A FADA
ARANHA XIII – Revisado 23 jan 22
Na casca
viu incrustada sua armadura
e a ponto
estava de abrir o seu cantil,
quando
notou que ambas as mãos calçavam
as
manoplas que seus dedos abrigavam...
“Você não
é Leothar!” – ela recuou.
Com um
rugido e o brilho de um corisco
a árvore
se transmutou num Basilisco,
que procurou
matá-la com o olhar,
mas com o
Manto se cobriu, sem hesitar,
a
proteger-se contra o terrível olhar vil!...
Do outro lado se erguia uma montanha
e para as pedras escapou-se bem depressa,
porém as faldas eram só petrificadas,
faces humanas por ela despertadas
em gritos a acusá-la, em violência tamanha,
que ela hesitou até em se aproximar...
Mas se a caverna justo aqui se
achar?
E no momento em que seria tocada,
também esta ilusão desfez-se em nada,
dando lugar a uma touceira espessa...
Pareceu-lhe ser formada por entranhas!
Vencendo o nojo, caminhou no meio delas
e logo um prado já deparou por diante,
em que enxergou nova visão delirante:
figuras humanas nas posturas mais estranhas:
algumas enormes estômagos ambulantes,
cabeça e membros em finuras oscilantes;
outras intestinos sobre os ossos encolhidos,
pelas primeiras sendo aos poucos engolidos,
olhos imensos de dor, quais duas estrelas!
Outras
com orelhas que chegavam até o chão,
casais
unidos totalmente pelo ventre,
num
arremedo das criaturas globulares,
mencionadas
por Platão em dialogares,
que aos
deuses haviam desafiado com paixão,
sendo
cortadas por Zeus em duas metades!
Viu
centopeias a avançar, com dificuldades
em
coordenar as suas miríades de pés.
seres
humanos de promíscuas fés,
as suas
cabeças torturadas a ver dentre...
A FADA
ARANHA XIV – Revisado 24 jan 22
Os
miriápodos tentaram então cercá-la,
mas
novamente o Manto a protegeu;
vermes
humanos obesamente a se arrastar,
uns aos
outros procurando devorar,
como
larvas, em sua gula a contemplá-la...
“Mas que
lugar é este!?” – ela exclamou.
“É o Lar
do Desespero!” – proclamou
a voz de
cabeça rachada pelo meio.
“Daqui em
diante, é melhor ter mais receio,
porque
nem todos são mansos como eu...”
“Logo achará os que morreram em combate,
mas não são os mais valentes dos guerreiros;
os mais bravos já se encontram no Valhalla...”
(E a cabeça indagou se viera levá-la...?)
“Tentei fugir, porém algum me abate
pelas costas e assim partiu a minha cabeça!
Mesmo sangrando, corri a toda a pressa,
mas esses sanguinários me pegaram
e finalmente, me decapitaram!...
Aqui se encontram os que torturam prisioneiros...”
“Ou então covardes, que fugiram como eu...”
Ela indagou-lhe sobre as aranhas vermelhas...
“Ah, mulher, já se encontra em bom caminho,
caso consiga atravessar o redemoinho
de tanta gente que por cá se perdeu!...
Logo depois, atingirá a encruzilhada,
em estrada branca e vermelha bifurcada;
mas não se iluda com a encarnada teia:
em mil serpentes transformou-se cada veia;
percorra a branca das mil vértebras velhas...”
De fato,
ela encontrou, logo a seguir,
de
humanas partes horrendo emaranhado:
braços e
pernas, troncos e cabeças,
em vão
buscando juntar-se a outras peças,
que a
Água e o Pão vieram lhe pedir,
mas Leora
recusou-se, novamente,
e de algum
modo, prosseguiu em frente,
até
chegar à referida encruzilhada,
a senda
branca inteiramente marchetada
de ossos
antigos inseridos com cuidado...
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