NO ENFADO D O FADO 1 – 17 AG0
2021
(Na ilustração, a atriz clássica, Jennifer Jones).
Foi breve encontro, quase sem sentido,
Só bem no fundo uma leve indicação
De que o Destino mostrsse ali sua mão,
Que por motivo qualquer os havia reunido.
Não que aguardasse o homem envolvido
Futuro algum em tão casual reunião,
Nem que a mulher suspeitasse de paixão,
Que nem sequer amizade haviam nutrido.
Mas lá no fundo assoviava a inquietação,
Qualquer coisa que pudesse até arrepiar
Os cabelos de suas nucas levemente...
O que causara essa breve comoção?
Só indagação sexual a se insinuar,
Algo de leve, sem nada de potente?
NO ENFADO D O FADO
2
O fato é que o encontro era casual,
No meio de um festejo comedido;
Em vernissage nada seria concebido,
Sequer encontro a marcar-se mais sexual.,
Sem que ocasionasse uma atração fatal,
Tão só intelectualismo ali nutrido;
Talvez por trás do comentário proferido
Já espiasse algum fator emocional.
Esse mais sendo um suspiro que suspeita
Do que o fado para os dois trouxera,
Se lhes trouxera mais apego que vaidade,
Sempre autoestima no coração se aleita,
Qualquer admiração sempre se espera,
Olhos abertos para qualquer fatalidade.
NO ENFADO D O FADO 3
Mas se de fato alguma coisa houvesse,
A bala vinda do arcabuz do fado,
Se um novo mundo palpitando de seu lado
Se abrisse agora, caso algo se fizesse?
Novo universo quem sabe enlouquecesse
Os parâmetros de um amor ainda ansiado,
Os remorsos de um tormento compensado,
Tudo envolvendo em sua ardilosa prece?
Porém as vidas que haviam organizado
Em seus muitos fatores circundantes,
Ferozmente contra o enlevo protestaram,
Em um aperto de mão bem comportado,
Olhos nos olhos não mais do que hesitantes,
Nessa aventura que nem ao menos começaram.
NO ARCO-ÍRIS
DAS ÍRIS 1 – 18 AGO 21
O meu arco-íris encontrei no seu olhar
E me envolvi sem saber qual fosse a cor,
Qual a nuance permanente de um amor?
Como o peito se transmuda em palpitar?
Onde se encontra o fervor desse luar
No vago mundo de olhos claros de calor,
O sangue ali no fundo em seu rubor,
Sob as pálpebras em seu tímido mirar?
Haverá círculos sob as pestanas a espiar,
Estranhos olhos do mais estranho ardor,
Por que os arco-íris para mim piscavam,
Sem qualquer cor realmente se firmar?
Por que o arco-íris é tão tênue ao meu redor,
Seu pote de ouro sorrateiro a me mostrar?
NO ARCO-ÍRIS
DAS ÍRIS 2
O arco-íris para antigos era a ponte
Que conduzia aos salões do paraíso,
Seu guarda austero, sem sinal de riso,
Sua alabarda a demarcar-me o horizonte,
Porque as lágrimas são cristalina fonte,
Uma dúzia de chafarizes sem motivo,
Em horário sem razão, mas redivivo,
Quando esse arco-íris dormita atrás do monte.
Pois o arco-íris que entrevi nos olhos dela
Era translúcido como soem ser mentiras,
Muito mais transparentes que verdades;
Tem apanágio natural qualquer donzela,
Seus sentimentos vertiginosas giras,
Na inconstância de suas veracidades.
NO ARCO-ÍRIS
DAS ÍRIS 3
E cada vez que me dão algum arco-íris,
Já de antemão eu sei que é impermanente,
Por mais real que seja em seu fulgente
Momento de interpretar os seus sentires;
E lá se vão as cores para Osíris,
Pois que morre o sentimento mais frequente
Do aque a carne que ali está subjacente,
Se ao redor do coração não os aspires.
Que seja o arco-íris feito em sete luas,
Como satélites de só e único amor,
Sete donzelas em suas cores nuas,
Sete alegrias trazendo em breve hora,
Nesses seus trajos de rútilo esplendor,
Iguais a nuvens no despertar da aurora.
