A
APOSTA DO DIABO I – 9 ABR 21
De
todos os livros o de Job é o mais antigo,
Sua
versão original em cuneiformes,
Antes
que mesmo a Gilgamés retornes,
Com
Ut-Napishtim, que foi de deus amigo,
Que
tendo a fé no coração consigo,
A
arca construiu quais os conformes
Que
ouviu de Jeová e em seus adornes
Guardou
casais de animais contra o perigo.
Assim
se explica claramente a ideia
De
que o mundo fosse inteiro submerso,
Na
Mesopotâmia, marcas das inundações
Em
cada ponto da ancestral Suméria;
Foi
copiada por Moisés no próprio verso,
Como
um exemplo das antigas provações.
A
APOSTA DO DIABO II
Já
o Livro de Job foi incluído
Na
influência da mais arcana tradição,
Por
canonistas da mais pura devoção,
Como
um exemplo de um fiel submetido
À
vontade que o Senhor lhe tem mostrado,
O
qual jamais cedeu à tentação,
Mas
se manteve fiel na provação,
Somente
após um largo tempo compensado.
Bem
no começo, a aposta é registrada:
Satanás
apresentou-se ante o Senhor,
Como
todos os seus servos, em penhor
Desse
labor que lhe foi determinado,
Sendo
outro servo de Deus em seu pendor,
A
submissão a apresentar-Lhe em destemor.
A
APOSTA DO DIABO III
Satanás
então com o Deus Único discute,
Ou
com Marduque, na saga primordial
E
recebe a permissão de fazer mal
Contra
esse Job que ferozmente enlute,
Mesmo
que a Lei em nada ele refute,
Sendo
instigado contra o Deus sideral:
“Job
é fiel porque é feliz e o material
Possui
de tudo que para o bem percute.”
Assim
Marduque ou o próprio Jeová
O
desafia a de Job tudo espoliar,
Nessa
certeza de não ser amaldiçoado,
Mesmo
perdendo tudo quanto possuirá
E
a própria carne de lepra irá marcar,
Quando
ante Deus se teria revoltado!...
A
APOSTA DO DIABO IV
Porém
o antigo Job não se revolta,
A
própria esposa a dizer-lhe que abandone
A
Deus, que tanto de seus bens consome,
Mesmo
seus filhos sendo mortos nessa volta;
Muito
embora tanto mal esteja à solta,
À
rebeldia não permite que a alma dome:
“Recebemos
o bem de Deus; se depois tome,
Pelo
mal deve agradecer a alma envolta.”
E
dessa forma, Satanás a aposta perde
E
mais que antes Job riqueza herde,
Tendo
outro filho para cada que morreu...
Pessoas
boas também sofrem o mal,
Igual
que Job sob o mandado Seu,
E
graças rendem à vontade divinal!
A
APOSTA DO DIABO V
Contudo
eu penso não na falta das riquezas,
Mas
podem filhos ser substituídos?
Mortos
sem causa pela aposta consumidos,
Por
que Jeová autorizou essas vilezas?
Causa
haverá de maiores incertezas
Que
o falecer de filhos tão queridos?
Em
um só golpe todos foram destruídos!
Quanto
sofreu o pobre Job nessas tristezas?
Mas
declarou: “Com tudo isso O louvarei,
Ele
é o Senhor de minha pessoa e Deus meu!”
Apenas
em seu mais fundo desespero,
Ele
se atreve: “Senhor, perguntarei...”
Mas
com quarenta perguntas o Adonai seu
Se
justifica: “Posso fazer o quanto quero!”
A
APOSTA DO DIABO VI
E
o triste Job, em sua fidelidade,
Não
podendo a uma só delas responder,
Diante
de Deus Lhe consagra o padecer,
“Em
pó e cinza” revela sua humildade.
“Onde
estavas tu qual na vasta eternidade
Os
fundamentos da Terra em meu poder
Eu
lancei? E quanto mais resultou de meu fazer?
À
criatura cabe a graça, na verdade,
“De
tudo de mim aceitar como um favor,
Sem
reclamar, porque Deus, na eternidade,
Está
fora do tempo e num momento
Tudo
retira e então devolve igual teor!”
Mas
ainda penso, talvez em minha vaidade:
Por
que Elshaddai deu à aposta o Seu assento?
Na
verdade, a mais antiga versão que se conhece, encontrada na biblioteca de Ur da
Caldeia, foi datada por meio de iodo radiativo em 5.500 anos antes de Cristo,
com margem de uns quinhentos anos para mais ou para menos. A civilização
suméria data de Sete mil antes de nossa era, milênios antes da egípcia, que
provavelmente foi iniciada pelos Sumérios.
Há uns vinte anos, descobriu-se um depósito de cerca de seiscentas múmias,
cujo aspecto físico era bem diverso do apresentado pelos Egípcios antigos,
oficialmente tido como um enigma. Há trechos no Livro de Job opostos à teologia
judeocristã, como “Da sepultura quem Te louvará?” ou “Mais vale um cachorro
vivo do que um leão morto”, difíceis de interpretar à luz do Velho Testamento. Contudo, foi incluído como um dos 39 livros
canônicos.
SONETOS
MONSTRUOSOS VII
O
PROXENETA I – 10 ABR 21
Nos
dias mais longos do final do inverno,
em
que já se anuncia a primavera,
eu
saio às ruas numa breve espera,
lanço
às meninas um sorriso terno...
Não
é difícil. É um ritual eterno,
pois
fingem não saber, mas quem lhes dera
serem
alvo de desejo! O corpo gera
a
antiga ânsia de partilhar do inferno!
Só
faço o meu papel. Um galanteio,
um
beijo esquivo a faz pensar que ama,
não
custa muito conduzi-la à cama
e
bem depressa eu a apresento ao meio
e
logo a faço andar pelas calçadas,
enquanto
cobro o michê das desgraçadas!
O
PROXENETA II
“Se
tu me amas, então pratica o sexo
com
meu amigo que sente solidão...
Não
é amor, tão somente aceitação
desse
desejo por um breve amplexo...”
“Está
tudo bem? Não houve qualquer nexo,
meu
amigo te agradece a distração;
para
meus braços vais retornar então,
foi
só carnal, sem nada de complexo...”
Minhas
palavras vêm fáceis da experiência,
com
quantas outras pratiquei essa conversa,
como
são tolas essas mulherzinhas,
que
bem depressa aceitam tudo com paciência,
ao
prostituir-se nenhuma se acha aversa,
pois
todas elas não passam de putinhas!...
O
PROXENETA III
Daí
a fazer que aceitem cada um
é
só um passo e recolhem o dinheiro,
que
para mim é único amor e verdadeiro,
fico
com tanto, só devolvo algum...
Muito
em breve já não negam a nenhum
qualquer
perversão ou capricho sorrateiro...
É
como tudo. Basta começar primeiro
e
tudo passam a considerar comum.
Eu
lhes prometo em troca proteção,
eventualmente
lhes compro algum presente,
dou-lhes
um teto de perfeita segurança,
na
verdade, para melhor tê-las à mão...
E
completado o processo, finalmente,
vou
caçar outras, com a mesma fala mansa...
Nenhum comentário:
Postar um comentário