SILHUETA DE FLOR I – 6 DEZ 2022
(Rita Hayworth, a "Gilda" imortal)
Quando ela dorme, seu ressonar
escuto,
após o amor, tranquilo e
satisfeito,
de seus carinhos percebo-me
sujeito,
do dia olvidado qualquer percalço
bruto,
cada novelo de mal desfiado em
luto
e assim a vejo quando a seu lado
deito,
meu corpo movo e contra o seu
ajeito,
em amor sua posse o tomou de modo
arguto.
E então seguiu deitada do meu
lado,
quantas vezes aqui deitou-se no
passado,
sem de sua escolha jamais se
arrepender,
porém se acaso o fez, nunca me
disse,
suas narinas arfam e tal qual agora
risse,
a comissura de seus lábios quase
ergueu...
SILHUETA DE FLOR II
Em sua nudez vejo perfeita calma,
cada curva de seu corpo um
paraíso
e assim me envolvo nas dobras do
sorriso
e sua nudez é o manto de minhalma
e então a sinto qual sedutora
palma
de tamareira, cujos frutos mais
preciso,
dorme a meu lado em caprichoso
inciso
e por meus olhos penetra dentro
dalma.
Meu corpo satisfeito, mas a mente
não se cansa de desvendar a sua
nudez
e seu sorriso repleto de
confiança
e assim no cérebro se instala
permanente,
em amor perfeito depois que amor
se fez,
que em mim rebrota qual doce
aliança.
SILHUETA DE FLOR III
Não saberia dizer, caso adormeça,
se minha nudez contemplaria
assim,
com seus lábios macios como
jasmim,
com os seus olhos em que amor não
cessa,
duvido um pouco, mesmo, que
aconteça,
há sempre um cálculo em seu
querer, enfim,
que me conserve fiel a seu
jardim,
sem colher casual flor que me
apeteça.
Mas pouco importa, com ela estou
agora
e de seu ventre rebrota a sua
mornura,
que em mim desperta um gosto
primoroso,
mas é o momento de repouso nesta
hora
e sua nudez contemplo em minha
ternura,
somente nalma o orgasmo mais
precioso!
SILHUETA DE GERAÇÃO I – 7 DEZEMBRO
2022
Quero em teus braços gozar amor
carnal,
na segurança que contigo
encontro,
essa confiança insistente que
demonstro,
muito mais que no êxtase sensual,
eu quero amor além do bem e do
mal,
na suavidade violeta do recontro,
quando se afasta do medo qualquer
monstro,
resta a certea inserida no
sexual.
Se assim não fora, por que essa
maravilha,
quando o auge é atingido
loucamente,
quando o clímax se experimenta
mais potente,
nessas concêntricas ondas da
virilha,
armadilha biológica de esperança,
que nos convoca a gerar outra
criança!
SILHUETA DE GERAÇÃO II
Quero enfiar um tubinho vaginal,
tenho certeza de estar em
ovulação
e garantir desta forma a
gestação,
de um ser humano ser porto e
fanal,
que não me escorra teu fluido
seminal,
sem se perder qual resíduo de
paixão,
mas que penetre até meu coração,
nova vida compartilhando em dom
carnal.
Prazer real é o da concepção,
quando se sabe cumprida essa
função
para a qual nos preparou a
natureza,
por isso o orgasmo criou a
biologia,
do parto as dores esquecendo com
certeza,
enquanto a morte com emoção se
desafia!
SILHUETA DE GERAÇÃO III
Tão forte a inclinação para o
desejo
que com frequência a gentileza
desafia,
por isso tanta vez se atreveria,
sem ter qualquer amor, cumprir o
beijo,
por isso a facilidade desse
ensejo
com desconhecido que a alma não
queria,
mas que o ventre agita em tal
folia,
numa troca de deeneá sem qualquer
pejo.
Amor casual ao longo do caminho,
hoje se faz qual tambor é
percutido,
nesse descaso por qualquer
amparo,
mas só de fato é no seguro do
carinho
que se anseia por futuro
concebido,
quando esse amor final se faz
mais caro!
SILHUETA DE VIAGEM I – 8 DEZ 22
Não deixarei de palmilhar o meu
caminho,
por mais que a Lua desafie minha
jornada,
por mais que o Sol, fervente luz
dourada,
me queime os ombros com ardor de
espinho,
por mais que na vereda ande
sozinho,
por mais que siga a marcha para o
nada,
por mais que a terra me pareça
desolada,
por mais que saiba não me trará
carinho,
por mais que o verde nas margens
emurcheça,
por mais que a palha seja
desarraigada,
por mais que o vento a espalhe
qual moinha,
por mais que ao vale mais
profundo o passo desça,
por mais que a bênção pareça ser
negada,
por mais que a morte venha e seja
minha!...
SILHUETA DE VIAGEM II
O meu caminho consiste em minha
vida,
se não o sigo, eu mesmo não
serei,
se não o busco, passo alheio
seguirei,
se não o trilho, desgastarei
minha lida,
se não caminho por tal senda
escolhida,
se a solidão diante dela eu
temerei,
se a armadilha do futuro
alcançarei,
se a dor nos pés crescer-me qual
ferida,
se dessa forma for a certeza
esmaecida,
se nesse senda encontrar
percalços mil,
se a noite inteira não possa
dormir,
se minha quimera tenha sido
destruída,
se a recompensa seja apenas vil,
esse meu velho caminho hei de
seguir!
SILHUETA DE VIAGEM III
Nnhum outro caminho será o meu,
para não ser assim submergido,
para não ser na alma desnutrido
para subterfúgio que traiçoeiro
me venceu,
para a armadilha que não me
submeteu,
para a insistência dominar nesse
sentido,
para que o caminho sempre reto
tenha sido,
para que o corpo sofra os dias
que sofreu,
para que ao túmulo não seja
conduzido,
para um lugar estreito de jazigo,
para que possa dormir junto à
minha estrada,
para não ser meu pendor jamais
traído,
para em encontro não ceder ao
inimigo,
que enfim eu morra por minha
própria espada!
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