SILHUETA DE INTERCÂMBIO I – 9 DEZ
22
(Reese Witherspoon com sua filha)
Não desperdices amor, que é coisa
rara
e de fato bem difícil de se
achar,
mil sucedâneos ainda poder encontrar
de textura agridoce e mesmo
amara,
mas pensar sejam amor é coisa
ignara,
bem raramente é possível de se
amar
o ser querido a quem se quer
beijar,
bem mais que amor comprado é
coisa cara.
Seu sucedâneo se encontra nas
esquinas
ou até mesmo na saída das
escolas,
tanto faz sendo amor casual ou
profissão,
mas esse beijo que te darão meninas,
ou conferido quando notas
enrolas,
jamais te aquece realmente o
coração.
SILHUETA DE INTERCÂMBIO II
Não é somente um dom a receber,
que verdadeiro amor exige a
troca,
que essa boca que tua boca toca,
não seja apenas um tato de
prazer,
nem é somente teu amor a
oferecer,
de certo modo, tal amor se aloca,
mesmo nele algum desprezo que se invoca,
amor vazio em que podes te
perder.
Porque o amor que é verdadeiro
reciproca,
esse beijo que lhe dás é mais
seguro,
esse beijo que te dá mais
permanente;
amor só existe quando cada boca
acha no amor da outra um gosto
puro,
mas saboreado em certeza
redolente...
SILHUETA DE INTERCÂMBIO III
Não te iludas assim com qualquer
beijo,
quem te deseja também quer te
beijar,
mas sem real emoção para te dar,
só a adrenalina do hormônio do
desejo
e não confies assim no leve adejo
do aroma em feromônios a flutuar,
que sobre tua testa tentarão
pousar,
na transitoriedade mais simples
de um ensejo.
Aguarda então que te desponte uma
ternura,
muito maior que a sensação fugaz,
que pelas veias alcançará tua
alma,
esse veneno tão potente que
perdura
em cada defesa que no teu peito
jaz,
que a mente agita e depois
envolve em calma.
NA SILHUETA DA SURPRESA I – 10
DEZ 22
Isto acontece com frequência, na
verdade,
a mãe-mulher terminar por
proteger
esse homem em que buscara se
acolher,
quando o assalta a decadência em
falsidade,
seus sentimentos a demonstrar
opacidade,
porque seu corpo já se encontra a
envilecer;
nunca se espera que tal possa
suceder,
mas de repente aparece em sua maldade.
Certo a mulher envelhece mais
depressa,
parece o homem conservar sua
robustez,
mas por dentro já não tem igual
vigor
e quando a circulação se faz
opressa,
não é mais capaz do que tanto
tempo fez,
mesmo que mostre externamente
igual valor.
NA SILHUETA DA SURPRESA II
Esse tipo solerte de armadilha
fica, às vezes, por décadas
escondido,
mas de repente aflora,
malquerido,
trôpego o passo ao longe dessa
trilha;
por certo ainda em reação perfilha,
mas a cada vez que assim foi
atingido,
só recobra parte de seu vigor
perdido,
faz-se mais curta a senda que
palmilha.
As mais das vezes, sem de fato
confessar
e nem querer reconhecer essa
fraqueza,
que o acomete de dentro para
fora,
mas a mulher acaba por notar
e mesmo a tratá-lo com
delicadeza,
um ressentimento a assalta nessa
hora.
NA SILHUETA DA SURPRESA III
À sua maneira, até pensa em uma
traição,
mesmo que não haja prova física
que o ateste,
a traição é mais sutil que se
conteste,
o seu arrimo revelou-se uma
ilusão;
mas se amor sobrevive, há compaixão
e por pior o ressentimento que se
infeste,
não esquece esse apoio que lhe
deste,
compassiva a refrear sua emoção.
Que mais resta a fazer para esta
mãe-mulher,
senão o amor pelos filhos
repartindo,
seu desapontamento a enfrentar
sorrindo,
seu par contudo abandonar não
quer,
mas ali está ele, que a vida foi
vencer
e o amor lhe resta que um dia foi
tão lindo.
NA
SILHUETA DOS LUMINARES I – 11 DEZ 22
Busco
as estrelas no céu, porém não brilham
quando
ela sai à rua, simplesmente,
a
própria Lua a se ofuscar dolente,
suas
máscaras de pudor todas ensilham,
Lua
Nova e Lua Cheia faces suas atrilham,
Quarto
Crescente e Minguante em descontente
ocultar-se
ante seu passo translucente:
do
céu no escuro os mil broches se perfilham.
Pois
embora seja tão constante o firmamento
e
tão fugaz a beleza da mulher,
enquanto
esta dura, parece permanente;
contudo
o céu ainda aguarda seu momento,
em
que a luz de seus olhos vai perder
e
possa de novo brilhar sem concorrente.
NA
SILHUETA DOS LUMINARES II
Mas
nesse enquanto em que ela ostenta sua beleza
e
sob as pálpebras faz faiscar cintilação,
ainda
as estrelas do céu a invejarão,
breve
honraria perante a luz de sua fraqueza,
já
que a beleza da mulher em nada as lesa,
por
certo um dia lhe cessará a ovulação
e
a Natureza a deixará em ingratidão,
de
que não mais procriar possa a ter certeza.
E
o brilho que em seus olhos ainda se nota
é
o refluxo enfraquecido do desejo,
a
força da paixão que ainda reflete,
mas
enquanto a formosura se desbota,
as
estrelas em desdém lançam-lhe beijo,
que
sua infeliz tristeza mais complete...
NA
SILHUETA DOS LUMINARES III
Sempre
dizem que o vestígio da beleza
se
localiza no olhar de quem a vê,
não
sei dizer se é verdade o que se lê,
mas
é o amor que a amplia, com certeza.
Ou
até mesmo o desejo, na impureza
de
que além de beijos uma resposta dê,
dela
uma parte a entregar-se como se
amor
se ganhe em tal veloz presteza.
E
todavia, quando olho para ti,
nem
sequer para o céu ergo a cabeça
e
nem fulgor sobre mim espraia a Lua;
mas
o rancor que vem do alto pressenti:
que
em meu amor o teu amor se aqueça,
sem
que as estrelas desafies pela rua!
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