quinta-feira, 2 de junho de 2022


 

 

ATOS DE AMOR PERDIDOS I – 28 MAI 2022

 

Blocos de Fevereiro lançados qual de obuses,

aterrissam de inopino em mês de Junho,

a lhe emprestarem o mais diverso cunho,

das manhãs manhas de verão trazendo luzes.

 

Talvez te espantes se por tais explosões cruzes,

que do verão calor gentil te comuniquem,

que dias passados da folhinha hoje se apliquem,

ferem tua mente e à surpresa então te induzes.

 

Tudo depende de um assalto da memória:

foi no verão que a vestimenta escassa

te induziu a desejar o diferente,

dando de ombros, sem buscar alvo de glória,

mas só existiu uma ocasião e quando passa

já se ofendeu e te abandona descontente.

 

ATOS DE AMOR PERDIDOS II

 

Mas a lembrança desse dia é qual morteiro

que o artilheiro esqueceu de disparar

e permanece dentro em ti, sem se apagar,

até o momento de qualquer fator brejeiro,

 

que se apresente num momento seresteiro,

poderá ser um perfume a se tragar,

um um gesto qualquer, risca de olhar,

um breve jato de um calor traiçoeiro,

 

talvez um som ou a vista de uma cor,

ou algum sabor despertando o paladar,

que então obuses fazem disparar,

momento velho a retornar com tal vigor,

que é como se voltasse a ser sentido,

junto com a mágoa do que não foi vivido.

 

ATOS DE AMOR PERDIDOS III

 

Atos do amor que poderia ter sido,

na aceitação da menor iniciativa,

trazendo à luz essa lembrança viva,

por mais que o evento tenha falecido.

 

Cada dia do ilusório mais comprido

que tantos dias de ocasião ativa,

quando dormiste nos braços dessa diva

ou sobre o peito desse homem tão querido.

 

Porque os dias de maior felicidade

se tendem a reunir como em romance,

entre capas ilustradas de bom couro,

mas se a perdeste, tal oportunidade

 vem de tocaia em memória que te alcance,

nessa saudade imaginária de um tesouro.

 

 

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