PRAIA
VERMELHA I – 8 DEZ 21
A
inspiração se agacha de tocaia
e
morde quando quer. Apenas traço
a
vereda incluída em cada passo,
meu
coração aguilhoado de azagaia.
A
linha impura dessa estranha laia
só
me permite o controle mais escasso
e
sem poder impedir, caio no laço,
qual
garanhão contido numa baia.
Contudo,
quando a musa se menstrua
e
não me quer amar por esse dia,
eu
me masturbo em novo resultado,
lançando
versos amargos para a rua,
meio
duros e incolores nessa via,
quando
sua falta me deixa amargurado.
PRAIA
VERMELHA II
Amor,
contudo, é um sonho avermelhado,
que
em si mesmo nos traz coloração;
cheios
de cor tais versos sairão,
mesmo
que amor os tenha abandonado.
O
problema é que amor foi deslocado
e
não se pôde manifestar em gestação,
a
morte chega nessa menstruação:
quantos
milhares perecem nesse fado!
Porém
se a musa espia lá do alto,
pouco
importa que amor não tenha sexo
ou
que se perca em dobras de algodão,
que
para outros nascimentos dá ressalto
e
nessa ausência da carne traz um nexo
que
mesmo à morte dá uma certa remissão.
PRAIA
VERMELHA III
Assim
me lanço bem disposto na armadilha!
Sempre
se pode abraçar a quem se quer:
algum
perfume se aspirará qualquer
dos
feromonas que se alçam de sua bilha.
Quem
ama pode percorrer segunda milha,
só
acompanhando os passos da mulher,
diante
da graça da presença que trouxer,
lado
a lado a tropeçar na mesma trilha...
E
é assim que aceito o golpe da azagaia:
se
algum filho surgir, é um sonho meu
que
em mim talvez gerou o seu odor,
que
minha narina aspirou em nuvem gaia,
quando
seu ventre pouco ou nada concedeu
mas
em minhalma gerou versos de amor!...
TÍTULO
ESQUECIDO I – 9 DEZ 21
Por
um motivo que nem mais recordo,
como
um título futuro de poesia,
o
nome “Idanoh” registrei um certo dia
e
francamente, nem sei se mais concordo
em
ainda o utilizar ou se discordo –
tantos
rascunhos ainda encontraria!
Por
que motivo Idanoh contemplaria
com
uma parte do tempo em que me acordo?
A
única referência que encontrei
é
que seja minúscula cidade,
em
Staffordshire... Mas por que
fui
anotar esse nome? Em que pensei?
Que
inspiração me traria na verdade?
Qual
o motivo que em tal cartão se lê?
TÍTULO
ESQUECIDO II
É
indubitável que me serve de pretexto,
certo
exercício para agradar a Apollo,
mas
não me trouxe magia sobre o colo:
em
nada Dionyso me bafejou seu texto...
Somente
ocorre que em qualquer contexto,
ou
por virtude ou por manhoso dolo,
ora
estas linhas me servem de consolo
e
outro soneto por aqui se escorre presto...
Só
me pergunto a quem possa interessar
isso
que escrevo agora em desfastio,
se
nem em mim sequer algo desperta!
Mas
se essa tinta estou a esperdiçar
e
me parece que só tolice isso que eu crio,
para
o impossível conservo a mente aberta.
TÍTULO
ESQUECIDO III
Certamente
encontrei numa leitura
essa
palavra assim tão desusada,
que
no passado tornou-se registrada:
o
que esperava dessa memória impura?
Mas
em momento de esquecida agrura
a
minha lembrança foi por ela espicaçada
e
para possível inspiração marcada;
então
a escrevo, sem grande compostura.
Sem
ter qualquer noção do seu final,
mas
nada creio que me venha por acaso:
se
o nome eu registrei, foi decisão
que
a meu porvir demarcou algum fanal...
Quem
sabe se cumpriu hoje esse prazo
e
essas palavras para alguém mesmo servirão?
TONICIDADE RARA I – 10 DEZ 21
O
problema das Proparoxítonas
é
a dificuldade das rimas encontradas;
seriam
com prazer mais empregadas
do
que as rimas femininas Oxítonas.
É
bem mais fácil empregar Paroxítonas:
de
quaisquer verbos poderão ser derivadas
e
como rimas masculinas são chamadas
(Em
Espanhol até há Preproparoxítonas!)
As
Oxítonas gerariam rimas femininas,
segundo
afirmam (ou será o contrário?)
Rascunhos
crio qual respirar diário,
Mas
Proparoxítonas são palavras finas,
que
apreciaria até usar com mais frequência,
mas
que é preciso incluir dentre a cadência!
TONICIDADE RARA II
Tenho
a impressão de que só posso usar
a
maioria, por mais que delas goste,
com
rimas tônicas de que me desgoste,
somente
à métrica podendo apaziguar!
E
fico aqui neste contrabalançar
bem
feminino com a masculina hoste,
mais
como um exercício a que me arroste,
quando
real inspiração venha a faltar!
Não
obstante, me submeto ao crivo crítico
na
redação de meu dever poético,
sem
ser de fato um compromisso ético
e
me ponho a procurar um novo dístico,
que
gravarei no mármore mais lítico,
mas
cujo efeito ainda me deixa cético!
TONICIDADE RARA III
Às
vezes, é assim. Pago tributo
a
Apollo e a Dionyso diariamente,
com
três sonetos de cunho intermitente
ou
a alexandrinos darei salvo-conduto;
mas
se algum dia não sinto qualquer luto,
nem
de um amor a inspiração premente,
embora
desse amor seja consciente,
para
o proparoxitonal não é arguto.
Porém
os deuses da rima me avassalam
e
exigem da tarefa o cumprimento,
mesmo
que as musas tenham ido para a praia;
e
destarte versos vagos se intercalam,
na
tarde quente de meu padecimento,
sem
merecer aplauso ou qualquer vaia!
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