A
PATINHA DE CINDERELLA I – 18 DEZ 2022
Essa
história do Sapatinho de Cristal
de
Cinderella está muito mal contada:
por
minúscula que fosse a sua pisada,
não
seria coisa assim tão original!...
Qualquer
pré-adolescente deslavada
poderia
até se maquiar, para afinal
calçar
o sapatinho sem sentir-se mal
ou
mesmo criança a querer ser namorada
daquele
príncipe garboso e encantador,
quem
sabe mesmo alguma pobre camponesa,
que
a abóbora em sua horta cultivara!
Ainda
que a prova existisse de valor,
porque
a Gata Borralheira com certeza
o
outro pé entre suas cinzas já guardara!
A
PATINHA DE CINDERELLA II
Mas
é estranho que sobrasse esse cristal,
ao
invés de tamancos estar calçando,
os
seus farrapos afinal lhe retornando,
por
que o sapato conservaria afinal?
Algo
enganoso aqui ocorreu cabal!
Só
no sapato o encanto se guardando,
quando
o par na escadaria foi deixando,
por
que seu transformar foi só parcial?
A
pobre, afinal, nem sequer tinha um quartinho:
como
seu nome diz, vivia no borralho,
ou
seja, nas cinzas que sobravam na lareira.
Cinderella
entre cinders tinha o ninho,
essas
cinzas resultando do trabalho
que
deixara de completar a arrumadeira!
A
PATINHA DE CINDERELLA III
Deste
modo, eu sou levado a acreditar
que
esse sapato em que só seu pé cabia
não
era minúsculo como se contaria:
dezenas
de outras o poderiam calçar!
Sem
qualquer das irmãs postiças precisar,
dentro
da ânsia que tudo permitia,
tomando
faca da cozinha em sua folia,
um
dedão do pé ou o calcanhar cortar!
Não,
meus amigos, o contrário é a verdade:
Cinderella
tinha um pé monumental,
de
tamanho Cinquenta e Um ou até maior!
Nenhum
outro pé encheria em totalidade
esse
tremendíssimo sapato de cristal,
salvo
a pata de um gigantesco caçador!
OLHOS
DIASTÓLICOS I – 19 DEZ 2022
A
minha amada tem olhos castanhos,
mas
não são castos, antes blandiciosos,
contra
minha tranquilidade sediciosos,
sempre
conscientes de poderes ter tamanhos
que
meus olhos capturam das lágrimas nos banhos:
talvez
possam me afogar, são perigosos,
mesmo
que os sinta para mim bondosos,
são
altaneiros e assim me causam lanhos.
Às
vezes me lembram seus olhos pau-brasil,
com
seu leve toque sanguíneo de encarnado,
por
eles já de uma vez fui conquistado
e
ainda me prendem na tocaia mais sutil,
olhos
velados a esconder sensualidade,
por
sob as córneas de leveza e opacidade.
OLHOS
DIASTÓLICOS II
Já
muitas vezes mencionei, por certo,
a
minha loucura de neles me afogar,
mas
na realidade desejo só banhar
minhas
próprias lágrimas nesse céu aberto,
olhos
castanhos, em seu vigor deserto,
que
minha imagem também queiram afagar
sob
suas pestanas e ali me encarcerar,
afastando
meu porvir bastante incerto.
Jamais
busquei nesses olhos castidade,
mas
que seus cílios me anunciassem beijo
e
permanecessem para mim só exclusivos,
suas
comissuras nos risos mais lascivos,
olhos
de fada em sua lubricidade,
olhos
mortiços na senda de um desejo.
OLHOS
DIASTÓLICOS III
A
minha amada não tem olhos de esmeralda,
nem
sequer de topázio ou de rubi,
mas
rebrilhantes de carinho os surpreendi,
quando
me esforço por lhes galgar a falda;
em
suas pupilas o meu sonho se rescalda,
queria
tê-los confiantes sempre aqui,
não
obstante vezes que no antanho os percebi
velados
por dantesca e estranha balda.
Neles
me espelho para eventual ensejo,
mas
raramente espelham-se nos meus,
sempre
se abrindo um certo abismo de distância,
a
sua certeza a mesclar com desconfiança,
mesmo
no instante de um acirrado beijo,
segredos
tendo que serão apenas seus.
A
DIMENSÃO DA PRECE I – 20 DEZ 2022
Em
toda substância encontro Deus,
que
possa subsistir perante o sol
e
além dele nesse múltiplo farol
que
é o universo visivel para os seus,
sem
limitar-se aos perceptíveis céus,
nem
diluir-se em cada por-do-sol,
nem
se irradiar em ainda pálido arrebol,
de
seus poderes só fantasmas são os meus.
Entre
espírito e matéria não há dicotomia,
alma
e espírito sem mostrar dualidade,
a
carne e o sangue em breve sintonia,
até
o momento final do dissolver,
sobe
o invisível em sua volatilidade,
desce
o visível para à terra pertencer.
A
DIMENSÃO DA PRECE II
Mas
o Onthos está acima e muito além
de
qualquer céu que o humano imaginou,
sua
realidade jamais se consumou,
ultrapassa
o real e o imaginar também;
mas
é preciso entender-se muito bem
que
o material que alguma vez criou
e
em criação continuada conservou,
não
é em absoluto oposto ao Sumo-Bem,
porque
um Ser infinito tudo engloba,
toda
a matéria dentro Dele está,
ali
estou eu e não posso me afastar;
quem
despreza a matéria então lhe rouba
um
fragmento que do que lhe pertencerá
no
seio imenso em que buscar se abriga.
A
DIMENSÃO DA PRECE III
E
desta forma, não me julgo dividido,
qualquer
que seja o espaço-tempo relativo,
nem
por fenômeno quântico no crivo,
cada
ponto das Cordas ali abrangido,
em
nove dimensões que seja concebido,
em
qualquer pluriverso sempre ativo,
por
mais a nosso entender mostrar-se esquivo,
tudo
foi feito e está tudo concluído,
e
muito além de qualquer percepção,
tudo
o que existe células sendo siderais,
da
imensidade totalmente ilimitada,
que
nem sequer se jungiu à criação
de
um grande estrondo das forças iniciais
sem
por retorno algum ser completada.
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