O VELHO PROFESSOR
Capítulo Cinco – 31 out 2021
“Ah, não é nada, não se preocupe...”
“O senhor veio mais cedo.
Vou aquecer
o seu jantar...” “Olhe, não quero comer...”
“Mas o que houve? Nunca perde o apetite,
deve ser algo que sua mente ocupe,
nunca o vi antes seu jantar perder...
Quer uma sopa? Depressa vou fazer...”
“Não quero nada, Dona Martha, não se irrite...”
Mas a governanta insistiu bastante,
até que o professor lhe confessou:
“Fui hoje despedido pelo novo Diretor...”
“Mas de repente, sem razão, sem nada...?”
“Ganho aposentadoria até bem interessante,
mas este fato minha vida condenou,
sinto-me inútil por todo o meu labor,
minha obra toda sendo desprezada!...”
“Não fique assim, Professor! Desanimado,
não há razão para tanta depressão...”
“Não estou deprimido, é a realidade,
eram minhas aulas que me mantinham vivo
e agora que me vejo dispensado,
eu me dou conta que meu velho coração
está vazio, só restou a inermidade:
eu precisava de permanecer ativo!”
E caminhou devagar até a estante,
em que guardava meio século de anuários,
com os retratos dos antigos estudantes,
a folhear cada livro amarelado...
“Para a senhora pode não ser interessante,
mas os conservo tais como sacrários,
eu recordo meus rapazes como dantes,
sei o nome de cada um aqui mostrado!”
Fechou o anuário. “Acho que vou me deitar,
para a hora do jantar ainda é cedo...”
“O senhor não vai ligar o seu radinho?”
“Ah, é verdade, transmitem O Messias...”
Ligou o aparelho, mas ficou sem escutar,
não conservava o oratório algum segredo
para arrancar de sua alma aquele espinho,
seu coração percorrendo tristes vias...
Mas de repente, a colcha retirou
e saiu para a rua sem chapéu,
nem sobretudo, no inverno rigoroso,
os pés pisando em cinco polegadas
de neve, mas o frio não o abalou,
nem o cinzor que recobria o céu;
foi caminhando com passo vagaroso,
até uma estátua de eras já passadas.
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