O FADO DO REMORSO I
– 25 SET 22
(Betty Grable, da época de ouro hollywoodiana)
Existe um certo tipo
de mulher
que prazer sente
quando é maltratada
e até mesmo ao
saber-se violentada,
que algum castigo
parte dela aspira e quer.
Não sei que culpa a
conduz a tal mister,
porque deseja ser
mesmo castigada,
qual é sua
inclinação tão desviada
que um vero amor
não sentirá sequer.
Caso alguém surja
que lhe dê carinho,
lá no seu íntimo
não o julga merecer
e para outro logo
volve o seu querer,
que a conduza para
um mau caminho,
em que usufrua a
plenitude do sofrer,
na indignidade
encontrando seu prazer.
O FADO DO REMORSO II
Talvez sentira em sua adolescência
algum desejo ao edípico inclinado,
por um Complexo de Electra mesclado,
por sua vergonha buscando penitência;
quando seu corpo emerge em sua potência
e seu impulso sexual é despertado,
para seu pai tendo sido desviado,
amor de espinho em dolorosa ardência.
Não que deseje, em sua plenitude,
roubar da mãe, em vascas de ciúme,
seu genitor para que seja apenas seu;
mas de algum modo a si própria se ilude,
que esse amor inocente de azedume
foi realmente uma falta em que incorreu.
O FADO DO REMORSO
III
Amor de sonho, não
mais do que ilusório,
mas que marcou o
seu viver hodierno,
no desaponto pelo
amor paterno,
mesmo que seja
apenas transitório,
que o pai a ama,
mas sem desejo escório,
ainda envolvido com
seu par materno,
sem intenção de
ligar-se a apego alterno,
seu sentimento por
recusa merencório.
De certo modo, em
ódio transformado,
por se sentir pela
mãe qual preterida,
sem conseguir o
impuro amor manifestar,
na adolescência seu
proceder airado,
com que disfarça a
dor de sua ferida,
em que somente a si
pode magoar.
O FADO DO REMORSO
IV
E desse modo, na
vergonha do desejo
e no temor de
ver-se repelida,
caso a qualquer
intimidade se convida,
satisfação procura
em qualquer beijo,
mas que não seja de
um gentil adejo,
pois dessa culpa
merece ser punida,
em tal castigo
manchando a própria vida,
de amor gentil
afastando-se com pejo.
Mas não do amor que
reabre sua ferida,
mesmo que seja em
abstrata chicoteada,
sua fantasia sem
permitir desmascarada,
na qual rejeita a
relação querida,
imerecida por sua
alma esfigurada,
que mais e mais
anseia ser punida.
O FADO DA MALÍCIA I
– 26 SET 2022
Claro que a culpa
lhe poderá ser implantada
de outras maneiras,
às vezes desde a infância,
culpada seja e
repreendida com constância
por qualquer coisa
pueril, mas dilatada,
porque sua mãe é
igualmente amargurada,
traz seu remorso em
permanente instância,
que lhe perfura a
alma como lança
e assim desconta em
sua filha dominada.
Em caso agudo, por
ter sido molestada,
assim julgando que
a culpa seja sua,
o que ela fez para
tornar-se vulnerável,
talvez buscando até
ser estuprada,
rasgões abertos
dentro da alma nua,
até a ideia de um
perdão ser impensável.
O FADO DA MALÍCIA II
Talvez sua culpa seja mesmo involuntária,
alguém que a ama sentindo dela certa inveja;
e se for a genitora que hoje a beija,
mas a percebe como rival primária
no amor de seu pai e em manobra arbitrária
sua própria culpa na menina então reveja,
mesmo quando nem perceba o quanto esteja
a amargurá-la desta forma inecessária.
Tantas razões para mim sendo possíveis
para entranhar algum pecado na infeliz,
de que a Igreja certamente participa,
quando essa graça de perdões incríveis
de lado é posta, porque melhor se quis
enfatizar esse pecado com que a equipa.
O FADO DA MALÍCIA
III
Sendo mulher, irá
de Eva conservar
a curiosidade fatal
dessa serpente,
que para o fruto do
amor o corpo alente,
no qual irá o
Paraíso transtornar.
O mundo patriarcal
depressa irá perdoar
Adão, a quem mulher
culpada tente,
não tendo culpa da
falha e nem pressente,
foi pela esposa
induzido a seu pecar.
Ainda mais quando
apelam para o sexo,
como se fora o tal
Pecado Original
e se a mulher por
amor sente desejo,
é equiparado pelo
mesmo torpe nexo,
por recorrer a
infração tão primordial,
mesmo que tenha
praticado um simples beijo!
O FADO DA MALÍCIA
IV
Por muitos anos da
Igreja ensinamentos,
em sua ênfase de
combater o adultério,
pouco ou nada a lhe
servir de refrigério,
bem ao contrário a
condenar seus sentimentos,
na própria Missa a
invadir-lhe os pensamentos,
nesse contrito
exigir confessionário,
no êxtase esperado
ante o sacrário,
sente-se exposta
aos terríveis julgamentos!
Por seus pecados a
ter condenação,
totalmente
inconsciente de uma graça,
empolgada por
demoníaco remorso,
até abraçar a
própria danação,
afundando mais e
mais em sua desgraça,
que arrepender-se
nem sequer lhe vale o esforço!
O FADO DO PATRIOTA
I – 27 SET 22
Meu coração sempre
foi verde-amarelo,
não obstante, sei
que sou subversivo,
qual Monarquista
meu coração ativo,
ao Parlamentarismo
seguindo meu apelo
e defendendo um tal
duplo desvelo,
que da Constituição
faz-se contrário ao crivo:
não cooptei com meu
voto incisivo
os congressistas
que lhe deram selo!
Esses tais que a si
mesmos proclamaram
como sendo uma
Assembleia Constituinte,
sem para tal
receberem meu mandato;
não é pois de
surpreender que tanto erraram,
leis e incisos a
contrariar-se com acinte,
numa mistura
infeliz de desacato!
O FADO DO PATRIOTA II
Contudo, será preciso que confesse
que meus ideais defenda só em teoria,
contra essa lei jamais eu me ergueria,
não pronuncio contra deveres que me desse;
mas no país em que vivo, isso acontece:
vendo essa gente que a meu redor sofria,
ante a política que ao povo só iludia,
eu me envergonho até de fazer prece!
Assim declaro ser Parlamentarista,
contra a República Presidencialista
e o adjetivo “republicano” até me ofende,
se por sinônimo de “democrático” se insista,
porque uma coisa a outra não se prende,
por tão faccioso sendo o que pretende.
O FADO DO PATRIOTA
III
Porém afirmo que
prefiro um rei,
no molde e pauta do
bom Pedro Segundo,
por sua deposição
fui sempre iracundo,
uma injustiça com
que jamais concordarei.
Não me parece que
algum dia verei
renovado entre nós
líder profundo,
seu preparo desde a
infância bem rotundo,
bem mais que alguém
que por voto escolherei,
que no
Presidencialismo qualquer um
pode ascender ao
trono e ser tirano,
“Se o Zeca pode,
também eu ser poderia”,
nessa disputa sem
sentido algum,
apenas a ânsia de
poder é seu reclamo,
sem que na pátria
qualquer deles pensaria!
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