BOLHAS DE CHALEIRA I – 1º AGO 21
Muito se fala sobre bolhas de sabão,
mas quem recorda as bolhas da chaleira?
Ali anunciam a fervedura inteira
para quem sinta algum frio no coração.
Eu diria ser muito mais hospitaleira
essa bolha de ar longe do chão,
que se arrebenta sob a proteção
de uma tampa bem mais corriqueira!
A bolha de sabão pequeno arco-íris,
a bolha da chaleira em transparência,
que abrange apenas a água do interior;
no ar flutuam algumas quais suspires,
as outras presas no calor em impotência:
ambas explodem em gotas de vapor!
BOLHAS DE CHALEIRA II
Foram as bolhas na chaleira mal fechada,
sobre a força da pressão a saltitar
que a James Watt conseguiram inspirar
a Industrial Revolução ali iniciada!
Não que por ele fosse romantizada
essa breve irrupção prendendo o ar;
não achou belas as bolhas a pular,
sendo prático, só sua força aproveitada!
Mas que seria de nós sem o vapor
que tantas fábricas por séculos animou,
sem o transporte que Stephenson revolucionou
e sem sequer nas casas o calor,
nem dos campos teria crescido a produção,
sequer das Américas a colonização!
BOLHAS DE CHALEIRA III
Mas as bolhas de sabão são reluzentes
a flutuar quais duendes ou fadinhas,
mas de pequenas vidas tão mesquinhas,
logo perdidas nas explosões frequentes;
nada há de admirar que as apresentes
em tantos versos ou histórias pequeninhas,
que as compares a estelares lampadinhas,
pois que do sopro da criança as alimentes...
Quem não se deixa por tais íris convencer,
em especial por sua transitoriedade?
Algum poeta louvou bolhas de fogões?
Por mais que estas nos doem seu poder,
na permanência de sua furtividade,
fazendo máquinas bater quais corações?
BOLHAS DE ENGANOS I – 2 AGO 2021
Não quero ser jamais como os
Ludditas,
que iam às fábricas para as máquinas
quebrar,
por seus empregos braçais a
conservar:
do tecnológico não me furto às ditas;
jamais pensei serem as máquinas
malditas,
que a civilização vieram abençoar,
mesmo os hospitais chegando a
reformar,
porém reclamam do carvão as negras
fitas,
acreditando que por haver
eletricidade
ficou o vapor já deixado para trás...
Mas o que põe as turbinas a girar?
Qualquer que seja o combustível na
verdade,
ainda é o vapor que seu poder nos
traz,
parte até mesmo da energia
nuclear!...
BOLHAS DE ENGANOS II
Já muitas vezes declarei não buscar
fama.
Por que escrevo, então? Porque estou velho
e ainda desejo registrar algum
conselho
que lá do fundo da alma me reclama,
quando à noite estendo-me na cama,
vêm pensamentos tal qual escaravelho
a picar-me o devaneio e nesse espelho
surge o poema e a ideia que o recama.
Vejo ao redor as opiniões desavisadas
e me surpreendo que possam perdurar,
mesmo contrárias à ciência ou à
razão;
e então me ergo em horas
tresloucadas,
pobres protestos insistindo a
registrar,
mesmo a saber rara a mudança de
opinião.
BOLHAS DE ENGANOS III
Não obstante, como é fácil a
tecnologia
ser desvirtuada pelos erros de
opinião
ou mais ainda por interesses de
ocasião
ou por modismos que cada qual seguia;
assim encaro isso que hoje se dizia
serem “redes sociais”, cuja real
função
seria atender à emergência ou
proteção
e não o campo em se dizer o quanto
queria.
A mim parece que esse tipo de pessoa,
tem postura semelhante à dos Ludditas
e assim se opõe ao avanço do
progresso,
pois desperdiçar com tanta coisa a
toa
essa energia ou o tempo em que repitas
continuamente a tua vaidade feita
gesso?
BOLHAS DE ABALOS I –
3 AGO 21
Certo verão salvou
meus terremotos,
Quando as fendas em
abismos se racharam,
Quando as areias
pelos ares de espalharam
Por motivos para os
outros ignotos;
Esse verão de tantos
maremotos,
Que singulares
orgasmos me alcançaram,
Todas as frestas do
organismo me abalaram
E me lavou em
inexplicáveis psicomotos.
Mas tal verão
soergueu os meus destroços,
Depositados no fundo
dos abismos,
Depauperados por
antiga e mansa calma
E foi assim que me
desfiz em mil esboços,
As mil pegadas
demarcadas pelos sismos
Desses gigantes
rebelados em minhalma!
BOLHAS DE ABALOS II
E não me digas que
terremotos não te abalam
E o que chão sentes bem
firme sob os pés,
Que nenhuns tsunamis
em tuas praias vês,
Que as vozes alheias
para ti se calam,
Que celulares em
zumbidos não te malham
Com as constantes
exigências dos atés,
Suas propagandas, as
ofertas de más-fés,
As frases tolas que o
tempo tanto esgalham.
Não será assim,
porque no tempo atual
Sob assaltos te vês
continuamente,
Teus dados sujeitos a
invasão frequente.
Notícias falsas, que
te fazem tanto mal
E a constante
repetição de ideologias,
Que enfim repetes,
sem notar quanto mentias?
BOLHAS DE ABALOS III
Talvez não seja
exatamente uma verdade,
Mas é difícil me
deixar influenciar
E até hoje sequer
comprei um celular,
Talvez o último
habitante da cidade
Que meios tenha para
adquiri-los à vontade,
Mas se recuse por não
ter o que falar
Nessas mensagens tão
curtas do aliciar.
Computador adquiri,
não por vaidade
Mas em função dessa
pressão interna
De qualquer verso que
me assalte a repetir
E que me sinta na
obrigação de redigir,
Nessa tola esperança
de atenção, que alterna
Entre as mensagens e
os anúncios sem valor
E se disponha até as
ler com certo amor!...
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