sábado, 19 de março de 2022


 

 

O MENINO SEM CABEÇA III – 4 dez 21

 

Assim Rudolf despediu-se de seus pais

e dos irmãos, ainda um pouco constrangidos,

seus olhares envergonhados e perdidos,

sem saber como encarar momentos tais,

todos em parte a se sentir culpados,

mas em parte justamente o oposto,

que aquele estranho irmão tanto desgosto

lhes causara e assim sentiam-se aliviados!

 

Por via das dúvidas, o tio que era sacerdote

fez que levasse a certidão de batizado

e um comprovante de que fora até crismado

e que vivia pelo maravilhoso dote

de Nossa Senhora, sem que fosse feiticeiro;

que em qualquer lugar desconhecido

não fosse por sua falta perseguido

e assim Rudolf se despediu faceiro...

 

mas cabeça não é coisa que se ache

com facilidade.  Quem a tem, precisa dela

e de algum morto, já recebendo vela,

caso em uma sepultura até se abaixe,

só encontraria os ossos da caveira

e Rudolf seria bem mais assustador

com crânio no pescoço, um grande horror

a quem o visse pela vez primeira!

 

Deste modo, viajava com capuz

e uma medalha ao pescoço pendurada,

a sua falta de cabeça disfarçada

e protegido pela Santa Cruz.

Então, passado seu assombro inicial,

as pessoas com ele conversavam

e uma cabeça para ele procuravam,

mas não servia de louça ou de metal!

 

Em uma aldeia, ofereceu-lhe o açougueiro

uma cabeça recém cortada de um carneiro,

porém o rapaz a recusou, com certa dor:

“Com esse pelo e os chifres é pior!”

Em outra aldeia, também lhe ofereceram

uma cabeça empalhada de macaco!

“Já não posso respirar, é como um saco!”

Foi-se embora e todos fácil compreenderam...

 

Finalmente, ao chegar numa fazenda,

uma cabeça de porco foi mostrada,

do pobre bicho fora recém cortada,

que talvez lhe servisse como prenda!...

E até que dava pelo focinho respirar

e pelos olhos do porco se enxergava,

mas não gostou da aparência que lhe dava

e foi assim obrigado a recusar!...

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