sexta-feira, 4 de março de 2022

 

 

O CASTELO ASSOMBRADO

Capítulo Seis – 26 nov 21

 

Então os dois seres invisíveis se afastaram

e o viajante foi andando até a porta,

que foi-lhe aberta por um troll horrendo:

desde a cabeça até os pés todo se entorta,

que o contemplou com um esgar tremendo,

dentes imensos, como para o devorar!...

 

Mas não perdeu a calma o forasteiro!

Cumprimentou o monstro amavelmente:

“Boa noite, amigo, quer avisar a seu patrão

que um visitante chegou-lhe de repente,

a pedir pousada em sua nobre mansão?”

O troll, confuso, encolheu-se bem ligeiro...

 

E o andarilho o portal atravessou,

sem a menor sombra de hesitação,

logo afastando a criatura para um lado.

O vestíbulo se achava em escuridão,

mas foi andando e logo iluminado,

ia ficando a cada passo que pisou.

 

Para seu espanto, mas não para temor,

mãos humanas brotaram da parede,

a segurarem archotes firmemente:

“Ora, que bom, não tropeço em alguma rede!”

Seguiu andando, sem medo aparente,

até chegar a uma sala de negror...

 

Mas no momento em que, sem hesitar,

entrou no escuro, tudo se iluminou

com um grande fogo aceso na lareira.

A mesa posta logo ele encontrou

e diante dela, marchetada, uma cadeira,

em que a seguir foi logo se assentar.

 

“Que ótimo!  Já melhorou minha acolhida,

eis um trono bastante confortável,

quase melhor do que em minha própria casa!”

Dois candelabros emitiam luz amável,

que um outro cadeirão dianteiro embasa:

“Obrigado, meu senhor, pela guarida!”

 

O CASTELO ASSOMBRADO

Capítulo Sete – 27 nov 21

 

No mesmo instante, do meio da lareira,

surgiu um gato, com pelo cor de fogo,

em pé, a carregar uma bandeja...

“Eu te agradeço, embora seja a rogo

de teu patrão que a cortesia se enseja...”

O gato serviu a mesa e foi-se à beira

 

da lareira, com seu fogo fulgurante,

de onde tirou duas garrafas de vinho,

que sobre a mesa, com cuidado, colocou

e as abriu com gentileza e até carinho

e então de novo no fogo se assentou!

O forasteiro surpreendeu-se por instante,

 

porém seu leve suspiro foi bastante:

o grande gato transformou-se num leão,

mas seu rugido estava mais para miado!

O visitante escondeu sua emoção:

“É com tuas patas que o fogo é atiçado?

Nunca vi coisa assim tão interessante!...”

 

E embora já jantara na estalagem,

fez as honras à saborosa refeição

e de excelente safra tomou o vinho.

Bem satisfeito, se estendeu no cadeirão:

“Quase uma cama, bem confortavelzinho...”

E adormeceu, dando outra prova de coragem.

 

Algumas horas depois, alguma coisa o despertou

e viu que o cadeirão à frente se ocupara

por um indivíduo singular, cuja visão

a qualquer outro visitante já espantara:

era um homem, bem vestido à ocasião,

mas que a cabeça sobre a mesa colocou!

 

O jovem teve só um estremecimento,

recuperando-se bem rapidamente:

“Senhor castelão, por sua hospitalidade

eu agradeço, mas não preciso, realmente,

de sua cabeça devorar, pois na verdade

nem sobremesa me apraz neste momento!”

 


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