domingo, 11 de abril de 2021


 


PARTO DA CHUVA I – 30 MAR 21

 

as mil gotas de chuva aprisionadas

finalmente mergulham desde o céu,

só na aparência sendo espesso véu,

em liberdade total desenfreadas,

em turbamultas individualizadas,

como as iscas roubadas de um arpéu,

para tombarem sobre aqui e ao léu,

do manto antigo dessensibilizadas.

 

sobre a terra recaem apressuradas,

cada qual a procurar o seu destino,

o solo cobrem em pingos de desejo

e ali se espalham as gotas estreladas,

como esse vírus que causa o desatino

e a morte nos transmite com seu beijo.

 

PARTO DA CHUVA II

 

mas depressa as estrelinhas se misturam,

vem mais voando tal qual passarinho,

no cimento se derrama o negro vinho:

como indivíduos pouco tempo duram,

nessa vistosa libação que se apressuram,

querem ser livres sem qualquer carinho,

sobre as pedras a rasgar o seu caminho,

contrariamente às nuvens que depuram.

 

mas ai dos pingos!  que logo são marcados

pelos astros de outros pingos apressados

e em breve o solo assume uma só cor,

como um tapete de falsa liberdade,

já revestidas de um manto de saudade

da antiga vida em mil gotas de vapor!...

 

PARTO DA CHUVA III

 

todas chegaram na idêntica ilusão

de se adensarem individualmente,

ao condensar-se mais liquidamente,

mas logo formam um tapete pelo chão;

descem depressa e mal cumprimentarão,

já um adeus te darão rapidamente,

curtos filetes de um veloz presente,

que logo em lama se misturarão.

 

só para as plantas darão mais saudação,

pelas raízes a virar folhas e flores,

parte de novo dessa comunidade,

igual que aqueles que perdidos são

em qualquer partido político de ardores,

quando abrem mão de toda a liberdade.

 

SONETOS MONSTRUOSOS II

O PEDÓFILO I – 31 mar 2021

 

Derramo na pureza o meu deleite:

Meu sexo é impuro e a remissão

Eu só encontro nessa conspurcação

Que me permite o próprio meu aceite.

 

Os corpos esfregados nesse azeite,

Não há amor qualquer nessa paixão,

Tão somente o estertor da punição

Nessa semente que no sangue deite.

 

Pois fizeram de mim o mesmo alvo

E agora eu retribuo, sem maldade

A torpe herança da vida revelada

E nesse estupro, enfim sinto-me salvo,

Pratico o ato na maior piedade,

Sementes lanço na carne massacrada.

 

O PEDÓFILO II

 

Perfeito é o ato da monstruosidade,

Nessa cadeia de auto-punição,

Nessa vingança da antiga negação

Do que devia ser masculinidade;

Sei que a semente desta humanidade

Não deveria dispender nessa traição

Mas quantos orgasmos tão inúteis são,

Mesmo incorridos na feminilidde?

 

E no momento em que transmito o vício,

Que a mim foi inicialmente transmitido

Corto a cadeia da reprodução

Talvez pareça tão só um malefício

O mau destino assim desenvolvido

Mas nele encontro final retaliação.

 

O PEDÓFILO III

 

Raras vezes é necessária a violência,

Que falazmente consigo convencer;

Nada diverso do que pode acontecer

Com a virgindade sujeita a tal potência;

Ha nesse ato apenas mais ardência,

“Pedofilia”, no fundo, quer dizer

“Amor por um menino” a se manter

E assim merece mesmo tua leniência.

 

Contudo eu sei que não me justifico,

Porque sofri em minha primeira vez

E sofrimento igual assim aplico!...

Eu não nasci assim, mas me tornaram

E nesse ato em que tão vil me crês,

Transmito as dores com que a mim marcaram.

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