O APITO ENFERRUJADO
Capítulo Seis – 31 out 2021
“Eu não devia ter soprado o apito
que tirei daquele capataz maldito.
Você ouviu, eles também vão escutar!
Quem sabe eu posso encontrar o General,
talvez meu Pai me proteja de outro mal...
Tome o apito, você pode precisar!...”
“Se algum dia precisar de mim,
assopre um silvo deste jeito, assim
e eu prometo que venho lhe ajudar...
Mas agora, daqui eu vou correr,
fique com o fogo, que pode lhe aquecer...
Eu sinto frio, mas preciso me escapar!”
Ele fugiu para o escuro, em seu temor
e logo Steffany começou a sentir torpor:
era o cansaço de tanta caminhada!
Ela deitou-se junto da fogueira,
adormecendo a seguir a noite inteira,
até que fosse finalmente despertada.
Era seu pai, com muitos ajudantes,
que a haviam procurado, bem constantes,
e finalmente avistaram a débil luz...
“Steffany, meu amor, que alívio sinto!
no coração sua imagem morta eu pinto,
até que vimos esse braseiro que reluz!...”
“Mas como fez para acender o fogo?”
Tentou explicar, porém calou-se logo.
“Você saiu-se muito bem para seus anos!
De algum modo esta fogueira construiu,
decerto um fósforo para isto lhe serviu:
agora esqueça pesadelos tão insanos!”
Ao chegar em casa, tomou banho
e sua fome saciou de bom tamanho,
foi paparicada e a levaram para o leito,
mas no fundo de seu bolso estava o apito,
enferrujado e incapaz do menor grito,
sem conserto, tão grande era o defeito.
EPÍLOGO
Guardou-o Steffany até seu casamento,
sem tentar assoprá-lo um só momento,
temendo ver o menino com seu cão.
Teria acaso o encontrado pelo chão?
Teria sido tudo tão só um pesadelo?
Ou vira mesmo o tal menino em seu desvelo
pelo cachorro, tão magros os dois?
E sem saber o que fazer depois,
finalmente o lançou a uma vertente,
que para o rio o carregou numa torrente.
Melhor tirar da cabeça essa ocasião:
fora o cansaço e sua excitação,
tivera febre, fome e frio... Fora
alucinação?
Seria possível uma tal dupla assombração!?
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