PARTO DA CHUVA I – 30 MAR 21
as mil gotas de chuva aprisionadas
finalmente mergulham desde o céu,
só na aparência sendo espesso véu,
em liberdade total desenfreadas,
em turbamultas individualizadas,
como as iscas roubadas de um arpéu,
para tombarem sobre aqui e ao léu,
do manto antigo dessensibilizadas.
sobre a terra recaem apressuradas,
cada qual a procurar o seu destino,
o solo cobrem em pingos de desejo
e ali se espalham as gotas
estreladas,
como esse vírus que causa o desatino
e a morte nos transmite com seu
beijo.
PARTO DA CHUVA II
mas depressa as estrelinhas se
misturam,
vem mais voando tal qual passarinho,
no cimento se derrama o negro vinho:
como indivíduos pouco tempo duram,
nessa vistosa libação que se
apressuram,
querem ser livres sem qualquer
carinho,
sobre as pedras a rasgar o seu
caminho,
contrariamente às nuvens que depuram.
mas ai dos pingos! que logo são marcados
pelos astros de outros pingos
apressados
e em breve o solo assume uma só cor,
como um tapete de falsa liberdade,
já revestidas de um manto de saudade
da antiga vida em mil gotas de vapor!...
PARTO DA CHUVA III
todas chegaram na idêntica ilusão
de se adensarem individualmente,
ao condensar-se mais liquidamente,
mas logo formam um tapete pelo chão;
descem depressa e mal cumprimentarão,
já um adeus te darão rapidamente,
curtos filetes de um veloz presente,
que logo em lama se misturarão.
só para as plantas darão mais
saudação,
pelas raízes a virar folhas e flores,
parte de novo dessa comunidade,
igual que aqueles que perdidos são
em qualquer partido político de
ardores,
quando abrem mão de toda a liberdade.
SONETOS MONSTRUOSOS II
O PEDÓFILO I – 31 mar 2021
Derramo na pureza o meu deleite:
Meu sexo é impuro e a remissão
Eu só encontro nessa conspurcação
Que me permite o próprio meu aceite.
Os corpos esfregados nesse azeite,
Não há amor qualquer nessa paixão,
Tão somente o estertor da punição
Nessa semente que no sangue deite.
Pois fizeram de mim o mesmo alvo
E agora eu retribuo, sem maldade
A torpe herança da vida revelada
E nesse estupro, enfim sinto-me
salvo,
Pratico o ato na maior piedade,
Sementes lanço na carne massacrada.
O PEDÓFILO II
Perfeito é o ato da monstruosidade,
Nessa cadeia de auto-punição,
Nessa vingança da antiga negação
Do que devia ser masculinidade;
Sei que a semente desta humanidade
Não deveria dispender nessa traição
Mas quantos orgasmos tão inúteis são,
Mesmo incorridos na feminilidde?
E no momento em que transmito o vício,
Que a mim foi inicialmente
transmitido
Corto a cadeia da reprodução
Talvez pareça tão só um malefício
O mau destino assim desenvolvido
Mas nele encontro final retaliação.
O PEDÓFILO III
Raras vezes é necessária a violência,
Que falazmente consigo convencer;
Nada diverso do que pode acontecer
Com a virgindade sujeita a tal
potência;
Ha nesse ato apenas mais ardência,
“Pedofilia”, no fundo, quer dizer
“Amor por um menino” a se manter
E assim merece mesmo tua leniência.
Contudo eu sei que não me justifico,
Porque sofri em minha primeira vez
E sofrimento igual assim aplico!...
Eu não nasci assim, mas me tornaram
E nesse ato em que tão vil me crês,
Transmito as dores com que a mim marcaram.
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