domingo, 20 de março de 2022


 

 

O MENINO SEM CABEÇA IV – 5 dez 21

 

Desiludido, subiu a uma montanha;

de árvores de fruta havia quantidade;

uvas e amoras, com naturalidade,

enfiava no pescoço em pura manha!

E depois, a sentir-se bem cansado,

num paredão encostou-se a cochilar;

não tendo olhos, não os precisou fechar,

sem da parede ter nada desconfiado...

 

Pensava fosse um castelo abandonado,

que havia muitos por aquelas terras,

em resultado de constantes guerras

e assim se pôs a dormir, bem descansado;

mas o silêncio em breve foi quebrado

por duas vozes ferozes e  irritadas,

que a parede tranmitia, se bem meio abafadas,

já de seu sono totalmente despertado!

 

Uma sonora voz masculina ameaçava:

“Mago ruim, vim para castigar-te,

com minha espada vou atravessar-te!”

Mas a outra de imediato contestava:

“Não és mais que um atrevido cavaleiro,

mas sou um mago poderoso e eterno

e meu castelo é a antecâmara do inferno!

Vai-te daqui ou morrerás ligeiro!”

 

Pensou Rudolf: Mas que falta de sorte!

Tanto lugar para se cochilar

e eu venho justamente me deitar

perto do inferno e sua terrível corte!

E já pensava em sair dali depressa,

quando escutou de novo o cavaleiro:

“Mago terrível, devolve-me ligeiro

a minha noiva e te escaparás dessa!”

 

“De forma alguma, paladino, vai-te embora!”

“Não sem que antes me devolvas Rosaflor,

a minha noiva e meu único amor!”

“Desiste logo ou vais morrer agora,

que te posso transformar em peixe ou rato

ou então, simplesmente, te engolir!

Por mais que pretendas te iludir,

eu me transformo em poderoso gato!”

 

“Não importa qual seja a fantasia,

por mais nefanda tua malevolente arte,

Deus me protege e vou decapitar-te:

com um só golpe tua cabeça cairia!”

E quando ouviu a menção de uma cabeça,

Rudolf mudou logo de intenção:

pela parede foi tateando com sua mão

e um portão atravessou na maior pressa!

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