sexta-feira, 17 de junho de 2022


 

 

A FADA ARANHA XIII – Revisado 23 jan 22

 

Na casca viu incrustada sua armadura

e a ponto estava de abrir o seu cantil,

quando notou que ambas as mãos calçavam

as manoplas que seus dedos abrigavam...

“Você não é Leothar!” – ela recuou.

Com um rugido e o brilho de um corisco

a árvore se transmutou num Basilisco,

que procurou matá-la com o olhar,

mas com o Manto se cobriu, sem hesitar,

a proteger-se contra o terrível olhar vil!...

 

Do outro lado se erguia uma montanha

e para as pedras escapou-se bem depressa,

porém as faldas eram só petrificadas,

faces humanas por ela despertadas

em gritos a acusá-la, em violência tamanha,

que ela hesitou até em se aproximar...

Mas se a caverna justo aqui se achar?

E no momento em que seria tocada,

também esta ilusão desfez-se em nada,

dando lugar a uma touceira espessa...

 

Pareceu-lhe ser formada por entranhas!

Vencendo o nojo, caminhou no meio delas

e logo um prado já deparou por diante,

em que enxergou nova visão delirante:

figuras humanas nas posturas mais estranhas:

algumas enormes estômagos ambulantes,

cabeça e membros em finuras oscilantes;

outras intestinos sobre os ossos encolhidos,

pelas primeiras sendo aos poucos engolidos,

olhos imensos de dor, quais duas estrelas!

 

Outras com orelhas que chegavam até o chão,

casais unidos totalmente pelo ventre,

num arremedo das criaturas globulares,

mencionadas por Platão em dialogares,

que aos deuses haviam desafiado com paixão,

sendo cortadas por Zeus em duas metades!

Viu centopeias a avançar, com dificuldades

em coordenar as suas miríades de pés.

seres humanos de promíscuas fés,

as suas cabeças torturadas a ver dentre...

 

A FADA ARANHA XIV – Revisado 24 jan 22

 

Os miriápodos tentaram então cercá-la,

mas novamente o Manto a protegeu;

vermes humanos obesamente a se arrastar,

uns aos outros procurando devorar,

como larvas, em sua gula a contemplá-la...

“Mas que lugar é este!?” – ela exclamou.

“É o Lar do Desespero!” – proclamou

a voz de cabeça rachada pelo meio.

“Daqui em diante, é melhor ter mais receio,

porque nem todos são mansos como eu...”

 

“Logo achará os que morreram em combate,

mas não são os mais valentes dos guerreiros;

os mais bravos já se encontram no Valhalla...”

(E a cabeça indagou se viera levá-la...?)

“Tentei fugir, porém algum me abate

pelas costas e assim partiu a minha cabeça!

Mesmo sangrando, corri a toda a pressa,

mas esses sanguinários me pegaram

e finalmente, me decapitaram!...

Aqui se encontram os que torturam prisioneiros...”

 

“Ou então covardes, que fugiram como eu...”

Ela indagou-lhe sobre as aranhas vermelhas...

“Ah, mulher, já se encontra em bom caminho,

caso consiga atravessar o redemoinho

de tanta gente que por cá se perdeu!...

Logo depois, atingirá a encruzilhada,

em estrada branca e vermelha bifurcada;

mas não se iluda com a encarnada teia:

em mil serpentes transformou-se cada veia;

percorra a branca das mil vértebras velhas...”

 

De fato, ela encontrou, logo a seguir,

de humanas partes horrendo emaranhado:

braços e pernas, troncos e cabeças,

em vão buscando juntar-se a outras peças,

que a Água e o Pão vieram lhe pedir,

mas Leora recusou-se, novamente,

e de algum modo, prosseguiu em frente,

até chegar à referida encruzilhada,

a senda branca inteiramente marchetada

de ossos antigos inseridos com cuidado...

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