segunda-feira, 14 de março de 2022


 

 

O MENINO SEM CABEÇA II – 3 dez 21

 

“É um milagre de Nossa Senhora!”

Afirmava-se agora pela aldeia;

No buraco do pescoço entrava a ceia,

o almoço e o jantar, sem mais demora!

Logo ajudava o seu pai na plantação,

com um chapéu amarrado no casaco;

lavava louça se provocar um caco,

até as fraldinhas mudou de cada irmão!

 

Porque a família era muito religiosa

(a maior parte dos irlandeses são católicos)

e praticava os deveres mais bucólicos

de crescer e multiplicar-se, prestimosa...

Inicialmente, houve até certo receio:

e se os outros também nascessem sem cabeça?

“Rezem bastante! O dom de Deus não cessa!

De serem os outros normais haverá um meio!”

 

E realmente, os outros nove irmãos

vieram ao mundo perfeitamente cabeçados,

mas estranhamente, um tanto retardados

se ao sem-cabeça fizessem comparações.

Rudolf de longe era o mais inteligente,

mas continuava sem ter uma cabeça

e era preciso que a alguém a peça,

que não ficasse espantando toda a gente!

 

A mulher do padeiro, compassiva,

um dia lhe deu uma cabeça de farinha,

pintou olhos e boca, ficou bem bonitinha,

tinha até mesmo uma expressão altiva!

Porém Rudolf mostrou-se agradecido,

mas disse que a cabeça lhe impedia

de respirar e assim ter de recusar precisaria:

“Por sua bondade, me sinto comovido!”

 

E as coisas iam até bem transcorrendo,

mas os irmãos de Rudolf já cresciam

e embora em nada mais se surpreendiam

e um certo medo de fato iam perdendo,

um certo número de seus companheirinhos

troçavam deles por causa desse irmão,

não faltando quem falasse em ocasião

que todos eles não passassem de monstrinhos!

 

E embora o mais velho sempre os ajudasse,

aos poucos dele começaram a se afastar:

“Não mais queremos precisar brigar,

quando de nosso irmão alguém troçasse!”

E desse modo, o menino sem cabeça,

agora já um homem forte e adulto,

ao contemplar a sombra de seu vulto,

de sua aldeola decidiu partir depressa!

 

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