PROLE DO SOL I – 16 JUN 22
a luz do sol invade em diagonal
as superfícies subreptícias dos vitrais,
mas não perdura para o nunca mais,
que não se ajoelha o sol para um ritual.
só dança em torno, como em carnaval,
lúbrico ardor em seus incestos habituais,
fiel apenas a seus desejos siderais,
molhando em ouro cada torre vertical.
multiplicado em verde horizontal,
de cada folha nos talos a escorrer,
em cada caule de um tronco a se perder,
mas prosseguindo em seu pêndulo total,
no imenso vaivém de sua bonança,
sempre a trocar de parceira em cada dança...
PROLE DO SOL II
por mais que o sol seja assim libidinoso,
inconstante em suas escolhas totalmente,
sempre retorna após seguir em frente,
nada abandona com seu toque dadivoso.
contudo insiste com seu calor radioso,
tudo recobre com seu egoísmo ingente,
o mundo inteiro o seu harém consciente,
cada montanha concubina do orgulhoso.
e ao mesmo tempo que o vitral abarca
e então escorre ao longo da parede,
para si hélios requer fidelidade:
cada local com os seus raios marca,
capturado em sua potente rede,
que ali o espere em ato de humildade.
PROLE DO SOL III
da terra inteira a ser voraz sultão,
como eunucos tendo a luz das lamparinas
e a eletricidade dos lampiões de esquinas,
de seu serralho faz-se guarda e proteção.
porém quaisquer combustíveis que aqui estão,
da fotossíntese as clorofilas finas,
por machadadas ímpias e assassinas,
são resultados tão só de outro verão.
e desse modo, toda a relva é sol
e toda a carne a se exibir como arlequim:
dentro de nós ele circula em plena luz,
que a própria mente humana é um arrebol,
sua robustez a fecundar todos assim,
qual dos caixilhos deixa marcas como cruz.
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