RENARD E CHANTECLAIR I – 12 AGO
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Mas de outra feita, foi vencedor
um galo,
chamado Cantaclaro ou
“Chantecler”,
que de Constant Desnos e sua
mulher (*)
vinte galinhas cuidava com
regalo!...
(*) Leia “Constan Denô”.
Ora, Renard se introduziu por
valo,
por ser de caçador o seu mister;
cruzou a sebe de proteção e
dentro quer
capturar uma das aves, sem
abalo...
Porém o valo havia sido obstruído
por pilha grossa de cem cacos de
telha
e ao cruzá-lo, provocou
estardalhaço!
Entre altas couves se escondeu,
mas percebido
foi bem depressa, por uma galinha
velha,
de Chantecler a mais constante no
regaço...
Seu nome era Pintada – e foi
depressa
prevenir a Chantecler, que se
encontrava
do outro lado do terreiro, em que
ciscava...
“Chantecler, chegue aqui com toda
a pressa!”
“Ora, Pintada, deixa-me em paz,
homessa!” –
Cacarejou, com expressão muito
antiquada.
“Chantecler, uma fera está
emboscada
por entre as couves e de
espreitar não cessa!”
“Cara Pintada, estás confusa ou é
histeria!
Foi nossa sebe recentemente
consertada,
sendo impossível que seja
atravessada!...”
Mas Pintada insistiu no que dizia
e então o galo deu duas voltas no
terreiro,
ao seu ciscar retornando, bem
ligeiro...
Mas por certa inquietação foi
invadido
e bem depressa voou para a cumeeira,
a sua visão distribuindo, bem
certeira:
cada ponto do quintal sendo
atingido!
Parado num pé só, o olhar
comprido
de um olho, o outro fechado, toda
a eira
vigiando firme, mas a fera
sorrateira
também vigiava aquele galo bem
nutrido!
Em pouco tempo, Chantecler
adormeceu
e se engasgou com terrível
pesadelo:
em um saco vermelho era enfiado
e num laço pontiagudo se
prendeu!...
Da cumeeira ele saltou, no maior
zelo,
para Pintada a correr, bem
assustado!...
Rapidamente, lhe contou seu
sonho,
à sua galinha pedindo um bom
conselho...
“Mas isso é claro, Chantecler,
meu galo velho,
somente espero que seja algo
bisonho!”
“O que interpreto é fato bem
medonho:
da pele e dentes de Renard é
claro espelho,
a sua cabeça ele engole em veloz
relho,
seus dentes brancos o tal laço
assim tristonho!”
“Eu já lhe disse que ele anda por
aqui.
Acho melhor você tomar muito
cuidado!”
Chantecler pôs-se a pular por
todo lado,
mas acabou adormecendo por ali,
com um olho só, o outro ainda
aberto,
pois dentre os galos ele era o
mais esperto!
RENARD E CHANTECLAIR II
Pensando então que estivesse
adormecido,
Renard mais que depressa deu um
bote,
mas Chantecler desviou o seu
congote:
“Pensou em vão me pegar
desprevenido!”
“Meu primo-irmão, estou mesmo
surpreendido!
Nenhum mal vindo de mim será seu
lote!
Vim visitá-lo, quero escutar seu
dote,
jamais cantor melhor eu tenho
ouvido!...”
“Salvo o de Chanteclã, seu belo
pai...
Mas acredito que seu canto seja
igual!...”
E Chantecler soltou um forte
cacarejo!...
“Mas com um olho aberto, não se
vai
apreciar bem a sua potência
triunfal!...
Chanteclã fechava os dois, não é
gracejo!”
Chantecler fechou os olhos,
lisonjeado
e então Renard o seu pescoço
abocanhou!
E pelo valo da entrada se enfiou,
o pobre galo meio a meio
sufocado!...
Mas as galinhas ergueram um alto
brado
e toda a gente da granja
despertou
e até Constant Desnos se
aproximou
para saber a razão do
desagrado!...
E lhe disse Pintada: “É o
Chantecler,
que foi caçado por Renard, o
Raposão!”
E logo foram organizar perseguição,
mas daí que abrissem um portão
qualquer
Renard já era o senhor da
situação,
longe demais para agarrá-lo
então!...
Bem recordava de ter sido
enganado
pelo outro galo, que comera só
por sorte!
Chantecler era animal de grande
porte
e na corrida já ia ficando bem
cansado!
Os camponeses, com cachorros do
seu lado,
caso o agarrassem, lhe dariam
pronta morte,
mas conhecido de cada atalho o
corte,
no seu trote ainda seguiu,
desesperado!
E à distância as vozes vão
ficando,
Renard ficando já tranquilizado,
o pobre galo a perder as
esperanças,
o seu pescoço apertado,
sufocando,
sem esperar ser agora resgatado,
os dentes de Renard iguais que
lanças!
Os camponeses bem atrás, sempre a
gritar,
e os cães perderam do Raposão a
vista,
pois escolhera de um riacho a
pista...
De longe ouvia: “Ele fugiu!... Que azar!...”
E Chantecler também tentou
cacarejar;
as suas penas, uma a uma, logo
enrista,
Renard, já bem seguro da
conquista,
bem tolamente ladrou: “Fugi!...
Que azar!...
Pois de imediato soltou-se
Chantecler,
Batendo as asas para um galho
alto!
Pensou Renard: A gente morre pela boca!
Pegar o galo outra vez ainda
quer,
sem alcançar o desmedido salto...
E arrependido, retornou para sua
toca!...
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