REINCIDÊNCIA
I – 1º ABRIL 2021
Aceito
nova tradução, após ter decidido
que
não as faria mais, pelo cansaço
e
minha parceira cobrou-me num abraço
o
abandono de trabalho tão sofrido;
comecei
nova e já estou arrependido,
o
rompimento entendi do antigo laço,
senti
nas costas e no olhar o traço,
longo
o período ao teclado requerido,
o
brilho a contemplar do monitor,
a
posição a fazer com que encolhesse
e
a cartilagem vertebral sofresse,
fácil
que fosse o intelectual ardor,
mas
sofre o corpo na longa permanência,
mal
recobrada minha antiga resiliência.
REINCIDÊNCIA
II
Mas
como antes, houve a satisfação
de
um novo desafio que dominei,
como
nos textos que antes enfrentei,
outro
dever a cumprir nesta ocasião;
mas
realmente, não tinha mais noção,
tantos
poemas que a limpo já passei
pelos
meus dedos facilmente conquistei
os
mil rascunhos na palma de minha mão;
porém
agora é diverso o movimento,
a
tradução me força muito mais
do
que essa intercalada transcrição
e
sobreveio o descontentamento,
novamente
em atrasos consensuais
de
meus rascunhos a perdida proteção.
REINCIDÊNCIA
III
Pois
desta vez não senti raios de sol
meus
dedos percorrendo na ocasião;
ainda
conservo o dom da tradução,
mesmo
em inglês a fazer versos de escol,
mas
traduzir é bem diverso anzol,
a
permanência em longa posição,
e
os poetas mortos me perturbarão
contra
os parágrafos alheios de arrebol;
e
quando as novas linhas rascunhei,
nelas
achei pendor bastante estranho,
pontos
de vista que em nada são os meus,
foram
os monstros da raça que escutei
e
me marcaram com horror tamanho,
pois
são humanos os pensamentos seus!
SONETOS
MONSTRUOSOS III
O
CANIBAL I – 2 ABR 2021
Ai,
que delícia quando a carne quente
Penetra
em minha garganta, mastigada,
Em
parte ainda por sangue iluminada,
Que
pelos dentes escorre tão frequente!
Bem
mais sabor possui a humana gente
Do
que a carne vacum ao ser provada,
Existe
um beijo perfeito em tal talhada
Ou
na mordida que se arranca de repente!
Porém
guardada em um refrigerador
Já
não tem o mesmo gosto, certamente
E
nem sequer passado o assassinato,
Que
o verdadeiro prazer está na dor
Que
acompanha o bocado ainda fremente,
No
olhar e nos gritos desse prato!...
O
CANIBAL II
Esse
tabu eu enfrento como as feras,
Que
são carnívoras de modo natural,
Mas
tenho visto de maneira mais geral
Que
de suas presas são executoras meras.
Pescoços
mordem na firmeza das esperas,
A
refeição sufocada em seu caudal;
Não
há misericórdia em tal ato material,
Somente
aplicam as precauções mais veras.
Assim
não pode o alimento resistir
E
então o devoram com tranquilidade...
Mas
eu amarro a vítima primeiro,
Para
depois seu sofrimento deglutir,
O
sangue flui em hormonalidade,
Cada
dentada um orgasmo por inteiro!
O
CANIBAL III
Agindo
assim, assemelho-me a um inseto
Que
a alheia carne amacia com enzima,
Desmancha
aos poucos porém não assassina,
Anestesiado
porém vivo esse objeto!...
Canibalismo
sendo bem menos abjeto
Entre
as tribos dos tupis que a história ensina
Para
um sacrifício ritual que assim destina,
Morta
essa vítima até com certo afeto...
Já
eu prefiro que esteja bem consciente,
Para
melhor apreciar seu sofrimento,
Na
alegria e na dor dessa tortura;
Sua
própria alma então devoro calmamente,
Mais
do que a carne, sua dor me traz alento
E
sua vida incorporo à minha loucura!...
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