sexta-feira, 25 de março de 2022


 

 

O MENINO SEM CABEÇA VII – 8 dez 21

 

Rosaflor encolheu-se, apavorada,

mas Fortinbrás era guerreiro bem valente,

mesmo não sendo lá muito inteligente

e em sua direção foi dando uma passada.

“Onde está a sua cabeça?” – repetiu.

“Não a tenho.  Por isso foi que duvidei

que a pudesse cortar...” “Mas agora que jurei,

como o posso matar...?” Fortinbrás se confundiu.

 

“Já falei, nasci assim.  Sou batizado,

não sou um truque desse velho feiticeiro,

foi só agora que o vi primeiro,

em nada fui por ele enfeitiçado!”

“Puxa vida!” – resmungou o cavaleiro

e lhe foi mexer nos bolsos do gibão:

“Guardou-a aqui, por acaso, mandrião?”

“Quem cabeça no bolso já viu guardar primeiro?”

 

“Nunca se sabe...”  “O senhor já me jurou

e em troca tem meu próprio juramento:

sou sem cabeça desde o nascimento

e não conheço esse mago que matou!”

Então disse a Princesa Rosaflor:

“No princípio, eu fiquei muito assustada,

mas acredito em sua palavra empenhada,

esse coitado é inocente, meu amor!”

 

“Mas como veio aqui, sem ter cabeça?”

“É que eu saí andando pelo mundo;

eu vejo e ouço por mistério bem profundo...

Por tal razão, é preciso que lhe peça

essa cabeça do mago, porque já procurei

por toda parte...”  “Pobre infeliz!”

O paladino, já um tanto comovido, diz.

“Se a quer tanto assim, eu lha darei.”

 

“Mas não vai transformar-se noutro mago?”

“Não, meu senhor.  Eu não penso com a cabeça,

mas certamente posso servir-me dessa,

para comer e sentir gosto de um trago...”

“Então, pegue...” – Fortinbrás disse, convencido.

“Não vai precisar de que eu lhe alcance?”

“Não carece.  Eu a pego num relance...”

E Rudolf então a ergueu, agradecido.

 

Colocou-a, com cuidado, no pescoço,

no qual ela se ajustou perfeitamente...

“Ora essa!  Vejo o mundo diferente:

com dois olhos a perspectiva esboço

e ouço as coisas bem melhor agora!

Só não aprecio estar sentindo o cheiro,

o sangue do mago farejo bem ligeiro,

mas eu pretendo ir bem depressa embora!

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