quinta-feira, 23 de junho de 2022


 

 

onde nunca estive 1 -- 30 jan 18

 

os dias são metálicos.  despedem-se

indiferentes, envoltos em armaduras;

pouco valor as intenções mais puras

têm nessa despedida, na qual cedem-se

 

côdeas de vida, nas quais medem-se,

sem retrocesso, mil centelhas duras,

cem golpes do destino em fatiaduras

distribuídas, sem que em nada quedem-se

 

sequer migalhas dos dias cintilantes

que foram mocidade; mais pesados

os dias que compõem maturidade,

 

até restarem somente, embolorados,

os dias da velhice, rastejantes,

em que o bronze se azinhavra sem piedade.

 

onde nunca estive 2

 

na realidade, não acredito no que dizem:

que com a idade se encurtem nossos dias.

é bem verdade encurtarem-se as quantias

que ainda temos a viver e assim deslizem

 

as perspectivas dos passos que ainda pisem

por este mundo pleno de heresias

e que esses planos a que te permitias

percentualmente não mais se realizem.

 

mas me parece que os dias me transcorrem

com a mesma lentidão ou rapidez

que me mostravam tantas décadas atrás

 

e quando bem aproveitadas, ainda escorrem

as horas vivas, em plena maciez,

sem de crê-las mais curtas ser capaz...

 

onde nunca estive 3

 

contudo, os dias seguem escorrendo,

impérvios às mais árduas tentativas

de fazê-los parar.  são coisas vivas,

só me permitem os momentos que estou vendo,

 

um a um a correr como um adendo

em direção às cordas recolhidas ,

que se enrolam nas estradas percorridas...

são bem guardadas.  nada estou perdendo.

 

dorme a memória num passado torto

de anéis concêntricos, nunca linhas retas,

algumas vezes a sofrer remontamento,

 

quando a sofreguidão de um dia morto

se mistura a lembranças mais discretas

em mescla feita de amortecimento.

 

onde nunca estive 4

 

e numa dobra dos novelos dessa corda

se contaminam momentos diuturnos,

registrando quaisquer sonhos noturnos

com que a memória desperta não concorda,

 

mas uma volta superpõe-se a outra borda

dos círculos concêntricos diurnos,

na confusão de mil símbolos soturnos

com esses tais que a luz do dia nos recorda!

 

e de repente, no livro do passado,

registra algum evento desusado

a misturar o que se sonha e o que se vive

 

e assim assoma final recordação

das coisas que se sonha e das que são

nesses lugares em que, de fato, nunca estive!

 

onde penso ter estado 1 -- 31 jan 18

 

o mar da mente ruge e se encapela,

percorrido por tufões perimetrais,

por peculiares ciclones marginais,

a destruir visões que a mente vela.

 

e a mente ruge ao derrubar da estela

que eu lhe erguera em meus sonhos noturnais,

foram tão breves esses sonhos imortais,

cai o obelisco e já me esqueço dela.

 

o mar devora pesadelo e sonho

e só me restam visões fragmentadas,

oscilando entre pureza e impudicícia,

 

mas quando à mente racional exponho

as visões estão limpas, peneiradas

por grãos de areia em breve silvo de malícia.

 

onde penso ter estado 2

 

de fato existem memórias de algum sonho

que são muito mais claras que as reais;

elas assomam à mente, naturais

como um passeio por lugar risonho.

 

recordo mesmo retrato bem bisonho

de sonho tido aos quatro anos e não mais:

era uma flor de quatro pétalas iguais

que mudavam de cor; e de um medonho

 

pesadelo que passei, já tendo dez,

com criatura que pai e mãe me devorava;

segundo penso, o derradeiro sonho mau.

 

já nesse tempo, nem sei se nisto crês,

percebera que meus sonhos davam vau

e bem tranquilamente os controlava.

 

onde penso ter estado 3

 

com três anos já aprendera a ler;

mais do que o monstro, livros devorava;

muito mais lia, de fato, que brincava,

cada aventura a prender-me em seu poder.

 

porém num livro diferente pude ver

um conselho que bem fácil aceitava:

o sonho é teu! se assim não te agradava,

bem facilmente o podes reescrever!

 

criança ainda, disso nunca duvidei.

se adulto fôra, talvez não o aceitasse,

mas aprendi a meus sonhos dirigir

 

a um resultado que então melhor achei

e se o final ainda assim desagradasse,

era mais fácil o interromper do que dormir!

 

onde penso ter estado 4

 

até hoje mantenho a faculdade,

mas raramente me tem aparecido

uma quimera de teor menos querido,

que interromper me interesse de verdade!

 

percorro sonhos de real utilidade;

meu inconsciente talvez os tenha constituído

e me aconselham como o alvo perseguido

possa alcançar com maior habilidade.

