terça-feira, 8 de março de 2022


 

 

QUANDO AMOR COMANDA I – 5 MAR 22

(Dinah Shore, cantora romântica)

 

Amor é uma ladeira que escorrega

direto ao fundo de teu coração,

sem ser cortada por qualquer paixão,

mas cobrando de ti total entrega.

A cada parte de ti amor se apega,

nunca se atém à brevidade da ilusão,

que bem depressa se evolaria em ocasião:

é a planta virgem que teu sangue rega.

 

Quando te assola, em rito imponderável,

sempre se faz totalmente irresistível,

nunca em carnal desejo transitório,

que satisfeito, se esvairia miserável,

para perder-se em qualquer paço inglório,

enquanto o amor já e de si inexaurível.

 

QUANDO AMOR COMANDA II

 

Amor é algo que, quando se instala,

não pode mais ser fácil impedido;

aos poucos cresce é torna-se incontido,

quando o percebes, é que já te avassala.

Não é amor só a ilusão que embala,

nem o desejo que quer ser atendido,

é algo que te aborda, não um destino tido,

conselho mudo que jamais se cala.

 

Claro que podes renegar o amor,

porém não impedir seu crescimento,

quais que sejam tuas circunstâncias;

mesmo encadeado por fortes instâncias,

fica no peito qual vibrante ardor,

a mastigar todo o alheio sentimento.

 

QUANDO AMOR COMANDA III

 

Porquanto amor de tua vontade é alheio,

desliza em ti sem te dar satisfação,

quer por revolta de teu coração,

quer por motivos de maior receio;

é escorredio e te arrasta de permeio,

crescendo em ti a despeito da razão;

mais forte fica se encontrar abnegação,

da mente inteira a comandar o veio.

 

Nele te atolas, quer sendo reprimido,

quer sendo inteiramente satisfeito,

que existe fora, alheio à tua vontade,

pelo interno e exterior a ser nutrido,

recrudescendo por seu pleno direito,

a tripudiar sobre tua inteira humanidade.

 

A TRINDADE EGÍPCIA I – 6 MAR 22

 

Tambem os Egípcios tinham sua trindade,

muito diversa desta que adoramos:

“Deuses, homem e animal”, qual deciframos

nos hierógrifos dessa arcana humanidade;

participa o humano da animalidade

e não alcança de Osíris tons diáfanos,

senão depois que em balança contemplamos

suas ações medidas em sua totalidade.

 

Contra uma pena, nos pratos da balança,

seu coração é pesado com cuidado;

se demonstrado mais maciço do que a pena,

é devolvido ao corpo, que se lança

por um alcapão, em total religiosidade,

para ser devorado ao fim da cena.

 

A TRINDADE EGÍPCIA II

 

Claro está que a pena mística devia

ser feita de metal, caso contrário,

nenhum coração humano atrabiliário

a tal comparação resistiria!...

Aos Faraós, é natural, se perdoaria

essa prova de valor tão multifário;

já Osíris eram desde o seu sacrário:

 sua múmia direto ao deus se integraria!

 

Se bem que, de fato, o régio coração

fosse em um dos vasos canópicos guardado,

sem que chegasse a ser mumificado;

será que o Faraó, nessa ocasião,

seguiria para Osírios incompleto,

ou ascendia seu Ká de modo mais secreto?

 

A TRINDADE EGÍPCIA III

 

Em simbolismo, cada egípcia divindade

ostentava uma cabeça de animal

e os sacerdotes, em seu ínclito ritual,

usavam máscaras a representar sua potestade.

Certamente os animais, na antiguidade

eram igualmente protegidos  contra o mal,

pela sua consagração ao divinal,

muitos tornados em múmias de verdade.

 

Mas o rosto humano era tido como impuro,

portanto os deuses repudiavam sua feição,

mas de animais em inocência consagrados;

que nenhum egípcio se tivesse por seguro,

mas submetido à tríade em sua humilhação,

por suas mentiras e seus temores sopesados.

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