O MENINO SEM CABEÇA IX –
10 dez 21
Assim que ficaram os dois
sozinhos,
curioso, o médico indagou
o seu segredo,
confessando até mesmo
sentir medo,
porém Rudolf lhe
respondeu, devagarinho:
“Eu só lhe conto depois
de dois favores:
ponha de volta na posição
correta;
me amarraram nesta porta,
numa treta,
como se fosse maca, em
seus temores!...”
“Quer que eu
costure?” “Não, não é preciso,
só encaixe bem no furo do
pescoço
e por favor, me sirva um
bom almoço,
que estou com muita fome,
já lhe aviso!...”
Após tê-lo alimentado o
suficiente,
o cirurgião começou a lhe
explicar:
“O rei da terra se vê
atormentar
por enxaqueca tão
terrível quão frequente!” (*)
(*) Dor de cabeça, com
luzes e dormências.
“Se eu pudesse, tirava a
cabeça do rei
e a colocava nos ombros
do vizir! (*)
Eu poderia, finalmente,
conseguir
escapar das duras penas
de sua lei!”
O nosso rei está furioso
e ameaçou
que vai mandar-me na
forca pendurar
caso eu não possa sua
enxaqueca curar:
tentei de tudo, mas nada
resultou!...”
(*) Primeiro-ministro.
“Mas o Grão-vizir não
quererá ficar
com uma cabeça toda enxaquecada!”
“Mas se a operação puder
ser realizada,
não poderá ao rei isso
negar,
ainda mais que ele
prometeu a recompensa
de dez mil táleres do
mais fino ouro
a quem o aliviar deste
desdouro,
mais um castelo soberbo
de presença!”
“Então, eu mesmo lhe faço
esse favor!”
disse Rudolf, “com o
maior prazer!”
“Tua boa cabeça lhe
queres conceder,
em troca dessa, que dói
que é um horror?”
“Mas é claro, por tal
soma de dinheiro!
Nem do castelo irei fazer
questão!
É muito fácil fazer essa
intervenção
e a recompensa eu
ganharei ligeiro!...”
“Meu amigo, vou falar
sinceramente,
nosso rei foi sempre
justo e bom,
mas a enxaqueca lhe mudou
o tom,
tornou-se mau, feroz e
inclemente.
Na verdade, boa culpa é
do vizir,
que o aconselha com total
iniquidade
e em consequência de
tanta impiedade
ninguém consegue mais em
paz dormir!”
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