A FADA
ARANHA I – Revisado 11 jan 22
Era uma
vez, em um país distante,
uma pobre
mulher, que nem sabia
se era
casada ou ficara viúva;
de seu
marido só recebera a luva
de ferro,
que era então chamada “guante”,
e fora
achada no campo de batalha...
Com grande
brio ao inimigo espalha
perante o
si o garboso Leothar,
o
exército do rei a comandar,
numa
vitória que ao reino salvaria!...
Diziam alguns que Leothar era prisioneiro;
outros falavam que, sendo canibais
seus inimigos, fora preso e devorado;
mas o certo é que não fora achado;
e por ter raiva dele, o tesoureiro
suspendera o seu soldo, por despeito
e à viúva negara qualquer direito:
não merecia o soldo por lutar
e nem pensão por um vivo iria pagar,
amparado em certas leis imemoriais...
O próprio rei por Leothar nutria inveja,
pois entre as tropas era muito popular;
e algumas vezes, até perdia o sono
pelo temor que lhe tomasse o trono,
já que seu próprio avô, como se enseja,
tomara o trono a seu rei anterior;
e Leothar, com todo esse valor,
descendia da antiga dinastia
em linha direta, como se dizia,
e se quisesse, o poderia derrubar!...
Isto
ocorreu, de fato, em muito império
e assim
Belezzar apoiou seu tesoureiro,
embora
muita gente intercedesse
que à
esposa e à filha concedesse
alguma
soma como um refrigério:
para
Leora e sua filha, Leodiceia,
até que
fosse concluída essa epopeia;
mas disse
o rei que só depois de sete anos,
se o
general não voltasse, eram seus planos
declará-la
viúva e lhe pagar o soldo inteiro.
A FADA
ARANHA II – Revisado 12 jan 22
Secretamente,
com o tesoureiro combinou
que
espalhasse pelo reino uns espiões
e se
acaso o guerreiro retornasse,
traiçoeiramente
qualquer deles o matasse
e que seu
corpo lhe enterrassem ordenou;
Leora,
afinal, era apenas a sua mulher
e não teria
pretensão sequer;
porém
incômoda seria Leodiceia,
da
dinastia descendente, ao que se creia:
para
matá-la precisaria de boas razões...
Contudo Leora conseguiu uma audiência
com a rainha Belegilde e a comoveu,
que deu-lhe emprego, por pura caridade:
não mais do que servente, na verdade,
mas garantia de sua subsistência;
entre os criados teve alojamento,
para si e a filha a certeza do alimento;
e Belezzar com a esposa concordou,
e desta forma a rival inocente conservou
sob suas vistas, depois que a recebeu.
Partiu Leora então para o castelo,
a carregar as poucas coisas que possuía
em duas trouxas, incluindo o guante,
levando a filha pela mão adiante,
longa alameda subindo nesse zelo;
de ambos os lados bandeiras drapejavam
e como símbolo heráldico mostravam,
vista de costas, grande aranha vermelha,
sobre campo amarelo qual centelha,
“goles” e “jalde”, conforme se dizia.
Leodiceia
foi indagando pela estrada:
“Por que
essas aranhas, mamãezinha?”
“São os
símbolos do reino, minha querida:
a aranha
em goles a vitória garantida,
o campo
em jalde a riqueza acumulada.”
“Mas
nunca vi qualquer aranha vermelha...
Tenho até
medo dessa aranha velha!”
“Vou-lhe
contar então grande segredo,
mas nunca
fale a ninguém, por maior medo,
especialmente
nem ao rei, nem à rainha...”
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