TELA DE TOQUE
I (Dezembro 2006
[Revisada a
13/3/2022]
De fato, não
importa em que lugar
você se encontre
agora, mas aonde,
pelo seu próprio
esforço, possa achar
esse sucesso que
o futuro esconde.
Mas para isso, é
preciso conhecer
aonde quer
chegar, a qual destino,
qual resultado
almeja receber,
ao toque límpido
da mística do sino
que o convoque
para o rumo certo.
Se nem souber
aonde quer chegar,
qualquer lugar
lhe serve -- e é qualquer
esse fadário que
lhe será aberto,
não a meta que
poderia conquistar,
mas somente a que
o fado lhe trouxer.
TELA DE TOQUE
II (11/2/2009)
Pessoas mudam,
com frequência inesperada:
não são mais o que
eram, com certeza.
Aquilo que
atraiu, riso ou beleza,
desaparece em
canção inacabada.
Mas quando vemos
desse modo transformada
tal pessoa que se
senta à nossa mesa,
não há motivo para
que a incerteza
nos afaste de quem
já foi amada.
Porque qualquer
pessoa se transforma,
mas nem por isso
se torna um novo ser:
muitas vezes, nem
sequer é responsável,
mesmo quando a distância
é que conforma
o esfriamento de
um amor, o seu poder
ainda perdura de
forma imponderável.
TELA DE TOQUE III
Quem não controla
as próprias decisões
será por elas
sempre controlado:
são essas luzes
que brilham do teu lado
e que te atraem
para ondulações...
Assim orbitas ao
redor dos corações
que te chamam a
si, escravizado
por tal fulgor,
que sempre fascinado
te mantém, por
suas novas seduções.
E orbitas outra
vez, até sabendo:
no momento em que
abraço conseguires,
te queimarás em
lábios que enlouquecem.
Fui inseto
cauteloso, não morrendo,
apenas circulando
os reluzires,
estranhas luzes,
que no frio me aquecem.
TELA DE TOQUE IV
Aprenda com seus erros e tristezas.
Pelo menos, nunca tente difundir
sua amargura entre outros; saiba ouvir
e guardar para si suas incertezas.
As pessoas se iludem nas belezas
de versos e palavras. Contribuir
para essa trama lenta é produzir,
mais cedo ou tarde, uma série de baixezas.
Console sempre e nada espere em troca.
Quando ajudar, não espere ser amado
e muito menos por tal bem agradecido.
É agindo como adulto que se aloca.
sobre alicerces firmes no passado,
a construção do futuro pretendido.
TELA DE TOQUE V – Completada 14/3/2022
Mais cedo ou mais tarde, aprenderá
que ajudar e acorrentar próximos são;
que, no momento de estender a mão,
sua escolha é livre... Assim, não deverá
esperar por eterna gratidão,
bem ao contrário. Pois quem ajudará
irá marcar a ferro e poderá
criar rancor mais firme que paixão.
Isto eu já vi. Quando um presente caro
dar decidi, por generosidade,
ocasião houve em que mal interpretado
por certo eu fui. Ofereci amparo
gratuitamente e pensaram ser maldade
esse presente que mal chegou a ser usado.
TELA DE TOQUE VI
Havia uma serpente
matutina
enroscada na Lua,
em plena glória;
seus feitos
relatados pela história,
enregelada na luz
que o Sol afina
e suaviza, em
manteiga e margarina
ou em queijos de
prata e merencória
papa de prata,
limalha de uma escória
que metal nobre
foi e agora ensina
unicamente o poder
do magnetismo:
ao ímã aparas
correm; junto aos polos
se aninham,
conformando outra serpente,
numa implosão de
metal e mimetismo,
desenrolando o
papiro em estranhos rolos,
que tem, ao menos,
um desfecho diferente.
TELA DE TOQUE VII
Não é nova a sensação.
Já muitas vezes
bati contra as paredes, sem
que portas
nelas abrisse, essas muralhas
tortas,
em que deixei meu sangue
tantos meses...
Em minha cela, convivo com
minhas fezes,
longo produto de
grávidas retortas
e as moldo entre meus dedos,
folhas mortas,
para compor sonetos que até
prezes...
Às vezes, penso poder abrir
passagem,
mas vejo o sangue e a pele
nas paredes,
marcas fetais em busca
da miragem.
Contaminado eu fui pelas
minhas sedes,
que me impedem de
nascer, grossa trançagem,
que me emplacenta em
reforçadas redes...
TELA DE TOQUE VIII
Abro o outlook e vejo, ao rodapé,
"Nenhuma
mensagem nova" e desconecto:
mais um insulto ao
meu triste intelecto,
que ser
reconhecido um dia, até,
pensou possível
ser e teve fé
de poder alcançar
melhor afeto
e escapar-se de
ser prenda e objeto:
dos deuses um
inseto, a seu sopé.
Mas não encontro
na tela lenitivo,
pois só escrevem
os que de mim precisam
alguma coisa de
mim, que assim lhes desse.
E os enleios da
Internet, em dom esquivo,
me negam mesmo o
solo em que já pisam
e nunca encontro
as mensagens que quisesse.
TELA DE TOQUE IX – Completada
a 15/3/2022
Busquei na Lua o chocalho da
serpente
que mordia a própria
cauda, permanente,
já concebido por quimera
diferente,
fruto da atual mitologia mais
dolente;
era apenas um demônio
dragoniente,
tal criatura criada por
paciente
longuesidão, dos meses frente
a frente,
com frio de inverno, neve e
privação.
Criaram então um par para o
dragão,
esse São Jorge de constante
aceitação,
em que orixá se introduziu
furtivamente,
nessa batalha de tão longa
duração,
que observa o povo
diuturnamente,
nessas montanhas e crateras
que lá estão.
TELA DE TOQUE X
Mas Ouroboros
tinha mística função,
sinal e símbolo de
toda a humanidade,
em sua impassível progressividade,
chegando ao homem
derradeiro desde Adão.
Naturalmente, bem
diversos são
esses pendores da
anterior civilidade:
a religião
compreendia, na verdade,
cada momento da
civilização.
Cada cidade na
mágica do arcano,
que a conservava
plenamente no ritual
e obrigação de
cada ser humano
para com as
sombras temidas do ancestral
tal qual julgava o
cidadão Romano,
até que ponto se
inserisse em seu fanal.
TELA DE TOQUE XI
E lá no norte plantou-se
Yggdrasil,
cujos galhos mantinham forte
abraço
e sustentava toda a Terra em
seu regaço,
que não caísse pelo céu de
anil,
suas raízes percorrendo num
funil
a Terra inteira em onipotente
laço,
não a deixando tombar louca
pelo espaço
e a preservando de qualquer
destino vil;
e ainda existe quem aviste um
saco
nas costas desse homem
encurvado,
que há milhares de anos pisa
a Lua;
dizem ser Judas saído de um
buraco
ou o Judeu Errante condenado,
até que Cristo retorne em sua
falua.
TELA DE TOQUE XII
Mas hoje a Lua se
tornou tela de toque
na interface de algum
computador:
toca-se o dedo,
com um pingo de calor
e se obtém o
destino que se invoque,
a cada um conforme
se lhe aloque,
seja um pandeiro
de prata, em resplendor,
uma deusinha
coroada em seu andor
ou uma velha com a
cabeleira em coque.
Cada um pode assim
ver na própria lua
a imagem que lhe
acusa a fantasia,
seja a matrona,
seja a jovem nua,
que seu próprio
destino a mente cria
e enquanto o fado
nova esquina abria,
vai percorrendo
incauto a mesma rua.
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