Capítulo Três – 29 out 2021
O Diretor era novo nessa escola,
tinha uns trinta e cinco anos, pouco mais;
o anterior, que fora muito seu amigo,
se aposentara afinal, no ano anterior,
após bela homenagem, meio tola,
em que notou que todos os demais
colegas eram mais moços que o antigo
pessoal, sem ter com eles discussão maior.
Bateu à porta.
“Entre, Professor!”
O Diretor recebeu-o cordialmente.
“Por favor, sente-se. Não vamos demorar,
mas é melhor que se sinta confortável...”
Numa poltrona nova e de valor
foi assentar-se, esperando realmente
não ficar preso muito tempo no lugar:
perder o começo de O Messias era impensável!
“Professor, como está a sua saúde?”
“Muito bem – e olhe que tenho idade!
E a sua, Diretor?”
“Também vai bem.
O senhor leu o nosso memorando?”
“Não, não li, mas o conteúdo não me ilude,
ficar outro ano aceitarei com equidade
igual à que recebo.
Não sei, porém,
porque o costume continua perdurando...”
“Por que renovar o contrato a cada ano?
Mais de cinquenta desses já assinei...”
“Quer dizer que o senhor ainda não leu?”
“Não é preciso, cada ano é sempre igual...”
“Não desta vez!
Vai causar-me um certo dano,
mas não foi contrato igual que lhe mandei...
O Conselho Diretor este ano resolveu
agradecer o seu trabalho tão genial...”
“Ora, não é preciso agradecer!
Sempre recebi, afinal, meu pagamento,
não faço mais que a minha obrigação...
Posso assinar agora esse contrato?”
O Diretor pigarreou até se resolver.
“Não, Professor.
Tenho o aborrecimento
de lhe dizer que não terá renovação.”
O professor sobressaltou-se em desacato.
“Como assim, estou sendo despedido?”
“Não, Professor, é sua aposentadoria;
cinquenta anos é o período final,
o senhor tem sessenta e cinco na função,
mas o contrato deverá ser rescindido.
O Conselho, com generosidade, concedia
dois terços de seu pagamento normal
enquanto viver e ainda terá nossa proteção.”
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