sexta-feira, 11 de março de 2022


 

 

O TEMPO DALMA I – 7 MAR 22

 

Sempre difícil é saber do tempo dalma,

quando se tenta desvendá-lo com a razão;

o tempo dalma é atoladouro de emoção,

que nos pode engolir em plena calma

ou ao contrário, um elixir que embalma

e lentamente nos envolve em ilusão,

porque o tempo dalma é coração,

nele a alegria e a tristeza agitam palma.

 

O tempo dalma é sempre inesperado,

quando nos chega, é como epifania,

que em todo o corpo o iluminar nos cria,

qual nova aura que nos brilha ao lado,

que se expande e em vibração se alia,

muito além de todo o mérito ou cuidado...

 

O TEMPO DALMA II

 

O tempo dalma rebrota do interior

ou nos é pelo exterior só demarcado?

Só quando surge se percebe foi achado,

mas não depende de qualquer pendor;

foi desenvolvido por nosso vigor

ou veio de alhures, sorrateiro e alado?

O tempo dalma é que nos tem caçado,

nessa emboscada que se chama amor?

 

O tempo dalma pode ser a voz de um anjo

a insuflar-nos um ardor espiritual,

que nos impele aos albores do entusiasmo

ou é resultado de um suave banjo

da voz que surge em vibração carnal,

só a antecâmara, afinal, do orgasmo?

 

O TEMPO DALMA III

 

O tempo dalma é uma esguia serpentina

que nos envolve num arcano festival,

muito mais amplo que um exíguo carnaval,

como um balanço que para nós se inclina

e gentilmente toda a carne nos domina,

seja apenas para qualquer amor sensual

ou o realizar de alguma obra triunfal,

com a qual alheia alma se fascina?

 

Ai, tempo dalma, como se o desconhece!

Não é possível se provocar o amor,

nem em obra de gênio se insistir

e nem sequer se ganha em qualquer prece,

mas quando chega, traz pleno esplendor,

quando quer e quando quis nos revestir!

 

O TEMPO DO SABER I – 8 MAR 22

 

Conhecimento é um altíssimo rochedo

que só aos poucos se presta a ser galgado;

se alguém no vale está localizado,

julga do mundo conhecer todo o segredo;

porém mesmo que levante-se bem cedo,

assim que a luz do sol tenha chegado,

pouco percebe que, nos píncaros alçado,

há muito o astro saiu de seu degredo.

 

Mas ao lançar ao redor sua vista airada,

cada detalhe de seu vale é conhecido,

mesmo o ribeiro que o corta tem seguido;

se a falta da montanha acaso é compassada,

quando achar que precisa esse penhasco

subir aos poucos, até sente um certo asco...

 

O TEMPO DO SABER II

 

Porém quem sobe a falda da montanha,

logo percebe seu mundinho se ampliar,

saber maior já tendendo a conquistar,

o antigo vale a seus olhos já se acanha.

Salvo quem tenha imaginação tacanha,

logo percebe haver mais a se alcançar,

a luz do sol mais cedo a se enxergar,

um certo ímpeto a realizar outra façanha!

 

E de repente, escalado esse penedo,

bem lá do alto, quanto se descortina!

Então se alarga o horizonte na amplidão,

metade em ambição, metade em medo,

o resultado de erguer-se essa cortina

e das certezas anteriores a evasão!

 

O TEMPO DO SABER III

 

Por isso, quem já chega quase ao alto,

ao ser louvado por ter sabedoria,

percebe bem, sem qualquer hipocrisia,

que isso que sabe é bem menos que o ressalto;

somente alguém de raciocínio falto

pensa saber bem mais do que sabia,

pois muito avista além do quanto havia,

que seu olhar só abrange em breve salto!

 

E quando dizem: “Só sei que nada sei”,

nada mais fazem que apenas constatar

como é amplo o universo a desvendar,

e de seu próprio horizonte não ser rei,

mas só divisam a fronteira da amplidão,

que certamente jamais contemplarão!

 

O TEMPO DA POLÍTICA I – 9 MAR 22

 

Nunca me interessei por política carreira,

meu pai e minha irmã eram nela encalacrados;

por suas ideias os meus atos respingados,

fui perseguido por gente interesseira;

nunca fiz compras direto nessa feira:

lutar por votos em palanques estressados,

desde o começo meus motivos caluniados:

realmente, não é coisa que se queira!

 

Considerando essa tradição premente

na busca infanda por se obter poder,

já grande parte traz em si a corrupção;

quem se comporta de qualquer forma inocente,

rapidamente se conduz ao corromper:

os que na lama pisam, respingados sempre são.

 

O TEMPO DA POLÍTICA II

 

Mesmo que fosse bem diversa essa tendência

e realmente patriotismo se encontrasse

em quem aos postos se candidatasse,

infelizmente, coisa bem rara essa potência,

existe o dolo em toda a interveniência,

toda a inveja e a picuinha dessa classe,

muita calúnia que no rosto se estampasse

de adversários, sem a menor clemência.

 

Pior ainda, quando as coisas andam bem,

há um impulso a criticar os melhores,

que o povo acredita ser o bem sua própria obra;

mas se as coisas desandam, igual se faz também,

que os governantes se acredita ser piores,

e por suas faltas, cada um, a quem governa cobra.

 

O TEMPO DA POLÍTICA III

 

Mas nessas críticas não existe honestidade,

causadas são, em geral, por ambição,

que derrubar se consiga de onde estão.

por qualquer meio e por qualquer maldade!

Com que frequência, até mesmo autoridade

do próprio partido, seus colegas, em ocasião,

vão atacando sem a menor inibição,

que lucros tenham nessa competitividade.

 

E o pior é que, não importa qual partido,

todos desejam só o poder se conquistar

e o povo serve tão apenas como escada!

Pois no momento do cargo conseguido,

seja quem for, só busca a si locupletar,

sem esforçar-se pelo povo em nada!

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