AMOR
BERLOQUE I – 17 JUN 22
(Eleonora Duse, Mito Teatral Século XIX)
Amor
é um brinco caído de uma orelha,
Que
com urgência buscamos encontrar,
Mal
se pode viver sem ter o par,
O
mundo inteiro a se mirar de esguelha.
Talvez
nos digam que o brinco é coisa velha,
Que
em joalheria bem se pode outro comprar.
Mas
é a lembrança que mais quer-se conservar
E
um par de ouro perante esse se ajoelha.
Porque
sabemos que para nós existe um só,
Outro
encontrado se reveste de algum dó,
Por
ele o mundo perlustramos com afinco
E
assim ocorre com todos nós assim,
Pequenos
vermes se arrastando no capim,
Nessa
procura incessante de seu brinco.
AMOR
BERLOQUE II
Não
se compare amor com algum colar,
Que
só se mostra ao pescoço em exibição.
Fica
o pingente quase a tocar o coração,
De
leve a pele não mais do que a roçar.
Amor
é coisa de um esguio aprofundar,
Colore
a carne com meneios de paixão,
Na
própria alma a causar circuncisão,
Entra
na mente sem jamais a abandonar.
Mas
o colar é pouco mais que um adereço,
Por
belo seja e tenha grande preço,
Sempre
é usado por uma única pessoa,
Mesmo
que possa depois ser repartido,
Ou
dado de presente ou até vendido,
Igual
que fosse uma esperança à toa...
AMOR
BERLOQUE III
Nem
pode amor tampouco ser pulseira,
Pois
em teu braço diversas podes pôr,
Que
ali te deixam certas marcas de calor,
Nenhuma
delas permanente ou derradeira.
Pode
alguma ser justa, outra ligeira,
Mais
raramente sendo jóias de valor,
Ostentação
de econômico pendor,
Pendem
outras tão só do pulso à beira.
Poligamia
a ser um tal amor de bracelete,
Ou
poliandria quando o escolheu mulher,
Mas
não o amor que se encontra só num par,
Enquanto
esse brinco perdido nos afete,
Sem
colar e sem pulseira a se escolher,
Porém
é o único que enfim se quer achar...
FAZENDO
DESAMOR I – 18 JUN 22
(Este
poema podendo ser perturbador,
seja discreto em sua leitura.)
Hoje
em diz se fez coisa corriqueira
Atos
de amor praticar abertamente,
Sem
mais tabu contra a nudez de frente,
Logo
o casal vai à cama hospitaleira.
Em
cada filme é uma cena bem certeira,
Parece
ser obrigatória a complacente
Concordância
em praticar indiferente,
Sem
desejo ou excitação, mesmo ligeira.
Pois
em cada projeção da tela vês
Tal
ato a praticar-se sem recato,
Maior
a paga para quem melhor se orgasma.
Mas
sendo coisa tão comum haver dublês,
Nunca
se sabe o praticante de tal ato,
Na
película cada qual sendo um fantasma.
FAZENDO
DESAMOR II
Só
se percebe ainda haver um preconceito
Contra
a extensão do órgão masculino,
De
preferência a aparecer bem pequenino,
Como
em estátua de mármore sujeito.
Até
parece nisso haver algo suspeito,
Que
se aprecie só o inverso figurino,
Todos
iguais a ser por trás nosso destino,
Será
a ereção masculina algum defeito?
O
que percebo é que a aparente liberdade
Vem
se infletindo para nova ditadura,
Tornado
galanteio masculino em coisa impura,
Mas
espaço largo para a homossexualidade,
Quando
o corpo feminino atrai o gosto
De
quem sente aversão por seu oposto.
FAZENDO
DESAMOR III
Somente
três ou quatro décadas passaram,
Quando
um simples beijo despertava excitação,
Só
às escondidas as pessoas indo então
Assistir
cenas em que o sexo filmaram.
Mas
com a exposição se acostumaram,
Até
acredito desaponto sentirão
Se
não houver qualquer cena de ocasião,
Em
que casais sem ter amor se amaram.
Não
obstante, dou mil vezes preferência,
Já
que este ato é a antecâmara da vida,
A
quaisquer filmes que propalem violência,
Ou
dos “defeitos especiais” a atual tendência,
A
real interpretação quase esquecida,
O
corpo a face a dominar em tal veemência.
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