sábado, 18 de junho de 2022


 

 

AMOR BERLOQUE I – 17 JUN 22

(Eleonora Duse, Mito Teatral Século XIX)

 

Amor é um brinco caído de uma orelha,

Que com urgência buscamos encontrar,

Mal se pode viver sem ter o par,

O mundo inteiro a se mirar de esguelha.

 

Talvez nos digam que o brinco é coisa velha,

Que em joalheria bem se pode outro comprar.

Mas é a lembrança que mais quer-se conservar

E um par de ouro perante esse se ajoelha.

 

Porque sabemos que para nós existe um só,

Outro encontrado se reveste de algum dó,

Por ele o mundo perlustramos com afinco

 

E assim ocorre com todos nós assim,

Pequenos vermes se arrastando no capim,

Nessa procura incessante de seu brinco.

 

AMOR BERLOQUE II

 

Não se compare amor com algum colar,

Que só se mostra ao pescoço em exibição.

Fica o pingente quase a tocar o coração,

De leve a pele não mais do que a roçar.

 

Amor é coisa de um esguio aprofundar,

Colore a carne com meneios de paixão,

Na própria alma a causar circuncisão,

Entra na mente sem jamais a abandonar.

 

Mas o colar é pouco mais que um adereço,

Por belo seja e tenha grande preço,

Sempre é usado por uma única pessoa,

 

Mesmo que possa depois ser repartido,

Ou dado de presente ou até vendido,

Igual que fosse uma esperança à toa...

 

AMOR BERLOQUE III

 

Nem pode amor tampouco ser pulseira,

Pois em teu braço diversas podes pôr,

Que ali te deixam certas marcas de calor,

Nenhuma delas permanente ou derradeira.

 

Pode alguma ser justa, outra ligeira,

Mais raramente sendo jóias de valor,

Ostentação de econômico pendor,

Pendem outras tão só do pulso à beira.

 

Poligamia a ser um tal amor de bracelete,

Ou poliandria quando o escolheu mulher,

Mas não o amor que se encontra só num par,

 

Enquanto esse brinco perdido nos afete,

Sem colar e sem pulseira a se escolher,

Porém é o único que enfim se quer achar...

 

FAZENDO DESAMOR I – 18 JUN 22

(Este poema podendo ser perturbador,

 seja discreto em sua leitura.)

 

Hoje em diz se fez coisa corriqueira

Atos de amor praticar abertamente,

Sem mais tabu contra a nudez de frente,

Logo o casal vai à cama hospitaleira.

 

Em cada filme é uma cena bem certeira,

Parece ser obrigatória a complacente

Concordância em praticar indiferente,

Sem desejo ou excitação, mesmo ligeira.

 

Pois em cada projeção da tela vês

Tal ato a praticar-se sem recato,

Maior a paga para quem melhor se orgasma.

 

Mas sendo coisa tão comum haver dublês,

Nunca se sabe o praticante de tal ato,

Na película cada qual sendo um fantasma.

 

FAZENDO DESAMOR II

 

Só se percebe ainda haver um preconceito

Contra a extensão do órgão masculino,

De preferência a aparecer bem pequenino,

Como em estátua de mármore sujeito.

 

Até parece nisso haver algo suspeito,

Que se aprecie só o inverso figurino,

Todos iguais a ser por trás nosso destino,

Será a ereção masculina algum defeito?

 

O que percebo é que a aparente liberdade

Vem se infletindo para nova ditadura,

Tornado galanteio masculino em coisa impura,

 

Mas espaço largo para a homossexualidade,

Quando o corpo feminino atrai o gosto

De quem sente aversão por seu oposto.

 

FAZENDO DESAMOR III

 

Somente três ou quatro décadas passaram,

Quando um simples beijo despertava excitação,

Só às escondidas as pessoas indo então

Assistir cenas em que o sexo filmaram.

 

Mas com a exposição se acostumaram,

Até acredito desaponto sentirão

Se não houver qualquer cena de ocasião,

Em que casais sem ter amor se amaram.

 

Não obstante, dou mil vezes preferência,

Já que este ato é a antecâmara da vida,

A quaisquer filmes que propalem violência,

 

Ou dos “defeitos especiais” a atual tendência,

A real interpretação quase esquecida,

O corpo a face a dominar em tal veemência.

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