COSTURAS DO DESLUMBRE I – 3 DEZ 2022
Não tenho dúvidas de que existe bruxaria,
pois certamente fui também enfeitiçado,
meu coração já percebi mesmerizado,
sem entender exatamente o que eu sentia.
Quando te embruxam,
jamais se saberia
que algo em teu querer fora travado,
o cérebro em hipnotismo dominado,
todo envolvido em sua hipnagogia.
Bem claro está que explicações se encontra,
que são fulgurações de uma beleza,
a face amada vibrante e glamorosa,
mas nessa inermidade se demonstra
a mais plena certeza da incerteza,
quer seja por amante ou por esposa.
COSTURAS DO DESLUMBRE II
A palavra ”glamor” chegou do
inglês,
mais assombroso o seu
significado,
um glamour sendo nos campos
encontrado,
em encruzilhada de solitária
grês.
Foi cortada a letra “u” em
português,
em Hollywood se tornou mais
abrandado,
alguém tivera o seu cérebro encantado,
nesse sentido nos romances é
que o lês.
Mas o glamour da lenda era
cruel,
não só queria a tua mente
dominar,
mas retirar de teu peito o
coração,
para guardá-lo em um sedoso
saquitel,
para à total obediência te
forçar,
em um domínio caprichoso e sem
razão.
COSTURAS DO DESLUMBRE III
Mas se o ser amado é que te rouba o coração,
pretende o seu em troca te
ofertar,
há um intercâmbio sem nem se
combinar,
cartas viradas no baralho da
ilusão.
Nem sempre existe fantasia na
emoção,
de que um bruxedo sobre ti se
vá aplicar,
não é de fato que te queira fascinar,
mas só exclusiva tornar a tua
paixão.
Por isso tanta foi chamada
feiticeira,
em geral por qualquer outra
despeitada,
pelo marido de sua posse
abandonada,
mas sendo bela, a meiga
companheira,
a tua mente em seus cabelos é
enrolada
e de tua alma toma a posse intresseira!
COSTURAS DO RETORNO I – 4 DEZ 22
Eu hoje não lembrei de lamentar
qualquer tristeza ou amor de meu passado,
alguma dor ou gemer já desgastado,
por que as angústias deveria recordar?
Não há razão para ao antanho retornar,
por mais que seja de fato obstinado,
cada momento feliz posto de lado,
em ondas súbitas a vir-nos perturbar.
No cerebelo a arder como feridas,
cada lembrança infeliz uma pontada,
mas as memórias felizes complacentes,
dos sentidos do presente já excluídas,
enquanto dói de novo e é ampliada
a humilhação dos momentos mais pungentes.
COSTURAS DO RETORNO II
Contudo hoje nem lembrei de
lamentar,
mas simplesmente vivi a hora
presente,
em que o espanto diário se
pressente,
cada instante fugaz a saborear.
Na aceitação do hedonismo
milenar
se me acomete qualquer mágoa mais ardente,
será do encanto de meu dia
consequente,
não é hedônica, mas a devemos
aceitar.
Bem mais comum que o bem foi
sempre o mal,
sem os pequenos confortos se
lembrar,
mas que o revistas de transitoriedade,
tal como sempre o faz cada
animal,
sem que ao futuro o possas projetar,
qual se aninhasse por toda a
eternidade.
COSTURAS DO RETORNO III
Mas não basta só no presente
conviver,
nem recordar ideais desfeitos
do passado,
nem do futuro se temer o seu
pecado,
basta o fantasma do presente
combater.
Importa é como se empregar saber
estas horas em que o dia é
deslizado,
inexoravelmente sendo
descartado,
até que chegue da noite o seu
poder.
Dentro de nós formou-se acervo
inesgotável,
cujas lições nos devem amparar
para escolher qual será o nosso
porvir,
a decidir como alienar o
imponderável,
cujos percalços teremos de
alisar,
sem na esperança nos deixarmos
iludir.
COSTURAS DO TRANSGREDIR I – 5 DES 2022
É tão diverso o mundo deste agora!
Na adolescência recordo-me que o sexo
era reprimido, sem motivo ou nexo,
teias tecendo, não obstante, nesse embora.
Quando afirmava a mãe ou outra senhora
que nunca a jovem ceder devia ao amplexo,
que o amor físico ao casamento estava anexo
e se perdesse a virgindade, sem demora
o namorado se acharia satisfeito
e bem depressa dela se afastaria:
se ele a teve, qualquer outro a ter podia;
somente grávida a ter algum direito
de exigir desse amante o casamento,
sob ameaça de seu encarceramento!
COSTURAS DO TRANSGREDIR II
E certamente armadilhas vi formadas,
nos laços desse amor ilicitado,
quando o desejo era fortuito
consumado,
tais intenções quase ou nada
disfarçadas.
Ou realizações finais a ser
adiadas,
ferozes beijos em amor
entrelaçado,
talvez o seio permitissem ser
beijado,
mas a cintura e para baixo
indevassadas.
Contudo nem sempre se buscava
matrimônio,
havia a intenção de contemplar
desejo,
interrompida por temor à
gravidez,
até que enfim, dizem por artes
do demônio,
os anticoncepcionais venceram o
pejo
e a fantasmatórica mudança
então se fez.
COSTURAS DO TRANSGREDIR III
Pois certamente toda a
sexualidade
depende as mais das vezes da
mulher
e pouco importa quanto o homem
quer,
não ocorre nada sem
consensualidade.
Salvo em eventos de maior
iniquidade,
se em violência emprega o seu
poder,
mas raramente isso chegava a
acontecer,
havia o medo de tal
responsabilidade.
Mas após pílulas e a excitação
constante
da literatura, no teatro e no
cinema,
nas praias a se expor quase a
nudez,
bem mais comum ocorre o abraço
delirante,
os carinhos mais ousados sem
condena
e a casualidade qual um padrão
se fez.
COSTURAS DO TRANSGREDIR IV
Contudo eu leio nos jornais a
reação,
na Indonésia todo o sexo
proibido,
salvo aquele no matrimônio
concluído,
penalidades contra a sua
execução.
No Ocidente hoje frequente a
aceitação
de ato sexual que não era
consentido,
por códigos penais antigamente
reprimido,
casamentos homossexuais hoje tendo permissão.
Porém na Rússia recente
publicaram
contra LGBT+ alguns rígidos
decretos,
que certamente são no Iran já
condenados
e pouco importa se os casais se
amaram
ou seus carinhos só troquem bem
discretos,
tornam-se crimes sem mais serem
pecados!
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