NATAL
I – 25 DEZ 13
Revisado
a 29 nov 21
Ao
redor da fogueira nos reunimos
a
celebrar o Yule dos antigos,
vestindo
só a lã grisácea dos mendigos
e
com cintos vermelhos nos cingimos.
Quais
peregrinos aos montes nós subimos,
nas tradições
a redimir castigos,
as
tréguas feitas com nossos inimigos,
longos
archotes de resina ali brandimos.
E
então dançamos em volta de um pinheiro
que
à meia-noite será sacrificado,
sua
chama a espantar a escuridão
e
extinguiremos seu fogo derradeiro
com
o monte de neve acumulado
de
um novo ano garantindo a gestação!
NATAL
II
Em
outra parte temos outras tradições:
não
é santo o pinheiro, é o carvalho,
o
visgo a ser colhido em cada galho,
foices
de prata só nessas ocasiões,
coroas
tecidas para nossas proteções,
pequenos
brotos de azevinho em talho;
para
o alto da montanha, em cada atalho,
ramos
levados de tantas direções
para
a fogueira erguer no descampado,
nessa
noite mais longa e mais escura,
os
espíritos noturnos a espantar,
para
o retorno da primavera, ao terminado
inverno
envolto em asas de brancura,
a
luz do sol em seu seio a amamentar!
NATAL
III
Bem
diferente é o Natal em Portugal:
em
vez de árvore, se fazem figurinhas
de
gesso ou barro, imagens pequeninhas,
para
lembrar essa noite inatural
de
um nascimento de caráter divinal,
ali
dispostas à frente de grutinhas,
um
boi, um burro, ovelhas bem branquinhas,
hálito
quente a presentear cada animal.
Alguns
pastores e reis com seus presentes,
anjos
cantando em coro triunfal,
José
e Maria em igual adoração,
em
seu futuro os humanos confidentes,
que
ofertas paguem seu pecado original...
E os
animais? Será que esperam salvação?
NATAL
IV (Revisado a 30 Nov 2021)
Esse
calor que provém dos animais
ser-me
parece a oferenda natural
dos
que bem não esperam, nem o mal,
nem
no presente, nem em qualquer jamais.
Teriam
corrido entre as ovelhas especiais
Profecias...
Sobre a ação desse pascal
Cordeiro,
que suprimiria no Natal
holocaustos
de ovelha até os finais?
Caso
ocorresse, por telepatia
ou
por efeito de quântica atuação,
seu
bafo quente não seria altruísta...
De
tal fenômeno, eu porém, duvidaria,
o
seu calor inconsciente doação
que,
desta forma, ainda mais mérito conquista.
NATAL
V
Mas
suponhamos que houvesse essa esperança.
Pobres
ovelhas! Fatal desilusão!
O
sangue do Cordeiro, em comunhão,
só
encheu almas humanas de bonança...
São
Francisco, com sua alma de criança
e
seu olhar de imensa compaixão,
levou
aos animais a pregação:
será
que a bênção do Calvário ali alcança?
Possuem
alma, contudo, os animais?
Segundo
dizem, reencarnação é heresia
e
até contraditória à Redenção...
Mas
para os corpos não chegará jamais
dessas
ovelhas, que a gente abateria,
sem
sacrifícios, tão só por refeição!...
NATAL
VI
E o
pobre burro, o que esperaria?
Que
lhe poupassem cargas mais pesadas?
Carnes
de burro são por poucos apreciadas...
Não
obstante, recebeu tanta honraria!
Muito
em breve, essa família fugiria
para
o Egito, em marchas compassadas,
a
virgem e a criança, ali abraçadas,
que
em seu ossudo dorso levaria...
E
muitos anos depois, outro jumento
Jesus
adulto levaria a Jerusalém...
Era
por isso que esse burro respirava?
De
um pecado original isento,
Buscando
apenas a Deus servir também,
naquela
noite em que a neve se espalhava...?
