domingo, 11 de abril de 2021


 

 

REINCIDÊNCIA I – 1º ABRIL 2021

 

Aceito nova tradução, após ter decidido

que não as faria mais, pelo cansaço

e minha parceira cobrou-me num abraço

o abandono de trabalho tão sofrido;

comecei nova e já estou arrependido,

o rompimento entendi do antigo laço,

senti nas costas e no olhar o traço,

longo o período ao teclado requerido,

o brilho a contemplar do monitor,

a posição a fazer com que encolhesse

e a cartilagem vertebral sofresse,

fácil que fosse o intelectual ardor,

mas sofre o corpo na longa permanência,

mal recobrada minha antiga resiliência.

 

REINCIDÊNCIA II

 

Mas como antes, houve a satisfação

de um novo desafio que dominei,

como nos textos que antes enfrentei,

outro dever a cumprir nesta ocasião;

mas realmente, não tinha mais noção,

tantos poemas que a limpo já passei

pelos meus dedos facilmente conquistei

os mil rascunhos na palma de minha mão;

porém agora é diverso o movimento,

a tradução me força muito mais

do que essa intercalada transcrição

e sobreveio o descontentamento,

novamente em atrasos consensuais

de meus rascunhos a perdida proteção.

 

REINCIDÊNCIA III

 

Pois desta vez não senti raios de sol

meus dedos percorrendo na ocasião;

ainda conservo o dom da tradução,

mesmo em inglês a fazer versos de escol,

mas traduzir é bem diverso anzol,

a permanência em longa posição,

e os poetas mortos me perturbarão

contra os parágrafos alheios de arrebol;

e quando as novas linhas rascunhei,

nelas achei pendor bastante estranho,

pontos de vista que em nada são os meus,

foram os monstros da raça que escutei

e me marcaram com horror tamanho,

pois são humanos os pensamentos seus!

 

SONETOS MONSTRUOSOS III

O CANIBAL I – 2 ABR 2021

 

Ai, que delícia quando a carne quente

Penetra em minha garganta, mastigada,

Em parte ainda por sangue iluminada,

Que pelos dentes escorre tão frequente!

 

Bem mais sabor possui a humana gente

Do que a carne vacum ao ser provada,

Existe um beijo perfeito em tal talhada

Ou na mordida que se arranca de repente!

 

Porém guardada em um refrigerador

Já não tem o mesmo gosto, certamente

E nem sequer passado o assassinato,

Que o verdadeiro prazer está na dor

Que acompanha o bocado ainda fremente,

No olhar e nos gritos desse prato!...

 

O CANIBAL II

 

Esse tabu eu enfrento como as feras,

Que são carnívoras de modo natural,

Mas tenho visto de maneira mais geral

Que de suas presas são executoras meras.

 

Pescoços mordem na firmeza das esperas,

A refeição sufocada em seu caudal;

Não há misericórdia em tal ato material,

Somente aplicam as precauções mais veras.

 

Assim não pode o alimento resistir

E então o devoram com tranquilidade...

Mas eu amarro a vítima primeiro,

Para depois seu sofrimento deglutir,

O sangue flui em hormonalidade,

Cada dentada um orgasmo por inteiro!

 

O CANIBAL III

 

Agindo assim, assemelho-me a um inseto

Que a alheia carne amacia com enzima,

Desmancha aos poucos porém não assassina,

Anestesiado porém vivo esse objeto!...

 

Canibalismo sendo bem menos abjeto

Entre as tribos dos tupis que a história ensina

Para um sacrifício ritual que assim destina,

Morta essa vítima até com certo afeto...

 

Já eu prefiro que esteja bem consciente,

Para melhor apreciar seu sofrimento,

Na alegria e na dor dessa tortura;

Sua própria alma então devoro calmamente,

Mais do que a carne, sua dor me traz alento

E sua vida incorporo à minha loucura!...


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