quarta-feira, 7 de dezembro de 2022


 

COSTURAS DO DESLUMBRE I – 3 DEZ 2022

 (Bette Davis e Sylvia Sydney, começos de Hollywood)


Não tenho dúvidas de que existe bruxaria,

pois certamente fui também enfeitiçado,

meu coração já percebi mesmerizado,

sem entender exatamente o que eu sentia.

 

Quando te embruxam, jamais se saberia

que algo em teu querer fora travado,

o cérebro em hipnotismo dominado,

todo envolvido em sua hipnagogia.

 

Bem claro está que explicações se encontra,

que são fulgurações de uma beleza,

a face amada vibrante e glamorosa,

mas nessa inermidade se demonstra

a mais plena certeza da incerteza,

quer seja por amante ou por esposa.

 

COSTURAS DO DESLUMBRE II

 

A palavra ”glamor” chegou do inglês,

mais assombroso o seu significado,

um glamour sendo nos campos encontrado,

em encruzilhada de solitária grês.

 

Foi cortada a letra “u” em português,

em Hollywood se tornou mais abrandado,

alguém tivera o seu cérebro encantado,

nesse sentido nos romances é que o lês.

 

Mas o glamour da lenda era cruel,

não só queria a tua mente dominar,

mas retirar de teu peito o coração,

para guardá-lo em um sedoso saquitel,

para à total obediência te forçar,

em um domínio caprichoso e sem razão.

 

COSTURAS DO DESLUMBRE III

 

Mas se o ser amado é que te rouba o coração,

pretende o seu em troca te ofertar,

há um intercâmbio sem nem se combinar,

cartas viradas no baralho da ilusão.

 

Nem sempre existe fantasia na emoção,

de que um bruxedo sobre ti se vá aplicar,

não é de fato que te queira fascinar,

mas só exclusiva tornar a tua paixão.

 

Por isso tanta foi chamada feiticeira,

em geral por qualquer outra despeitada,

pelo marido de sua posse abandonada,

mas sendo bela, a meiga companheira,

a tua mente em seus cabelos é enrolada

e de tua alma toma a posse intresseira!

 

COSTURAS DO RETORNO I – 4 DEZ 22

 

Eu hoje não lembrei de lamentar

qualquer tristeza ou amor de meu passado,

alguma dor ou gemer já desgastado,

por que as angústias deveria recordar?

 

Não há razão para ao antanho retornar,

por mais que seja de fato obstinado,

cada momento feliz posto de lado,

em ondas súbitas a vir-nos perturbar.

 

No cerebelo a arder como feridas,

cada lembrança infeliz uma pontada,

mas as memórias felizes complacentes,

dos sentidos do presente já excluídas,

enquanto dói de novo e é ampliada

a humilhação dos momentos mais pungentes.

 

COSTURAS DO RETORNO II

 

Contudo hoje nem lembrei de lamentar,

mas simplesmente vivi a hora presente,

em que o espanto diário se pressente,

cada instante fugaz a saborear.

 

Na aceitação do hedonismo milenar

se me acomete qualquer mágoa mais ardente,

será do encanto de meu dia consequente,

não é hedônica, mas a devemos aceitar.

 

Bem mais comum que o bem foi sempre o mal,

sem os pequenos confortos se lembrar,

mas que o revistas de transitoriedade,

tal como sempre o faz cada animal,

sem que ao futuro o possas projetar,

qual se aninhasse por toda a eternidade.

 

COSTURAS DO RETORNO III

 

Mas não basta só no presente conviver,

nem recordar ideais desfeitos do passado,

nem do futuro se temer o seu pecado,

basta o fantasma do presente combater.

 

Importa é como se empregar saber

estas horas em que o dia é deslizado,

inexoravelmente sendo descartado,

até que chegue da noite o seu poder.

 

Dentro de nós formou-se acervo inesgotável,

cujas lições nos devem amparar

para escolher qual será o nosso porvir,

a decidir como alienar o imponderável,

cujos percalços teremos de alisar,

sem na esperança nos deixarmos iludir.

 

COSTURAS DO TRANSGREDIR I – 5 DES 2022

 

É tão diverso o mundo deste agora!

Na adolescência recordo-me que o sexo

era reprimido, sem motivo ou nexo,

teias tecendo, não obstante, nesse embora.

 

Quando afirmava a mãe ou outra senhora

que nunca a jovem ceder devia ao amplexo,

que o amor físico ao casamento estava anexo

e se perdesse a virgindade, sem demora

 

o namorado se acharia satisfeito

e bem depressa dela se afastaria:

se ele a teve, qualquer outro a ter podia;

somente grávida a ter algum direito

de exigir desse amante o casamento,

sob ameaça de seu encarceramento!

 

COSTURAS DO TRANSGREDIR II

 

E certamente armadilhas vi formadas,

nos laços desse amor ilicitado,

quando o desejo era fortuito consumado,

tais intenções quase ou nada disfarçadas.

 

Ou realizações finais a ser adiadas,

ferozes beijos em amor entrelaçado,

talvez o seio permitissem ser beijado,

mas a cintura e para baixo indevassadas.

 

Contudo nem sempre se buscava matrimônio,

havia a intenção de contemplar desejo,

interrompida por temor à gravidez,

até que enfim, dizem por artes do demônio,

os anticoncepcionais venceram o pejo

e a fantasmatórica mudança então se fez.

 

COSTURAS DO TRANSGREDIR III

 

Pois certamente toda a sexualidade

depende as mais das vezes da mulher

e pouco importa quanto o homem quer,

não ocorre nada sem consensualidade.

 

Salvo em eventos de maior iniquidade,

se em violência emprega o seu poder,

mas raramente isso chegava a acontecer,

havia o medo de tal responsabilidade.

 

Mas após pílulas e a excitação constante

da literatura, no teatro e no cinema,

nas praias a se expor quase a nudez,

bem mais comum ocorre o abraço delirante,

os carinhos mais ousados sem condena

e a casualidade qual um padrão se fez.

 

COSTURAS DO TRANSGREDIR IV

 

Contudo eu leio nos jornais a reação,

na Indonésia todo o sexo proibido,

salvo aquele no matrimônio concluído,

penalidades contra a sua execução.

 

No Ocidente hoje frequente a aceitação

de ato sexual que não era consentido,

por códigos penais antigamente reprimido,

casamentos homossexuais hoje tendo permissão.

 

Porém na Rússia recente publicaram

contra LGBT+ alguns rígidos decretos,

que certamente são no Iran já condenados

e pouco importa se os casais se amaram

ou seus carinhos só troquem bem discretos,

tornam-se crimes sem mais serem pecados!

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