ESPASMO
DE AMOR 1 – 23 JUN 2022
(Na ilustração, Sarah Bernhardt)
Eu
lembro muito bem – foi quase um susto.
No
momento do orgasmo, ergueu-se o rosto,
Firmado
sobre a nuca, qual desgosto
Perpassasse
o coração, sob teu busto.
O
meu prazer tomei, porém a custo,
Qual
delírio provocado pelo mosto,
Teu
pescoço distendido, o queixo posto
De
tal modo que o semblante mais vetusto
Me
parecesse do que de fato o era,
Tal
se fizesse amor com uma estranha,
De
outra época, de um lugar qualquer,
Nesse
esgar semelhante ao de uma fera,
Enquanto
a dor nesse prazer tamanha,
Explodisse
do pulmão de outra mulher!
ESPASMO
DE AMOR 2
Lembro
até hoje – o rosto esverdeceu-se,
Conquanto
se mudassem as feições:
Já
não era um rosto só, mas multidões,
Todas
gemendo no mesmo entretecer-se;
Mudaram-se
os cabelos, o rosto fez-se
Num
refletir arcano e sem canções,
Era
a mulher da taba em mil paixões,
A
noiva virgem vendo a flor a desfazer-se,
Era
a matrona nos braços de um amante,
Era
a estuprada ante a adaga de um soldado,
Era
o início fértil da gravidez em nexo,
Todas
as eras em um só orgasmo delirante,
O
coração do inteiro mundo atribulado,
Na
inabalável religião do sexo!
ESPASMO
DE AMOR 3
Se
misturaram em ti os sentimentos,
Contraditória
em tuas almas de mulher,
Desejando
para ti um bem qualquer,
Mas
logo a desfazer-se tais intentos...
Como
é vasto o fluir dos movimentos,
De
tantas emoções, que nem sequer
Se
estabelecem firmemente em ser,
Mas
coalescem em mil falsos juramentos!
Queria
sempre a teu lado poder ter
A
certeza da visão que me esperava,
Se
era um sorriso ao invés de uma careta,
Mas
nunca sei o que de ti poderei ver,
Nesse
teu rosto que estranheza me mostrava
No
próprio instante da paixão completa!
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