domingo, 11 de dezembro de 2022


 

 

HÉRCULES E DEJANIRA IX – 10 ABR 2022

(O Centauro Nessos rapta Dejanira)

 

Segundo antiga e consagrada tradição,

“Será o Touro o pai dessa Serpente,

mas a Serpente será a mãe do Touro.”

Ainda o chifre de Aquelôos arrebatado

simbolizava uma abundante geração

e o escolhido combatia o antecedente,

portando um chifre e um escudo de couro,

com os quais apenas seria o outro derrotado.

Se o antigo rei não fosse executado,

deveria então enfrentar um outro touro

ou a um guerreiro por armadura protegido,

com máscara de touro nesse cerimonial;

caso de novo vencesse, seria confirmado

por outro ano no trono de seu foro,

mas seria dado como tendo perecido,

mesmo seu nome a ser trocado no final.

Mas caso o oponente é que vencesse

e nessa luta ao antigo rei matasse,

mais uma vez celebrar-se-ia esse ritual,

desposando a rainha em um ato de magia.

Semelhante ação desde a Suméria desce,

Que a tradição babilônia conservasse:

Enkidu, de Gilgamesh o irmão mortal,

à Rainha do Céu se consagraria,

para enfrentar de modo igual oTouro Celeste,

cujos chifres prendia sob um braço

e só com o outro pela espada o mataria.

E quanto à Cornucópia da Abundância,

foi igual imposta como tarefa agreste

a Peredur, herói galês, no final traço

que sua noiva lhe conquistaria:

o Mahinogion antiquíssimo refere tal instância.

Também de Creta se recorda o Labirinto,

ao qual desce Teseu, a fim de combater

o Minotauro, cujo peito ele perfuraria

com uma parte de um fêmur mastigado,

mas que alguns imaginam que em seu cinto

também um chifre se lembrara de esconder,

talvez de bode selvagem e o empregaria

contra o Homem-Touro, que assim fora derrotado

 

HÉRCULES E DEJANIRA X – 11 ABR 2022

Isso mencionam porque anteriormente ao touro

para o bode montês fora um culto ali prestado,

como um símbolo de poderosa geração;

porém os Gregos já pensavam diferente,

que Hércules cercara o Paraquelouro,

um trecho de mar que fora açoreado

pelas águas do Aquelôos e em sua hercúlea ação,

o separara do mar completamente.

Com um par de diques, de ambos os lados,

unindo a terra a uma grande ilha,

depois tendo a água e a lama ali drenado,

formando um fértil vale no local,

em que prósperos trigais foram plantados.

Destes feitos de engenharia há grande trilha

atribuída ao herói tão celebrado,

certa verdade ali se achando no final.

Mas quanto à dita pretensão do deus do rio,

não passava de invenção e prepotência,

que o Oráculo prescrevera sacrifícios

a Aquelois, a local deusa da lua,

cujo nome, interpretado no seu brio,

significa “a que mostra leniência

e a dor afasta por seus bons ofícios.”

Com a semelhante de nome o rio se atua.

A tentativa de Nessos para raptar

Dejanira é à de Eurytion semelhante,

outro centauro que a Hipodâmia pretendeu

e que foi morto, durante a tentativa,

por Teseu, que era costume se considerar

em Atenas, como igual herói vibrante,

que a Hércules na Ática sucedeu,

numa ideia sincrética e algo esquiva.

Também com os Sátiros foram equiparados

esses Centauros, tendo apenas pés de bode

e não as quatro patas de cavalos;

novamente está aqui a reminiscência

do antigo culto aos caprinos, celebrados

antes que melhor comparação se acode,

quando os Helenos os trouxeram de seus valos,

os equinos a demonstrar maior potência.

 

HÉRCULES E DEJANIRA XI – 12 ABR 2022

 

Mas foram Gregos que o costume introduziram,

nas festividades de seus casamentos,

de um intruso já esperado aparecer,

para a noiva roubar de seu marido,

que sempre os noivos afastá-lo conseguiram.

Aristófanes empregou como instrumentos

tais invasores em comédias a escrever,

antagonista para ser sempre vencido.

A sua intromissão se considerava natural,

Nessos e Eurytion tal costume simbolizaram;

o próprio Enkidu procurou interromper

de seu irmão Gilgamesh o esponsório,

ao celebrar seu matrimônio triunfal

com a Deusa-Lua de Erech, quando digladiaram

de maneira simbólica, sem de fato pretender

roubar a esposa de seu irmão em ato inglório.

Algo de parecido por igual ocorreu,

quando Andrômeda foi casar-se com Perseu,

quando um certo Agenor tentou a boda impedir.

Contudo Nessos era mal intencionado,

raptar Dejanira realmente pretendeu

e não o conseguindo, veneno então lhe deu,

para que a Hércules conseguisse destruir,

foi muito mais que um espetáculo encenado.

Da Sardenha os primeiros habitantes,

no Neolítico da Libya haviam chegado

e para os montes seus sobreviventes

se retiraram.  Já os Cartagineses

foram derrotados pelas pragas constantes

da malária, um destino partilhado

por Cretenses e Judeus e até os potentes

Romanos, que a abandonaram várias vezes.

A consequência do episódio do veneno

irá constar de um episódio posterior.

Por muitos anos Dejanira o reservou,

enquanto de Hércules os filhos geraria.

Só depois que o marido de um pequeno

ato de infidelidade se revelou o autor,

é que ela em sua roupa o derramou,

terrível ato de que jamais se perdoaria.

 

FONTES: Diodoro Sículo, Apolodoro, Baquílides,

Sófocles, Ovídio, Macróbio, Tzetzes, Higino, Píndaro,

Lactâncio, Pausânias, apud Robert Graves

 

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