DOCE
É O NOME I – 2 mar 22
(Greta Garbo)
sinto
doçura ao teu nome pronunciar,
no
céu da boca, qual fora uma estrela,
escorre
a gota qual beijo de donzela
até
a glote para quase me engasgar.
sinto
doçura ao teu nome relembrar
no
céu do crânio, acima das lamelas
das
três meninges protetoras, cinderelas
de
qualquer beijo gentil de romantismo.
sinto
doçura cada vez que o escutar,
mesmo
arriscando certo laivo de ciúme:
por
que outrem teu nome falaria?
pois
eu apenas o devera pronunciar
e
o sinto envolto em cobertura de azedume,
que
em meu egoísmo só a mim pertenceria.
DOCE
É O NOME II
sinto
teu nome quando a chuva cai,
seus
pitepates leves na janela,
mais
uma vez qual beijo de donzela,
da
persiana à vidraça leve vai;
sinto
teu nome quando a nuvem sai
de
trás dessa colina sentinela,
que
de verdor parte do céu cinzela:
algodão
doce sobre mim recai.
ouço
teu nome quando o bentevi
feroz
pipila, sem comigo se alegrar
ou
o picapau minha glicínia ataca;
decifro
o nome em cada som que ouvi,
mesmo
a busina da carreata a anunciar
que
o livre trânsito nas eleições empaca...
DOCE
É O NOME III
sinto
teu nome no fugor da aurora
e
em cada viração crepuscular,
sua
luz melíflua aciona o meu sonhar,
envolto
em ti de novo nesta hora.
cada
aspecto do céu meu canto explora
e
se expande novamente em globular,
mil
meteoros te fazem relembrar:
cometa
algum enviarei embora,
que
a teu redor orbite em espiral,
porque
teu nome continua perto;
e
que não seja tal órbita um oval,
teu
nome sinto em cada supernova
que
assim reluza sobre o céu aberto,
que
em ferro em brasa meu coração comova.
SANGUE É O NOME I – 3 MAR 22
por que se encontram atavés da terra
essas deidades tão sanguinolentas?
são adoradas das formas mais cruentas,
sangue em hissopo sobre o povo que se
aterra;
por que a ânsia de sangue que se encerra
nesse anseio por fumaça nas suas ventas,
por que tantos altares como forjas
labarentas
nos píncaros a instalar de cada serra?
seria de supor que os sacerdotes
carne quisessem para seus banquetes,
sob o pretexto de aos deuses ofertar.
e certamente, nesses convescotes,
a imagem do garfo nos panelões completes,
das longas mesas em que os vês sentar...
SANGUE É O NOME II
sabe-se lá o que tais deuses comem;
parece a bíblia ser mais realista:
é a fumaça que do altar sobe à pista,
enquanto as chamas as vítimas consomem,
mas é só parte das ofertas que se tomem
para queimar no altar que ao deus insista,
o restante preparado bem à vista
e que os melhores pedaços se retomem
para alimento dos sacrificadores;
que seja o sangue totalmente derramado,
que pelos sulcos do altar seja levado
como adubo para os campos dos senhores,
o seu valor não sendo assim todo perdido,
mas em futuras colheitas convertido...
SANGUE É O NOME III
raros os casos de queima total,
como no ventre faminto de carthago,
ao deus moloque entregue o seu afago:
pois são carnes de crianças afinal!
ou culto oriundo da frígia oriental, (*)
em que jovens se esmagam como lago
de sangue, ao comando de algum mago,
consagrado ao poderio matriarcal
da grande-mãe, ou quando o substituto
do rei – ou o próprio rei, às vezes,
é degolado para as colheitas garantir;
por que o sacrifício final e absoluto
da vida humana, quais humanas rezes,
senão ao sadismo de hierofantes assistir?
(*) hoje no nordeste da turquia.
BEIJO É O NOME I – 4
MAR 22
as muitas vezes que
eu amei passaram,
pertencem ao jamais e
só me resta
este sonho de amor
que não contesta
as ilusões que meus
olhos conservaram;
ficam no nunca os
beijos que colaram
contra minha boca a
gelatinosa giesta,
porém sua ausência
não mais me molesta,
que são vivas as
memórias que sobraram.
mas o que houve com
um beijo do passado,
quer se a memória
tornou-se falecida,
quer ainda viva,
visto que é memória?
existe o beijo além
do lábio alçado
ou só de um toque
pode ser nutrido,
fora das bocas sua
existência inglória?
BEIJO É O NOME II
eis um dilema: é o
beijo pura ação,
apenas carne contra
carne nesse adejo,
consecução apenas de
um desejo,
ou tem sua vida e
própria duração?
se for apenas essa
consumação,
todo beijo só depende
de um arpejo;
metade é teu, caso o
dês sem pejo,
metade de outram,
para ter realização.
pode um beijo existir
de si somente,
sem duas bocas a lhe
dar significado,
qual mariposa,
pequeno ser alado?
pode um beijo
introduzir-se, de repente,
entre o olor que
projetam dois amantes
e então partir, igual
qual fora dantes?
BEIJO É O NOME III
será que andam os
beijos por aí,
à cata de ptialina e
de saliva,
a intrometer-se, de
tal forma incisiva,
por entre as bocas,
sem suspeitar de si?
será que após
manifestar-se ali,
revoa o beijo, com
sua fome rediviva,
qual um duende que
nos incita aqui?
só os europeus
desenvolveram o costume,
da mesma forma que o
arreganho do sorriso,
em outros portos o
beijo nem chegou,
dessa atração a
atiçar o gume,
numa alegria que põe
de lado o siso
em cada olhar no qual
breve rebrilhou?
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