horror,
Para que Aétes na perseguição fosse atrasado!
E na Ilha de Éa, a feiticeira
Circe, que de Medéia era a irmã,
Advertiu-a do pobre amor do seu Jasão
E sua cautela mostrou-se verdadeira,
Que o capitão, em certa hora temporã,
Seguiu em frente, sem ter
dela compaixão!
No Teorema do Brilho 1
– 6 out 2022
Na praia áurea da
eternidade
Cada grãozinho de
areia tem seu brilho,
Mas são milagres na
senda que então trilho,
Escolha alguma a ser
possível na verdade,
Cada grãozinho nos
inspira mais saudade,
Mas se enche a palma
da mão de tanto atilho,
Não se separa um só de
tal anilho,
Cada qual brilha com
maior intensidade.
E separá-los, para se
ter um brilho só
É uma tarefa da maior
intensidade,
Que estão grudados na
máxima mistura,
Quais estivessem amarrados
em um nó,
A recusar-se, em teor
de gravidade,
Entre teus dedos, sem
demonstrar candura.
No Teorema do Brilho 2
E mesmo que não os queiras apanhar,
Sobem em ti, tal qual nuvem de
poeira,
Alguma areia em tua boca bem
certeira,
As tuas canelas inteiras a abraçar.
Se felicidade vais na vida assim
buscar,
Então não desce à tal praia
hospitaleira,
Que assim te chama à sedutora feira:
“Amor em grãos aqui podes
encontrar!...”
Melhor alhures dirigir o teu sonhar,
Noutros lugares mais amor se
encontrará,
Bem mais fácil que em tal canto de
sereia;
Felicidade se achará noutro lugar,
Dentro da alma intensamente
crescerá,
Como um fogo espontâneo que se
ateia...
No Teorema do Brilho 3
Cada grãozinho de
areia é qual estrela,
Mas não se prendem
pela gravidade,
Será bem mais pela
capilaridade,
Constelações de poeira
em larga estela;
Mas o seu brilho é
fraco como vela,
Só no conjunto dará
luminosidade;
Eles te atraem com
indiferença, sem maldade:
Se luz existe, como
poderás contê-la?
Mas sempre além da
praia existe o mar,
Entre as galáxias
domina a escuridão
E nessa bruma, como
podes enxergar?
São grãos de sal que
ali vêm a rebrilhar,
Como lágrimas a
permear teu coração,
Caso te atrevas a tal
praia palmilhar!
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