Capítulo Quatro – 30 out 2021
“Mas os alunos me esperam em Janeiro!”
“Eles não sabem de nossa decisão...”
“Mas qual o erro que agora cometi?”
“Professor, não faça isto mais difícil para mim,
nem torne amargo o seu dia derradeiro...”
“Estou sofrendo a maior desilusão,
nem um aviso prévio eu recebi!...”
“Não, professor, foi comunicado, sim.”
“Foi naquela correspondência mencionada
que o senhor admitiu não haver lido.”
“Não existe forma de se reverter?”
“Para a reunião o senhor foi convocado
em outra carta que lhe foi antes enviada;
se à reunião tivesse então comparecido,
em seu favor poderia algo dizer,
agora em Ata já está consignado.”
O Diretor então se levantou
e conduziu o professor até a porta:
“Vai receber sua aposentadoria regular
e o auxiliaremos, se houver necessidade.
Por muito tempo o senhor colaborou,
mas sua idade já não mais comporta...”
“A minha idade deveria respeitar!”
“É por respeito que o dispenso, na verdade.”
“Antes que possa a si prejudicar.
Não pense ter sido ideia minha, no entretanto,
o Conselho é que tomou a decisão.
Entenda bem, já passou bastante do limite...”
O professor ao corredor foi caminhar,
mal escondendo as lágrimas de pranto:
Esta
escola é minha vida! A profissão
nem
sequer um casamento me permite!...
Tenho
somente a minha governanta,
a
Dona Martha, que me é muito dedicada;
não
tenho filhos e nem um só parente,
meus
filhos e netos são meus estudantes
e
agora a própria escola é que me espanta!
Nem mais lembrava que a hora era chegada
da transmissão de O Messias, indiferente
ao bom projeto que tivera dantes...
Alguns alunos notaram. “O que aconteceu
com o professor, o Velho Barba Torta?
Tenho certeza de que o vi chorando...”
O velho saiu ao pátio, meio cego,
atravessou o campus e até esqueceu
de ligar o seu radinho de onda curta...
“Está doente, professor?” Foi indagando
Dona Martha, que por ele tinha apego.
Nenhum comentário:
Postar um comentário