quinta-feira, 15 de abril de 2021


 

 

A APOSTA DO DIABO I – 9 ABR 21

 

De todos os livros o de Job é o mais antigo,

Sua versão original em cuneiformes,

Antes que mesmo a Gilgamés retornes,

Com Ut-Napishtim, que foi de deus amigo,

Que tendo a fé no coração consigo,

A arca construiu quais os conformes

Que ouviu de Jeová e em seus adornes

Guardou casais de animais contra o perigo.

 

Assim se explica claramente a ideia

De que o mundo fosse inteiro submerso,

Na Mesopotâmia, marcas das inundações

Em cada ponto da ancestral Suméria;

Foi copiada por Moisés no próprio verso,

Como um exemplo das antigas provações.

 

A APOSTA DO DIABO II

 

Já o Livro de Job foi incluído

Na influência da mais arcana tradição,

Por canonistas da mais pura devoção,

Como um exemplo de um fiel submetido

À vontade que o Senhor lhe tem mostrado,

O qual jamais cedeu à tentação,

Mas se manteve fiel na provação,

Somente após um largo tempo compensado.

 

Bem no começo, a aposta é registrada:

Satanás apresentou-se ante o Senhor,

Como todos os seus servos, em penhor

Desse labor que lhe foi determinado,

Sendo outro servo de Deus em seu pendor,

A submissão a apresentar-Lhe em destemor.

 

A APOSTA DO DIABO III

 

Satanás então com o Deus Único discute,

Ou com Marduque, na saga primordial

E recebe a permissão de fazer mal

Contra esse Job que ferozmente enlute,

Mesmo que a Lei em nada ele refute,

Sendo instigado contra o Deus sideral:

“Job é fiel porque é feliz e o material

Possui de tudo que para o bem percute.”

 

Assim Marduque ou o próprio Jeová

O desafia a de Job tudo espoliar,

Nessa certeza de não ser amaldiçoado,

Mesmo perdendo tudo quanto possuirá

E a própria carne de lepra irá marcar,

Quando ante Deus se teria revoltado!...

 

A APOSTA DO DIABO IV

 

Porém o antigo Job não se revolta,

A própria esposa a dizer-lhe que abandone

A Deus, que tanto de seus bens consome,

Mesmo seus filhos sendo mortos nessa volta;

Muito embora tanto mal esteja à solta,

À rebeldia não permite que a alma dome:

“Recebemos o bem de Deus; se depois tome,

Pelo mal deve agradecer a alma envolta.”

 

E dessa forma, Satanás a aposta perde

E mais que antes Job riqueza herde,

Tendo outro filho para cada que morreu...

Pessoas boas também sofrem o mal,

Igual que Job sob o mandado Seu,

E graças rendem à vontade divinal!

 

A APOSTA DO DIABO V

 

Contudo eu penso não na falta das riquezas,

Mas podem filhos ser substituídos?

Mortos sem causa pela aposta consumidos,

Por que Jeová autorizou essas vilezas?

Causa haverá de maiores incertezas

Que o falecer de filhos tão queridos?

Em um só golpe todos foram destruídos!

Quanto sofreu o pobre Job nessas tristezas?

 

Mas declarou: “Com tudo isso O louvarei,

Ele é o Senhor de minha pessoa e Deus meu!”

Apenas em seu mais fundo desespero,

Ele se atreve: “Senhor, perguntarei...”

Mas com quarenta perguntas o Adonai seu

Se justifica: “Posso fazer o quanto quero!”

 

A APOSTA DO DIABO VI

 

E o triste Job, em sua fidelidade,

Não podendo a uma só delas responder,

Diante de Deus Lhe consagra o padecer,

“Em pó e cinza” revela sua humildade.

“Onde estavas tu qual na vasta eternidade

Os fundamentos da Terra em meu poder

Eu lancei? E quanto mais resultou de meu fazer?

À criatura cabe a graça, na verdade,

 

“De tudo de mim aceitar como um favor,

Sem reclamar, porque Deus, na eternidade,

Está fora do tempo e num momento

Tudo retira e então devolve igual teor!”

Mas ainda penso, talvez em minha vaidade:

Por que Elshaddai deu à aposta o Seu assento?

 

Na verdade, a mais antiga versão que se conhece, encontrada na biblioteca de Ur da Caldeia, foi datada por meio de iodo radiativo em 5.500 anos antes de Cristo, com margem de uns quinhentos anos para mais ou para menos.   A civilização suméria data de Sete mil antes de nossa era, milênios antes da egípcia, que provavelmente foi iniciada pelos Sumérios.  Há uns vinte anos, descobriu-se um depósito de cerca de seiscentas múmias, cujo aspecto físico era bem diverso do apresentado pelos Egípcios antigos, oficialmente tido como um enigma. Há trechos no Livro de Job opostos à teologia judeocristã, como “Da sepultura quem Te louvará?” ou “Mais vale um cachorro vivo do que um leão morto”, difíceis de interpretar à luz do Velho Testamento.  Contudo, foi incluído como um dos 39 livros canônicos.

 

SONETOS MONSTRUOSOS VII

O PROXENETA I – 10 ABR 21

 

Nos dias mais longos do final do inverno,

em que já se anuncia a primavera,

eu saio às ruas numa breve espera,

lanço às meninas um sorriso terno...

 

Não é difícil.   É um ritual eterno,

pois fingem não saber, mas quem lhes dera

serem alvo de desejo!  O corpo gera

a antiga ânsia de partilhar do inferno!

 

Só faço o meu papel.   Um galanteio,

um beijo esquivo a faz pensar que ama,

não custa muito conduzi-la à cama

e bem depressa eu a apresento ao meio

e logo a faço andar pelas calçadas,

enquanto cobro o michê das desgraçadas!

 

O PROXENETA II

 

“Se tu me amas, então pratica o sexo

com meu amigo que sente solidão...

Não é amor, tão somente aceitação

desse desejo por um breve amplexo...”

 

“Está tudo bem?  Não houve qualquer nexo,

meu amigo te agradece a distração;

para meus braços vais retornar então,

foi só carnal, sem nada de complexo...”

 

Minhas palavras vêm fáceis da experiência,

com quantas outras pratiquei essa conversa,

como são tolas essas mulherzinhas,

que bem depressa aceitam tudo com paciência,

ao prostituir-se nenhuma se acha aversa,

pois todas elas não passam de putinhas!...

 

O PROXENETA III

 

Daí a fazer que aceitem cada um

é só um passo e recolhem o dinheiro,

que para mim é único amor e verdadeiro,

fico com tanto, só devolvo algum...

 

Muito em breve já não negam a nenhum

qualquer perversão ou capricho sorrateiro...

É como tudo.  Basta começar primeiro

e tudo passam a considerar comum.

 

Eu lhes prometo em troca proteção,

eventualmente lhes compro algum presente,

dou-lhes um teto de perfeita segurança,

na verdade, para melhor tê-las à mão...

E completado o processo, finalmente,

vou caçar outras, com a mesma fala mansa...

 


Nenhum comentário:

Postar um comentário