segunda-feira, 12 de abril de 2021


 

 

BARRICADAS 1 – 3 ABR 21

 

A teu redor se encontra certa proteção,

isso que aura chamam os orientais,

que mais não sejam teus cheiros corporais,

ou o calor irradiado na ocasião;

claro que existe perfeita detecção,

ao infravermelho captam-se sinais,

pelos mesmos sistemas habituais

que à vida noturna fazem prospecção.

 

Mas não é aura ou alma realmente

a que se possa assim fotografar,

o corpo astral não se pode assim gravar,

mesmo que afirmem fotografar frequente

de almas-penadas que se possa achar

onde tragédia ocorreu antigamente...

 

BARRICADAS 2

 

Os animais de sangue frio, contrariamente,

não nos emitem essa idêntica expansão,

têm outros métodos para manifestação

e de esconder-se preferem claramente;

dizem que onde fantasma se apresente

ou criatura de igual má disposição,

surge um espaço de gelada concisão,

arrepios a provocar em toda a gente!...

 

porém se a aura é uma coisa viva,

não sobrevive então após a morte

e deveria expressar-se por calor?

Ou é apenas manifestação ativa

de teu destino a partilhar a sorte

e se dissipa junto ao teu vigor...?

 

BARRICADAS III

 

A alma é fria então, e se apresenta

nessas nesgas de vida dissipada,

um corpo austral da carne abandonada

que uma falsa vida assim atenta?

Poderia repetir de forma lenta

os impulsos dessa vida recordada,

por Ouija podendo até ser invocada

ou por qualquer conclamação nojenta?

 

Aos manes romanos se faziam libações

e igualmente aos lares e penates,

os mortos protetores de algum lar,

que igual temiam como assombrações

cantados sendo por sibila e vates,

aos quais seria forçoso propiciar!...

 

BARRICADAS IV

 

Contudo, a proteção que te refiro

vai muito além desse fantasmagórico,

discutível em debates de retórico,

mas abrange muito mais do que suspiro.

Com meu espírito a cada dia conspiro

e a cada noite, em dialogar eufórico,

mostro da alma cada pendor disfórico

as suas asas a me acolher em manso giro.

 

A alma escusa que injuriaram os cuidados

durante esses puros momentos dialogados,

purificada parcialmente pelo sonho,

enquanto nela se infunde esse sacrário,

do renovo e inspiração depositário,

de ti afastando cada espectro medonho.

 

SONETOS MONSTRUOSOS IV

O Vendedor da Morte I – 4 abril 2021

 

Eu preciso diariamente desse brilho

Que me mantém aceso para a vida,

Toda a esperança para mim perdida,

Para meu amo dia a dia me encilho;

Sem essa droga eu sinto que me estilho,

Antes sendo só realce para a lida,

Uma energia a mais, a luz vivida,

Mas agora diante dele me enrodilho.

 

Tremem as mãos e então batem os dentes,

O suor corre, a morte é meu ofício,

Demência e calafrios a digladiarem;

E é por isso que corrompo meus clientes,

Não porque financiem o meu vício,

Mas os levo a meu martírio partilharem!

 

O Vendedor da Morte II

 

Era inocente quando me aliciaram

E no começo tudo se iluminava,

Cada nova sensação se destacava,

Psicodélica vida me mostraram,

Meu cérebro e meus nervos se viciaram

E já pequena dose não bastava,

A cada dia mais eu precisava

E as demais atividades me cercearam.

 

Logo o que tinha em casa era trocado

Por mais momentos de doce padecer,

Igual orgasmo atribulado nesse pasmo,

Nada mais de valor em mim achado,

Logo o pasmo a desejar e não orgasmo,

Mais um alívio do que qualquer prazer!

 

O Vendedor da Morte III

 

E nesse intento de satisfazer meu vício,

Tornei-me escravo de meu fornecedor,

Passando adiante o meu feroz pendor,

Forçosamente a transmitir o malefício;

Sou vaposeiro e vendo esse estrupício,

Sob pretexto inicial de algum amor,

Ou já entregando a um colega de pavor,

Eu sou carrasco de um lento sacrifício...

 

Agora sei que recentemente descobriram

Traços do pó maldito nas narinas

De alguns jovens que morreram de Covide,

Que em pandemia no seu vício persistiram,

Abrindo a porta às criaturas assassinas,

Novo fator de risco que ali incide!...

 

ESTATUETA DE BRONZE, CONCEPÇÃO 

ARTÍSTICA DA ALMA HUMANA.


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