terça-feira, 13 de dezembro de 2022


 

 

SILHUETA DE INTERCÂMBIO I – 9 DEZ 22

(Reese Witherspoon com sua filha)

 

Não desperdices amor, que é coisa rara

e de fato bem difícil de se achar,

mil sucedâneos ainda poder encontrar

de textura agridoce e mesmo amara,

mas pensar sejam amor é coisa ignara,

bem raramente é possível de se amar

o ser querido a quem se quer beijar,

bem mais que amor comprado é coisa cara.

 

Seu sucedâneo se encontra nas esquinas

ou até mesmo na saída das escolas,

tanto faz sendo amor casual ou profissão,

mas esse beijo que te darão meninas,

ou conferido quando notas enrolas,

jamais te aquece realmente o coração.

 

SILHUETA DE INTERCÂMBIO II

 

Não é somente um dom a receber,

que verdadeiro amor exige a troca,

que essa boca que tua boca toca,

não seja apenas um tato de prazer,

nem é somente teu amor a oferecer,

de certo modo, tal amor se aloca,

 mesmo nele algum desprezo que se invoca,

amor vazio em que podes te perder.

 

Porque o amor que é verdadeiro reciproca,

esse beijo que lhe dás é mais seguro,

esse beijo que te dá mais permanente;

amor só existe quando cada boca

acha no amor da outra um gosto puro,

mas saboreado em certeza redolente...

 

SILHUETA DE INTERCÂMBIO III

 

Não te iludas assim com qualquer beijo,

quem te deseja também quer te beijar,

mas sem real emoção para te dar,

só a adrenalina do hormônio do desejo

e não confies assim no leve adejo

do aroma em feromônios a flutuar,

que sobre tua testa tentarão pousar,

na transitoriedade mais simples de um ensejo.

 

Aguarda então que te desponte uma ternura,

muito maior que a sensação fugaz,

que pelas veias alcançará tua alma,

esse veneno tão potente que perdura

em cada defesa que no teu peito jaz,

que a mente agita e depois envolve em calma.

 

NA SILHUETA DA SURPRESA I – 10 DEZ 22

 

Isto acontece com frequência, na verdade,

a mãe-mulher terminar por proteger

esse homem em que buscara se acolher,

quando o assalta a decadência em falsidade,

seus sentimentos a demonstrar opacidade,

porque seu corpo já se encontra a envilecer;

nunca se espera que tal possa suceder,

mas de repente aparece em sua maldade.

 

Certo a mulher envelhece mais depressa,

parece o homem conservar sua robustez,

mas por dentro já não tem igual vigor

e quando a circulação se faz opressa,

não é mais capaz do que tanto tempo fez,

mesmo que mostre externamente igual valor.

 

NA SILHUETA DA SURPRESA II

 

Esse tipo solerte de armadilha

fica, às vezes, por décadas escondido,

mas de repente aflora, malquerido,

trôpego o passo ao longe dessa trilha;

 por certo ainda em reação perfilha,

mas a cada vez que assim foi atingido,

só recobra parte de seu vigor perdido,

faz-se mais curta a senda que palmilha.

 

As mais das vezes, sem de fato confessar

e nem querer reconhecer essa fraqueza,

que o acomete de dentro para fora,

mas a mulher acaba por notar

e mesmo a tratá-lo com delicadeza,

um ressentimento a assalta nessa hora.

 

NA SILHUETA DA SURPRESA III

 

À sua maneira, até pensa em uma traição,

mesmo que não haja prova física que o ateste,

a traição é mais sutil que se conteste,

o seu arrimo revelou-se uma ilusão;

mas se amor sobrevive, há compaixão

e por pior o ressentimento que se infeste,

não esquece esse apoio que lhe deste,

compassiva a refrear sua emoção.

 

Que mais resta a fazer para esta mãe-mulher,

senão o amor pelos filhos repartindo,

seu desapontamento a enfrentar sorrindo,

seu par contudo abandonar não quer,

mas ali está ele, que a vida foi vencer

e o amor lhe resta que um dia foi tão lindo.

 

NA SILHUETA DOS LUMINARES I – 11 DEZ 22

 

Busco as estrelas no céu, porém não brilham

quando ela sai à rua, simplesmente,

a própria Lua a se ofuscar dolente,

suas máscaras de pudor todas ensilham,

Lua Nova e Lua Cheia faces suas atrilham,

Quarto Crescente e Minguante em descontente

ocultar-se ante seu passo translucente:

do céu no escuro os mil broches se perfilham.

 

Pois embora seja tão constante o firmamento

e tão fugaz a beleza da mulher,

enquanto esta dura, parece permanente;

contudo o céu ainda aguarda seu momento,

em que a luz de seus olhos vai perder

e possa de novo brilhar sem concorrente.

 

NA SILHUETA DOS LUMINARES II

 

Mas nesse enquanto em que ela ostenta sua beleza

e sob as pálpebras faz faiscar cintilação,

ainda as estrelas do céu a invejarão,

breve honraria perante a luz de sua fraqueza,

já que a beleza da mulher em nada as lesa,

por certo um dia lhe cessará a ovulação

e a Natureza a deixará em ingratidão,

de que não mais procriar possa a ter certeza.

 

E o brilho que em seus olhos ainda se nota

é o refluxo enfraquecido do desejo,

a força da paixão que ainda reflete,

mas enquanto a formosura se desbota,

as estrelas em desdém lançam-lhe beijo,

que sua infeliz tristeza mais complete...

 

NA SILHUETA DOS LUMINARES III

 

Sempre dizem que o vestígio da beleza

se localiza no olhar de quem a vê,

não sei dizer se é verdade o que se lê,

mas é o amor que a amplia, com certeza.

Ou até mesmo o desejo, na impureza

de que além de beijos uma resposta dê,

dela uma parte a entregar-se como se

amor se ganhe em tal veloz presteza.

 

E todavia, quando olho para ti,

nem sequer para o céu ergo a cabeça

e nem fulgor sobre mim espraia a Lua;

mas o rancor que vem do alto pressenti:

que em meu amor o teu amor se aqueça,

sem que as estrelas desafies pela rua!

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