quinta-feira, 8 de dezembro de 2022


 

 

SILHUETA DE FLOR I – 6 DEZ 2022

(Rita Hayworth, a "Gilda" imortal)

 

Quando ela dorme, seu ressonar escuto,

após o amor, tranquilo e satisfeito,

de seus carinhos percebo-me sujeito,

do dia olvidado qualquer percalço bruto,

cada novelo de mal desfiado em luto

e assim a vejo quando a seu lado deito,

meu corpo movo e contra o seu ajeito,

em amor sua posse o tomou de modo arguto.

 

E então seguiu deitada do meu lado,

quantas vezes aqui deitou-se no passado,

sem de sua escolha jamais se arrepender,

porém se acaso o fez, nunca me disse,

suas narinas arfam e tal qual agora risse,

a comissura de seus lábios quase ergueu...

 

SILHUETA DE FLOR II

 

Em sua nudez vejo perfeita calma,

cada curva de seu corpo um paraíso

e assim me envolvo nas dobras do sorriso

e sua nudez é o manto de minhalma

e então a sinto qual sedutora palma

de tamareira, cujos frutos mais preciso,

dorme a meu lado em caprichoso inciso

e por meus olhos penetra dentro dalma.

 

Meu corpo satisfeito, mas a mente

não se cansa de desvendar a sua nudez

e seu sorriso repleto de confiança

e assim no cérebro se instala permanente,

em amor perfeito depois que amor se fez,

que em mim rebrota qual doce aliança.

 

SILHUETA DE FLOR III

 

Não saberia dizer, caso adormeça,

se minha nudez contemplaria assim,

com seus lábios macios como jasmim,

com os seus olhos em que amor não cessa,

duvido um pouco, mesmo, que aconteça,

há sempre um cálculo em seu querer, enfim,

que me conserve fiel a seu jardim,

sem colher casual flor que me apeteça.

 

Mas pouco importa, com ela estou agora

e de seu ventre rebrota a sua mornura,

que em mim desperta um gosto primoroso,

mas é o momento de repouso nesta hora

e sua nudez contemplo em minha ternura,

somente nalma o orgasmo mais precioso!

 

SILHUETA DE GERAÇÃO I – 7 DEZEMBRO 2022

 

Quero em teus braços gozar amor carnal,

na segurança que contigo encontro,

essa confiança insistente que demonstro,

muito mais que no êxtase sensual,

eu quero amor além do bem e do mal,

na suavidade violeta do recontro,

quando se afasta do medo qualquer monstro,

resta a certea inserida no sexual.

 

Se assim não fora, por que essa maravilha,

quando o auge é atingido loucamente,

quando o clímax se experimenta mais potente,

nessas concêntricas ondas da virilha,

armadilha biológica de esperança,

que nos convoca a gerar outra criança!

 

SILHUETA DE GERAÇÃO II

 

Quero enfiar um tubinho vaginal,

tenho certeza de estar em ovulação

e garantir desta forma a gestação,

de um ser humano ser porto e fanal,

que não me escorra teu fluido seminal,

sem se perder qual resíduo de paixão,

mas que penetre até meu coração,

nova vida compartilhando em dom carnal.

 

Prazer real é o da concepção,

quando se sabe cumprida essa função

para a qual nos preparou a natureza,

por isso o orgasmo criou a biologia,

do parto as dores esquecendo com certeza,

enquanto a morte com emoção se desafia!

 

SILHUETA DE GERAÇÃO III

 

Tão forte a inclinação para o desejo

que com frequência a gentileza desafia,

por isso tanta vez se atreveria,

sem ter qualquer amor, cumprir o beijo,

por isso a facilidade desse ensejo

com desconhecido que a alma não queria,

mas que o ventre agita em tal folia,

numa troca de deeneá sem qualquer pejo.

 

Amor casual ao longo do caminho,

hoje se faz qual tambor é percutido,

nesse descaso por qualquer amparo,

mas só de fato é no seguro do carinho

que se anseia por futuro concebido,

quando esse amor final se faz mais caro!

 

SILHUETA DE VIAGEM I – 8 DEZ 22

 

Não deixarei de palmilhar o meu caminho,

por mais que a Lua desafie minha jornada,

por mais que o Sol, fervente luz dourada,

me queime os ombros com ardor de espinho,

por mais que na vereda ande sozinho,

por mais que siga a marcha para o nada,

por mais que a terra me pareça desolada,

por mais que saiba não me trará carinho,

por mais que o verde nas margens emurcheça,

por mais que a palha seja desarraigada,

por mais que o vento a espalhe qual moinha,

por mais que ao vale mais profundo o passo desça,

por mais que a bênção pareça ser negada,

por mais que a morte venha e seja minha!...

 

SILHUETA DE VIAGEM II

 

O meu caminho consiste em minha vida,

se não o sigo, eu mesmo não serei,

se não o busco, passo alheio seguirei,

se não o trilho, desgastarei minha lida,

se não caminho por tal senda escolhida,

se a solidão diante dela eu temerei,

se a armadilha do futuro alcançarei,

se a dor nos pés crescer-me qual ferida,

se dessa forma for a certeza esmaecida,

se nesse senda encontrar percalços mil,

se a noite inteira não possa dormir,

se minha quimera tenha sido destruída,

se a recompensa seja apenas vil,

esse meu velho caminho hei de seguir!

 

SILHUETA DE VIAGEM III

 

Nnhum outro caminho será o meu,

para não ser assim submergido,

para não ser na alma desnutrido

para subterfúgio que traiçoeiro me venceu,

para a armadilha que não me submeteu,

para a insistência dominar nesse sentido,

para que o caminho sempre reto tenha sido,

para que o corpo sofra os dias que sofreu,

para que ao túmulo não seja conduzido,

para um lugar estreito de jazigo,

para que possa dormir junto à minha estrada,

para não ser meu pendor jamais traído,

para em encontro não ceder ao inimigo,

que enfim eu morra por minha própria espada!

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