NA
SILHUETA DOS CÍLIOS I – 12 DEZ 2022
(Ann Blyth, época do apogeu d Hollywood)
Em
teus olhos vejo as coplas de minha terra,
Acompanhadas
por tuas pálpebras de seda,
Tal
e qual se decantassem minha vereda
Nessas
milongas que meu campo encerra,
Antepassados
a enfrentar antiga guerra,
As
cozinheiras em sua tarefa queda,
O
bastidor em que o bordado enreda
As
invernadas além de cada serra.
Teus
olhos cantam para me perturbar,
As
suas coplas em tonadas inquietantes
E
mesmo calmos, de mim sendo exigentes,
Teus
olhos cálidos meu peito a dominar
Minhas
empresas, por igual constantes,
Em
sua humildade a se mostrar potentes!
NA
SILHUETA DOS CÍLIOS II
Teus
olhos cantam as coplas da tristeza,
Por
mais que eu busque te fazer feliz,
Ainda
se rasgam na rapidez de um tris,
Olhos
de espelho, reflexo de incerteza,
Mas
que em nada detraem de tua beleza,
A
inquietação com teu olhar condiz,
Sempre
avaliando a menor coisa que fiz,
Em
meus esforços sem achar nobreza,
Porque,
afinal, não sou o que esperava,
Embora
sejas tal qual eu esperei,
És
minha rainha, mas não sou seu rei,
Que
mesmo a sua alegria me cobrava,
Que
de seu canto não escrevi a partitura,
Em
seu desdém mesclado de ternura...
NA
SILHUETA DOS CÍLIOS III
Mas
os teus olhos igual refletem-me alegria,
Breves
momentos de tua complacência,
Sempre
tão raros a demonstrar leniência,
Sempre
que falha a seu julgar eu cometia,
Muito
embora eu raramente saberia
Qual
a razão real dessa impaciência,
Nem
decifrasse a sua inconsistência,
Qual
a alma por trás dela que gemia;
Acompanhar
essas tuas coplas gostaria
E
certas vezes, acerto mesmo o tom,
Mas
de outras tantas, apenas desafino;
Como
tanger tua alma eu gostaria!
Roubando
deles o mais meigo tom,
Sem
o lamento que transtorna o meu destino.
NA SILHUETA
DO ARAUTO I – 13 DEZ 22
Ainda
percebo que não chegou a hora,
Que
é necessário suportar mais adiamento,
Por
mais que seja certo o julgamento,
Eu
não o vejo cumprido nesta hora;
Meus
sonhos eu lancei no mundo a fora,
Sonhos
de mau ou de belo pensamento,
De
seu retorno eu vivo em descontento,
Apenas
vivo, sem porvir ou outrora.
E
é tão mais simples limitar-me ao vento,
Que
carrega minhas palavras em farrapos,
Sem
compromisso de nada me trazer,
Confiando
assim o meu fado em catavento,
Que
transforma meus versos em mil trapos,
A
que ninguém sequer se atreve a responder...
NA SILHUETA
DO ARAUTO II
Também
podia pedir a uma roseira,
Que
mensagem mandasse em seu perfume
Que
exala diariamente ou nesse gume
De
um espinho a transmitisse inteira,
Batendo
as pétalas vermelhas de fogueira,
Um
ramo se ergueria e sobre o cume
De
inflorescências, isento de azedume,
Levasse
minha palavra alvissareira,
As
folhas serrilhadas como um leme,
Em
sua tonalidade verde-escuro,
Que
levassem minha rosa até seus braços
E
porque apanhar flores ninguém teme,
Seu
beijo sobre a rosa, em fogo puro,
Reescreveria
minha lembrança nos seus traços.
NA SILHUETA
DO ARAUTO III
Ou
talvez possa um escaravlho azul
De
meus sonhos tornar-se o mensageiro,
Enrolará
meus versos por inteiro,
Como
faz com a bolinha em que põe ovos...
E
desse modo ainda terei de pagar mul-
ta,
por empregar tal veículo interesseiro,
Que
o besourinho irá mais que ligeiro,
Sacudindo
a mensagem nos corcovos...
Até
chegar aos pés da minha amada,
Uma
carícia fará com suas antenas
E
ela os olhos descerá sobre a mensagem,
Quiçá
então, em confusão, fique enojada
E
não lhe queira estender as mãos serenas,
Porém
esmague meu recado com seu pagem!..
NA SILHUETA
DOS CORREIOS I – 14 dez 2022
Também
posso chamar um passarinho
E
prometer-lhe alpiste por salário;
Desse
modo, meu verso perdulário
Lhe
entregarei com todo o meu carinho,
Para
que o leve na ponta do biquinho,
Mas
como confiarei, se o salafrário
Pode
picar a mensagem e ninho vário
Construir
na forquilha de um galhinho,
Para
então retornar por mais alpiste
E
quando lhe indagar pela mensagem
O
espertalhão tão somente gorjeará,
A
me pedir, no instante em que me aviste,
Mais
alimento ou fiapos de aniagem,
Com
os quais seu novo ninho forrará!...
NA SILHUETA
DOS CORREIOS II
Ou
poderei chegar-me até o aquário
E
pedir a um peixinho que lá habita
Que
transporte meu recado enquanto agita
Suas
águas remansosas sem estuário;
E
tal peixe de escamas, qual sicário,
Soltará
bolhas de ar em breve fita,
Disposto
a transportar do verso a grita
Pelos
mágicos túneis a um terrário,
Onde
achará o olhar de minha amada,
Que
então verá o peixinho voador
E
se surpreenderá com suas escamas,
Em
furtacor a rebrilhar na revoada,
Sem
sequer perceber o meu amor
Nessa
carta sem malícias nem proclamas.
NA SILHUETA
DOS CORREIOS III
Ou
finalmente peça a um raio de luar
Que
voe baixo e sobre ela adeje,
No
primeiro momento que se enseje,
Depositando
meus sonhos nesse altar,
Que
ela tome em suas mãos o verde mar,
Refletido
pela Lua e então o beije
Ou
impaciente o lance ao vento e aleije
Todo
esse afeto que lhe queria demonstrar.
E
quem estende suas mãos para esse raio
De
prata pura concretado em verso,
Ou
quem guarda o luar cerrando o punho?
Porém
nessa esperança ainda recaio,
Que
uma armadilha desse luar converso
Tinja-lhe
as palmas com meu sangue em testemunho.
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