sexta-feira, 16 de abril de 2021


 

 

Foi Feito Homem 1 – 11 abril 2021

 

Ocasiões há em que me vêm à mente

As nádegas de Cristo sacrossanto;

Sempre aparece envolto no seu manto,

Com seu olhar a nos fitar de frente;

Até mesmo no batismo é bem frequente,

Na iconografia que descreve tal recanto,

Em que a água desce Nele como pranto,

Quando diante do Batista Ele se assenta,

Ou está de pé, despido até a cintura,

Mas envoltos em pano Seus quadrís

Ou então ajoelhado no Jordão,

Talvez coberta mesmo a testa pura,

Não aparecem Seus membros virís,

Nunca de costas qualquer seja a situação.

 

Foi Feito Homem 2

 

Naturalmente, tudo isto é fantasia,

Jamais Sua imagem registrada na ocasião

Em que Seus membros sobre a Terra estão

E não se sabe qual aspecto teria,

Que descrição corporal não haveria

Nos Evangelhos, nas Epístolas, na Ascensão;

Tomé coloca nas chagas a sua mão

E um corpo humano certamente tocaria;

É flagelado, leva a cruz e tombaria

Três vezes em Sua marcha ao sacrifício,

Sendo descrito que o sangue ali vertia

E em ocasião Ele até mesmo choraria,

No grave esforço de cumprir o Seu ofício,

Mas Seu semblante não se descreveria.

 

Foi Feito Homem 3

 

Mas como foi apelidado O Nazareno,

Se presume que voto fez de Nazireu,

Crescendo longo esse cabelo Seu

E a barba a Lhe brotar no rosto pleno,

Mas quais os traços do semblante ameno

Não se conhece, o Evangelho não nos deu;

Nenhum espanto nessa ausência que sofreu,

O Testamento em descrições é bem pequeno,

Do mesmo modo que no Velho Testamento,

David é ruivo e de aspecto gentil,

Esaú barba vermelha, Jacó sendo moreno,

Mas nada mais me ocorre ao pensamento,

Não se descreve qualquer corpo mais viril,

Mesmo do corpo feminino há pouco aceno.

 

Foi Feito Homem 4

 

E desse modo, tudo é imaginação,

Nem sequer se sabe que cor teria na pele,

Que fosse branco à tradição apele,

Mas nem sequer disso há confirmação;

Foi submetido ali à circuncisão

E alguma pista talvez isto revele,

Que de Moisés o seu destino sele,

Como um Egípcio sendo criado na ocasião.

Mas na iconografia os pobres são

Iguais que os faraós, alguns morenos

E outros negros.  Assim, nada sabemos

Sobre os Judeus que nesse Egito estão,

Salvo se achassem diferentes dos Camitas,

Possivelmente com aspectos Semitas.

 

Foi Feito Homem 5

 

Um Mandamento proibiu reprodução,

Seja em pintura ou imagem de escultura;

Não é de se espantar que essa textura

Só se apresente pela imaginação;

Sobre a Arca dois Querubins estão

E o Candelabro, a Menurá tão pura

De Sete Braços apresentados em figura,

Na natureza não se encontrarão.

 

Existe mesmo uma certa tradição

Que o filósofo Apollodoro de Triana

Foi o modelo das imagens iniciais

Com que Jesus foi mostrado em ocasião:

Quando aos Gentios o Evangelho irmana

Tal lei Hebraica não se aplicava mais.

 

Foi Feito Homem 6

 

E voltando ao Messias, ser humano,

Que tantas vezes se alimentou e bebeu

E que a Santa Eucaristia assim nos deu,

Na cruz O mostram nu ou só um pano

Recobre Seus quadrís.  Não é profano

Mostrar a imagem de um homem que sofreu?

Sempre de frente, contudo, esse Judeu,

Mas é inegável, por qualquer arcano,

Que nádegas possuísse.  É por pudor

Que será sempre mostrado só de frente,

Caso contrário, de troça alvo seria...

Mas nosso corpo é o Templo do Senhor

E a qualquer membro um respeito equivalente

Ao dado ao rosto demonstrar se deveria.

 

SONETOS MONSTRUOSOS VIII

A INFANTICIDA  I – 12 ABR 21

 

Por que motivo deveriam vir ao mundo

Essas crias nojentas que eu não quis,

Se nem sequer foi por prazer que eu fiz,

Mas para os machos atender desejo imundo!

 

Mesmo que às vezes sentisse ardor profundo,

Esse gozo de um momento não me diz,

Nem dentro ao coração amor refiz

Por tais serzinhos fabricados num segundo,

 

Mas que incomodam a gente toda a vida!

Bem vejo em torno como são ingratos

E que só vivem para explorar as mães!

Eu mesma sei que nunca fui querida,

Melhor que jogue fora esses nonatos,

Que ao menos servem de comida para os cães!

 

A INFANTICIDA  II

 

Se aqui insisto neste mesmo tema,

A vida humana é para mim sagrada,

Não devendo ser assim desperdiçada,

No fecundar há percentagem tão pequena!

 

Alguns milhões nesse instante sofrem pena,

Somente uma a ser do óvulo abençoada,

A vida a um único sobrevivente dada,

Quão importante essa escolha nos acena!

 

E permitir-se ser tal feto assassinado

Ou se matar um nenê meio imperfeito,

Causa-me assombro e me deixa revoltado!

E no entretanto, quanta criança abandonada,

Que nada ganha do amor que têm direito

Dessa nossa sociedade mal formada!...

 

A INFANTICIDA  III

 

Contrariamente à Infanticida eu acredito

Ser necessária da mãe a exploração,

Sendo indefesa a criança na ocasião,

Sua proteção ao ser torna bendito.

 

E de igual modo, ao coração aflito

De cada mãe, em cada geração;

A maioria dos pais também o são,

Seu coração convertido nesse grito.

 

E pode haver mais perfeita minoria

Que essa criancinha tão pequena,

A quem o corpo da mãe escolheria?

Portanto insisto nesta refutação,

Que o Santo Espírito dos olhos nos acena

De cada ser que compõe nossa nação!

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