A APOTEOSE DE
HÉRCULES VII – 10 junho 2022
Sofrera o pano
tão rápida combustão
que em
instantes já se fizera em poeira!
E mesmo as
pedras desse calçamento
estavam sendo
em parte corroídas,
com uma fumaça
vermelha em brotação!
Mandou um
correio na urgência mais certeira,
atrás de
Likas, para avisá-lo do portento,
grande
distância entre as duas bigas!...
Dejanira sua
ingenuidade amaldiçoou,
morresse
Hércules, morrer também jurou!
O correio, porém, chegou tarde demais,
Hércules já envergara a túnica maldita,
até o momento sem causar efeito algum;
ele já havia sacrificado doze touros,
com o pelo imaculado, ofertas
sacrificiais,
em agradecimento por vitória tao bonita
e no conjunto, não poupara nenhum
dos cem animais a marchar para desdouros,
mas então tomou uma tigela de vinho
e incenso custoso, que aspergiu
devagarinho.
Sobre o altar,
parecendo tudo bem,
mas de
repente, soltou rápido grito,
como se uma
cobra o tivesse mordido,
que o calor do
altar enfim havia derretido
o sangue da
Hidra, que misturara também
ao próprio
sangue o centauro, com o fito
de se vingar
após por ele ser ferido,
para impedir o
seu delito pretendido;
e o veneno por
todo o corpo se espalhou,
em fogo e lava
as suas veias dominou!
Logo a dor se
tornara insuportável:
da influência
da túnica o herói suspeitou
e em desespero
de seu corpo a arrancou,
mas era tarde
demais, pois se grudara
em sua pele de
forma inabalável!...
Cada farrapo
que de si retirou,
largo pedaço
de sua carne levou,
expondo os
ossos de forma ignara:
seu sangue
começara já a chiar
e pelas veias
fervia sem parar!
A APOTEOSE DE
HÉRCULES VIII – 11 junho 2022
Tal qual a
água, quando nela se mergulha
uma espada, no
fragor da ferraria;
o infeliz
Hércules se lançou diretamente
no mais
próximo regato que encontrou,
mas com o
veneno a própria água borbulha,
que até o
presente ainda quente restaria,
sendo chamada
de Termópilas fervente,
o “riacho
quente”, em que mais tarde ocorreria
a batalha que
Leônidas com os Persas travaria!
Então Hércules pôs-se a correr pela
montanha,
arrancando árvores ao longo do caminho,
até encontrar Likas, que horrorizado,
se havia entre rochas escondido;
em vão Likas tentou fugir-lhe à sanha,
gemendo escusas por seu ato mesquinho,
na inocência de ter o veneno transportado;
Hércules as pedras arremessou, mesmo
ferido
e ergueu Likas no alto, além de sua
cabeça,
três voltas dando em violenta pressa!
Logo a seguir,
contra o mar o arrojou,
onde os deuses
dele se apiedaram
e o
transformaram em grande penhasco,
com aparência de
cabeça e corpo humanos;
cada marujo
que por ali depois passou
lançou
oferendas e ao rochedo chamaram
de Likas,
mostrando sempre o maior asco,
porque
acreditam que está vivo e sofre danos
e até então
ainda sofria e só alcançava
algum alívio
se de sangue humano se molhava!
O exército
todo de longe a observar,
em alta voz a
emitir lamentações,
mas ninguém se
atrevia, em seu horror
a chegar perto
do infeliz guerreiro!
A retorcer-se
em agonia foi Hércules chamar
seu filho
Hylos, que sob as proteções
de panos
grossos, afastando seu temor
de se queimar
ao tocar seu corpo inteiro,
o colocou
sobre um carro de boi,
que até o
Monte Eta, já na Trácia, foi.
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