TEIMA DE AMOR I – 10 ago 2021
Amor é para mim um sonho longo,
vasto e teimoso, que insiste em retornar
a cada vez que penso em despertar
e rói-me a alma qual fora um camundongo;
amor tem toda a vibração de um gongo,
mas que ao contrário de me entusiasmar,
me prende firme em seu encarcerar,
rufar constante da película de um bongo.
É um sonho feito de calmas inquietantes,
que se intromete em largo desfraldar
contra a fronte marejada de suor
e nos captura em derrotas triunfantes,
de hora em hora o seu novo conquistar,
em sua modorra vibrante de estridor.
(Na ilustração, Christina Ricci, a Wandinha
da Família Addams... que cresceu...)
TEIMA DE AMOR II
Pois se o descrevo assim contraditório,
é que vivi em suas doze mil facetas,
dodecaedro de quinas incompletas,
cada ângulo a retomar, vindicatório
o seu poder sobre mim, esternutório,
sempre que penso dominar-lhe as tretas
e então me impele sobre outras aletas,
em labirinto sagaz e peremptório.
Mas nem se pense que de amor me queixo,
mesmo no ergástulo de tais rubros grilhões,
não me interessa quebrantar essas correntes,
inermemente que me domine eu deixo,
a suspirar por cem novos corações,
ainda que os veja não mais que indiferentes.
TEIMA DE AMOR III
E para que me serviria ser poeta,
se não pudesse às lianas de um amor
entregar-me inteiramente em meu ardor,
até minha frase final estar completa?
Assim me deixo deslizar por cada aleta,
do dodecaedro eu julgo-me senhor,
mesmo sabendo ser meu dominador,
quando de amor novo pretexto me projeta.
Porquanto posso enamorar-me sem amar
e ver-me aceito em orgasmos cintilantes
por algum corpo que jamais avistarei;
ou ao invés amar, sem sequer me enamorar
e descrever essas angústias palpitantes
que não senti e nem sei se sentirei!...
TEIMA DE CARVÃO I – 11 AGO 21
O amor é um carvão que não se
apaga,
um brilho opaco dormindo sob as cinzas;
com leve sopro basta que o atinjas
e um calor, ainda que leve, o rosto
afaga.
O amor é uma ternura que se alaga,
sincero sendo ou mesmo quando o
finjas,
sendo maldito ou quando inteiro o
benzas,
dentro do peito em secular adaga.
Melhor amor por amor correspondido,
que contribua a perpetuar a raça,
que amor marchetado de desgraça,
mas que a mente enriqueça em seu
vagido,
no infinito redespertar do que mais
quero,
tão mais ansiado quanto mais o
espero?
TEIMA DE CARVÃO II
A cada vez que espero, sai a alma
a dar voltinhas ao redor da praça,
mesmo que isso só mencione por
pirraça,
de fato a espera vibra como palma,
em um zéfiro caprichoso que me
embalma
e me faz contemplar a inteira raça,
os que antes de mim foram à caça,
compartilhando aos pares trechos
dalma.
Ou pelo menos, as sementes do
futuro,
por mais que não passe de palavra,
somente o encontro do deeneá
ansioso,
sempre que houver concepção, algo
de puro,
porquanto a estrada do porvir nele
se lavra,
no mais brutal sempre a haver algo
formoso.
TEIMA DE CARVÃO III
Assim espero, remexendo no borralho
de algo de amor esquecido no
passado,
de algo de encanto nunca partilhado
ou que brilhou para esgotar-se em
ato falho;
sobre as brasas meu sopro qual um
malho,
subindo a poeira, o olfato
perturbado:
então espirro e o espírito
espantado
cai como brisa a provocar um talho.
Pouco importa qual seja essa
lembrança
que me provoque tal esternutação,
meiga ou perversa reacende esse
carvão
e cada chama que minha palma alcança
perfura a carne e me traz
inspiração,
e em novo verso orquestra a antiga
dança.
TEIMA VIRAL I – 12 AGO 2021
O escudo central de meu ventilador
claramente me lembra um vírus de Covid,
qual em microscópio eletrônico nos incide
esse minúsculo e fatal destruidor.
Tem cinco pás o forte soprador
e é necessário que com calor eu lide,
que ferozmente meu organismo agride:
pelo aparelho até sinto um certo amor.
Mas
ai de mim! quando a luz é cortada,
pois no calor não consigo fazer nada
e me apavora esse global aquecimento,
mas o pior é que para ele contribuo,
pois cada vez que com o ardor eu suo,
deixo mais quente o ambiente do aposento!
TEIMA VIRAL II
Será que o vírus de Covid contribui
para aumentar o global aquecimento?
A cada morte que provoca seu portento
certo é que o calor interno não mais flui.
Por outro lado, o equipamento imbui
o ambiente com a energia do momento,
e desse modo o paciente em sofrimento
para o consumo de energia mais influi.
Há essa teoria de que a Terra se ressente
de tantos humanos, para Gaia parasitas
e deles busca de algum modo se livrar;
mas nesse caso, como a raça é resiliente
ou serão frágeis essas lutas esquisitas
que a humanidade insiste em superar?
TEIMA VIRAL III
Até o presente, eu nao me conformei
com quanto dizem desse vírus tão pequeno,
que com sabão se afasta o seu veneno:
como em seu enorme poder então crerei?
Ainda suspeito que esse vírus não é o rei,
pois enfraquece o organismo em seu aeeno,
chama outras causas de poder mais pleno,
em seu auxílio, num processo que não sei.
Somente sei que o ventilador me favorece,
com cinco hastes em meus piores meses
e do vírus se proclama inversa prece.
Talvez Gaia tenha raiva é dos Chineses,
já que queimam por lá tanto carvão,
tanta doença ali espalhando com paixão!
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