 

ou simplesmente eu mergulho no inconsciente

coletivo, a percorrer terras diversas

dessas que um dia percorri no mundo

 

e reconheço ali amigos bem frequente,

com quem posso travar longas conversas

de teor bem jocoso ou bem profundo...

 

onde penso ter estado 5

 

e ao percorrer esse mar encapelado

durante os acordados devaneios

é mais difícil encontrar os meios

para mudar o conteúdo encapsulado.

 

satisfazer a meu querer tenho buscado,

mas ao interromper os seus meneios,

quando me atacam pensamentos feios,

consigo apenas ser por isso despertado.

 

embora busque o conselho da escritura

e não andar ansioso, não é fácil

correr de mim as preocupações

 

e se em modorra faço uma cesura,

na esperança de final mais grácil,

apenas corto-lhe a fiada de ilusões...

 

onde penso ter estado 6

 

assim percebo a ironia claramente,

que fácil possa meus sonhos controlar

e não a vida, sem meu despertar:

tanto problema a me chegar premente!

 

não que de fato me ache descontente,

mas poder seria tão bom determinar

cada dia qual o pude planejar

ao invés de tanto mostrar-se diferente!

 

com bom humor falho em manipular

a variedade que em torno se propõe,

modificando a parte que me toca...

 

tantos projetos na mente a pulular

sem se tornarem realidade... o homem põe,

diz o ditado... mas só a galinha choca!

 

ALUSÕES I -- 1º FEV 2018

 

O SOL SE PÕE EM ROSA, AZUL E GRIS,

PELO ESPECTRO DA NOITE PERSEGUIDO.

SE EU FOSSE ANTIGO, POR CERTO TERIA CRIDO

QUE O SOL MORREU PORQUE MEU DEUS O QUIS!

 

E DE MINHAS PRECES LANÇARIA UM CHAFARIZ

PARA NÃO SER PELAS TREVAS ENGOLIDO

OU POR UM GÊNIO QUALQUER, DO MAL NUTRIDO:

QUE O DEUS CRIASSE NOVO SOL DE LOURO GIZ!

 

QUE A MADRUGADA ENCHESSE DE PERFUME

E RECOBRISSE AS TREVAS COM ALUME,

DE TAL FORMA QUE A LUZ ME RETORNASSE

 

E EM CINCO PRECES DIÁRIAS ME AJOELHASSE,

PARA NA MÁGICA DE MEU PENSAMENTO

ESSE MEU DEUS CONJURASSE EM MEU LAMENTO!

 

ALUSÕES Ii

 

NATURALMENTE, ATÉ PROVA EM CONTRÁRIO,

TERIA CERTEZA DE QUE O DOM EU CONJURASSE,

QUE NESSAS REZAS COM QUE ME AJOELHASSE

CONVENCERIA ESSE MEUS DEUS PRIMÁRIO.

 

QUE OBEDECESSE MEU PEDIDO AGRÁRIO,

QUE A LUZ DO SOL OU A CHUVA ME LANÇASSE,

QUE A FORÇA DE MINHA PRECE O AMARRASSE

PELO ARCANO PODER DO ATRABILI[ÁRIO!

 

CASO FALHASSE, SACRIFÍCIO EU QUEIMARIA,

COMO SE O DEUS SENTISSE O SUAVE CHEIRO

E DE TAL EMANAÇÃO SE ALIMENTASSE...

 

DE QUALQUER FORMA, MEU DEUS DOMINARIA,

MEU SERVO ONIPOTENTE, AO DERRADEIRO

MOMENTO EM QUE SUA GLÓRIA CONVOCASSE!

 

ALUSÕES Iii

 

MAS NESSA COERÇÃO VEJO AINDA TANTA GENTE

ACREDITAR, FIRME A CRENÇA NA MAGIA,

QUE ALEGREMENTE UMA VELA ACENDERIA

PARA COMPRAR O FAVOR DO ONIPOTENTE!

 

OU A SABER QUANTO É ONIPRESENTE,

GRANDE DEMAIS PARA TÊ-LO ONDE QUERIA,

SERIA A VELA PARA A SANTA MÃE MARIA

OU PARA UM SANTO DE PODER EQUIVALENTE!

 

NÃO QUE EU DUVIDE DO PODER DE UMA ORAÇÃO,

PORÉM SE DEUS A ATENDER, É POR SUA GRAÇA,

JAMAIS QUE TENHA POR MIM SIDO COMPRADO!...

 

OU QUE PRECISE DE UMA TAL CONVOCAÇÃO

OU SE DISPONHA A ALTERAR O QUANTO FAÇA,

OU QUE MINHA PRECE O TENHA ACORRENTADO!...

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