NO GIRO
DO SUSPIRO 1 – 19 AGO 21
Amor é um suspiro
que somente alguém escuta:
Ninguém o ouve,
mesmo estando ao derredor.
Amor é um beijo que
se sopra sem temor,
Tantos sopros
enfrentando nessa luta.
Infelizmente, quando
é férrea essa disputa,
O amor soprado não
se escuta em seu teor,
Outros se ouve, de
quiçá menor valor,
Mas cuja expiração
tem força bruta.
Amor se sopra para
um alvo destinado
E então se espera
que atinja o seu ouvido,
Mas quão frequente
se faz amor aflito!
Por outro ouvido foi
antes captado,
Que não se quer, mas
não aceita o olvido
E fica assim a
rebater-se no infinito!
NO GIRO
DO SUSPIRO 2
Amor se expira para
que atinja o alvo,
Para quem foi esse
suspiro destinado;
Por que em suspiro
se deveria limitado,
Quando nem sempre
poderá ser salvo?
Sendo suspiro, todo
amor é calvo
E não tem como
prender-se ao alvo amado,
Salvo se este o
aceita e é inspirado,
Integralmente e sem
qualquer ressalvo.
Amor se sopra na
espera que atingisse
Somente o alvo para
o qual foi assobiado,
Mas com frequência
nos será interceptado;
E que fazer quando
esse amor se visse
Por outro ouvido
firme captado,
Que em seu soprar de
amor nos insistisse?
NO GIRO
DO SUSPIRO 3
E é tão comum
fazer-se esse suspiro
De outro ouvido firme
prisioneiro,
A devolver-nos seu
amor inteiro,
Igual que dardo de
zarabatana em giro?
Amor então a se
perder nesse respiro;
Sempre é possível
recusar-se a um terceiro,
Mas que fazer quando
um suspiro verdadeiro
Nós captamos firme
em seu reviro?
Como é comum
culpar-se ao tal anjinho
Por lançar setas na
maior casualidade,
Quando de fato somos
nós que as assopramos!
Um tal suspiro a
se enraizar devagarinho,
Até prender-nos em
total inermidade
Em alguém
anteriormente não buscamos?
MAIORIDADE PELA
MORTE 1 – 20 AGO 21
Entre os Masai a ninguém
chamavam homem
Se não matasse primeiro
algum leão;
Faltando um macho, para
alguns aceitarão
Uma leoa, desde que com
lança a tomem.
Sempre se pensa que a
alguns os leões comem,
Mas em geral não vão
caçar em solidão,
Que companheiros atrás
dele se porão
E caso erre, outras
lanças as feras domem.
Contudo, ele terá de
retornar,
Para acertar na seguinte
tentativa,
Ou corajoso, perecer
tentando;
O governo de Kenya diz
não aprovar
A tradição que
disfarçada segue viva,
Esses felinos muito
menos a apreciando!
MAIORIDADE PELA
MORTE 2
Em certas tribos das
ilhas de Bornéu
Só era homem quem
cortasse uma cabeça
E a conservasse em sua
choça, nessa
Demonstração do
masculino poder seu.
E numa ilha do Pacífico
ocorreu
Que na infância constante
permaneça
Qualquer um de cujo pai
a vida não cessa:
Por quarenta anos algum
menino assim viveu!
Foi diferente entre os
indo-europeus
E de forma semelhante
entre os semitas,
Cerimoniais sempre a
marcar iniciação,
Os pais no orgulho
desses filhos seus,
Adolescentes a memorizar
as longas fitas
De antepassados desde
arcana geração.
MAIORIDADE PELA
MORTE 3
Contudo Freud um dia em
Édipo pensou
E afirmou ser um
instinto permanente
Matar o pai para ser
proeminente
E como esposa a sua mãe
se conformou.
O triste Édipo o destino
é que marcou,
Laio o atacou por motivo
inconsequente,
Matando a Esfinge
tornou-se o pretendente
Ao trono de Tebas e o
casamento celebrou.
Na verdade, era costume
adonisíaco,
Rei escolher pela
extensão de um ano,
Que seria no final
sacrificado;
Pela rainha era o trono
afrodisíaco,
Édipo inocente só a tornar-se
o soberano,
Após o rei anterior ter
derrotado!...
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