O BURRO E O CÃO I – 26 DEZ 13
Sobre Fábula de La Fontaine –
Revisado a 1º dez 21
Em uma granja, um burro trabalhava
de sol a sol, puxando uma carroça,
todo tipo de carga a transportar,
sem ter descanso.
Com milho e aveia se alimentava,
água bebia no cocho ou em uma poça,
vivia cansado, mas não podia se
queixar.
Mas certo dia, começou a observar
um cachorro que andava pela granja:
corria à toa, latindo sem parar
ou então dormia.
Mas nunca via o outro animal a
trabalhar
e era tratado com carinho e toda a ganja,
carne e ossos não parava de ganhar...
Pois tudo bem, não apreciava o burro
mesmo
a carne e os ossos que lhe davam na
tigela.
Mas por que era o cachorro alimentado
sem trabalhar?
Pior ainda, embora andasse a esmo,
ainda ganhava bolachinhas da janela,
que apanhava no ar, feito esganado!...
O burro via que as crianças riam
quando no ar o cão abocanhava.
Mas, então... o alimentavam por
pular?
Ou seria por comer?
Mas aquelas crianças também viam
quanto ele mesmo no trabalho se
esforçava
e biscoitinhos nem pensavam em lhe
dar!
O BURRO E O CÃO II
E mesmo o dono, a quem ajudava tanto,
cumprindo árduas tarefas diariamente,
nunca pensava em lhe dar a recompensa
de seu esforço...
Era tal qual se o cão tivesse
encanto,
pois só gania e pulava alegremente
e de qualquer obrigação tinha
dispensa...
E depois, viu outro costume do patrão.
Quando chegavam, retornando do mercado,
vinha o cachorro, a pular e a latir,
até atrapalhando...
Mas o dono achava graça, na ocasião,
metia a mão no bolso e um bom bocado
jogava ao animal, sempre a sorrir...
Que o cachorro dava pulos percebeu,
saltando ao peito e, se o dono se
abaixava,
o seu rosto lambendo alegremente
ou então as mãos.
Mas se
ele faz assim, por que não eu?
Se por
lamber meu patrão o recompensava
e não a
mim, é que me porto diferente!
Eu fico quieto, cá
no meu varal;
esse outro pula e
ganha comidinha,
bolo ou biscoito
ou mesmo alguma fruta
e até açúcar!...
Pois então, vou me
portar igual:
lambo-lhe a cara e
ganho bolachinha!...
Sou maior, do cão
eu ganho nessa luta!...
O BURRO E O CÃO III
Assim, o burro esperou, até que um
dia
viu o patrão desmontar de seu cavalo
e o cachorro chegou logo de imediato,
dando voltinhas...
E de estar atrelado já esquecia,
soltando um zurro forte como um galo,
o burro se lançou, num desacato!...
Meteu as patas nos ombros do patrão
e toda a cara começou a lhe lamber!
E o dono, no descuido da surpresa,
caiu de costas!...
Viu as rodas já chegando pelo chão,
os dentes grandes do burro a perceber,
qual ameaça de terrível natureza!...
Até o cachorro a dar latidos se
escapou!
E o burro lamber mais ainda queria...
Mas, que
horror! Esse bicho endoideceu!
Vai me
matar!...
E da cintura uma garrucha ele puxou,
que na boca do animal depressa enfia:
logo dois tiros o pobre bicho
recebeu!...
Assim, sua recompensa foi a morte...
E o cachorro, sem sentir mais medo,
começou a morder o pobre bicho,
no chão caído...
Deste modo, gozou da melhor sorte,
ganhou biscoitos, sem maior segredo,
enquanto ao burro só arrastaram para
o lixo!
EPÍLOGO
Também se espera, em nossa
sociedade,
de cada um, comportamento
previsível:
o cavalheiro pode beijar a mão da
dama,
mas o mendigo não...
Ganha o famoso mais honra, na
verdade,
porém castigo será muito possível
a qualquer outro que igual valor a
si reclama...
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