quarta-feira, 21 de abril de 2021


 

 

ANANIAS E SAPHIRA I – 21 ABRIL 21

 

Há uma passagem no Livro de Atos

dos Apóstolos que muitos querem esquecer,

a imagem de São Pedro a enegrecer

pela descrição espantosa destes fatos;

consta do Capítulo Cinco – não são boatos,

por que deveriam na Escritura se inscrever,

caso de fato não houvesse esse ocorrer?

Porém ocultam, porque parecem desacatos

à figura do apóstolo, na real homem feroz,

até uma orelha cortou, durante a prisão

de Jesus, de um certo Malco, restaurada

logo a seguir, nem deixando marca atroz,

porque o Mestre demonstrou-lhe compaixão

e a atitude foi de Pedro reprovada...

 

ANANIAS E SAPHIRA II

 

Mas esta história que está sendo recordada

já ocorreu na ausência de Jesus:

viviam os crentes na comunhão da cruz,

de tudo a partilhar nessa aguardada

Segunda Vinda, que seria realizada

muito em breve, num amor que ali seduz,

todos firmes na recordação da luz

e da Ascensão que fora então testemunhada;

muitos vendiam todos os seus bens,

vinha o dinheiro para a bolsa comum,

José Barnabé, o Filho da Consolação,

assim agiu e com tais exemplos vens

esperar que os sigam cada um,

como forma de provar sua devoção...

 

ANANIAS E SAPHIRA III

 

Ora, um casal, Ananias e Saphira,

um nome próprio que quer dizer “formosa”

e é igualmente pedra azul e bem preciosa,

também se converteu à mesma mira

do costume que nesse período gira,

mesmo não sendo exigência rigorosa,

mas tomou decisão mais perigosa

de contar a Simão Pedro uma mentira,

na realidade, precaução bem natural,

quando Ananias decidiu guardar metade:

e se depois mudasse o seu intento?

Nada teriam para seu sustento material

e Saphira o apoiou com lealdade,

ou talvez mesmo fosse dela o pensamento.

 

ANANIAS E SAPHIRA IV

 

Veio Ananias então com a metade

do dinheiro recebido e o entregou

para São Pedro que a quantia contemplou

e indagou: “Este o preço em sua totalidade?”

Então Ananias insistiu nessa inverdade

E o Apóstolo duramente o reprovou:

“Ananias, ninguém tal venda te ordenou

e se a fizeste, não havia necessidade

de doar para mim toda a quantia,

por que mentiste sem qualquer razão?

Não foi de fato para mim, mentiste a Deus!”

E assombrado pela afirmação que ouvia,

por remorso ou por temer castigos seus,

Ananias tombou morto de emoção!...

 

ANANIAS E SAPHIRA V

 

Os jovens membros da comunidade

ao cadáver de Ananias amortalharam

e para o cemitério o transportaram,

toda a Igreja abalou-se na verdade!...

Três horas depois, cruzou Saphira a grade

do portão para o pátio, em que se acharam

reunidos os Apóstolos, que logo a interrogaram:

“Saphira,” disse Pedro, com severidade,

“Por quanto o vosso campo foi vendido?”

E ela respondeu conforme o combinado

e Simão Pedro ferozmente a reprovou:

“Por que vocês conspiraram em tal sentido?

Teu marido foi há pouco sepultado:

escuta os passos de quem hoje o enterrou!...”

 

ANANIAS E SAPHIRA VI

 

No mesmo instante, também parou o coração

de Saphira, que de imediato caiu morta

aos pés do Apóstolo, pois sua alma não suporta

o imenso peso da veraz condenação,

mortos os dois em idêntica ocasião

e assim São Pedro ambas as vidas corta,

pelo místico poder que então comporta,

deixando os crentes em estupefação!...

É Simão Pedro, desse modo, um assassino?

Precisava assim seu poderio afirmar?

Há séculos teólogos o buscam exculpar,

mas o episódio soa claro como um sino,

que sem poder deslindar qual seja o nexo,

até hoje ainda me deixa bem perplexo!...

 

SONETOS MONSTRUOSOS XIII

O VAMPIRO  I – 21 ABR 21

 

Não é o sangue que eu bebo, tomo a luz

que vejo em cada olhar, perdida a esmo,

e a sugo para dentro de mim mesmo,

me reanima e esta força me conduz.

 

Pois também eu carrego a minha cruz:

vejo uma planta, que verde viceja,

ponho nela minhas vistas e se enseja

que esteja à noite ressecada como pus.

 

Não posso amar ninguém: os que me cercam

logo enfraquecem, eu vejo como enrugam,

perdem a cor e rápido fenecem...

Mas eu não mordo aqueles que se acercam,

apenas bebo seu fluir.  Meus olhos sugam

suas próprias almas que rápido envelhecem.

 

O VAMPIRO  II

 

Quem não haveria de sentir igual prazer

ao desfrutar este dom que em mim existe?

Porém não sei exatamente em que consiste,

embora exerça em plenitude tal poder!..

 

Cobiça e inveja talvez o possam conceber,

talvez o orgulho dentro de mim se avista,

ou qualquer outro sentimento que se alista,

de qualquer forma a me vir fortalecer!...

 

Pouco me importa que aos outros enfraqueça;

bem no princípio sem saber o que fazia,

somente aos poucos esta glória percebi,

qualquer remorso tido um dia que se  esqueça,

sinto minha alma faminta de energia,

temo somente que percebam como agi!...

 

O VAMPIRO  III

 

Lastimo apenas roubar a energia

de pessoas a quem o bem desejo:

como é mortal a força do meu beijo!

Melhor sangue beber então seria!...

 

Vou as calçadas percorrer de cada via,

só um pouco a furtar de cada andejo;

nas multidões disfarça-se esse ensejo,

provar não pode quem de mim suspeitaria!...

 

Mas é óbvio que não durmo num caixão

e nem consigo adejar feito morcego;

a luz do sol não me causa mal algum

e não me encerro jamais numa mansão:

a companhia vou buscar do povo cego,

meu alimento a receber de cada um!...

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